A janela da pele envelhecida é uma flor que plantamos, mas que não assumimos a capacidade para aceitar
que as pessoas vão morrendo ou concordar que nos vão deixando. A persiana torna-se cada vez mais fechada sem sequer dar a possibilidade de subir um bocadinho mais para cima, nem que fosse essa uma última possibilidade, e que o sol entrasse na mesma altura, cedo. Que pelo menos ele permanecesse no
mesmo lugar para sempre, intocável, tatuado na terra, e no mesmo ponto onde nasceu. Sabemos
que é assim, ele será o único a fica por cá quando já não existirem pessoas e o pó das cinzas já nem tampouco lhe sentir o poder da magia. Quando tivermos a consciência de que estamos a conjugar o verbo partir vamos sentir uma bomba de tristeza que se vai depositar em todos os nossos espaços. Toda essa realidade que a vida nos despeja sem qualquer tipo de preparação, torna-se numa nuvem que não nos deixa esquecer, que nos lembra todos os dias que há o adeus e o seu plural. Que ele se deposita no coração para ganhar raízes mais profundas do que o mais fundo de todos e tudo isso é uma onda que provoca dores em todos os ângulos da existência, como se não houvesse salvo. Talvez, por não haver. E, aquele ponto mais ínfimo no universo, como se deixasse de existir a poesia, como se tudo fosse de tal ordem enorme, será um corpo mais exíguo ainda, um ponto final, daquele que não lhe conseguimos mudar o formato. Podia ser uma forma de nos afastarmos do medo, mas quando a certeza é um estado da vida, somos inundados pelo desassossego, onde se deposita o frio e o coração se torna o silêncio. Deixamos de ouvir o seu batimento.
A dor entra em nós
Fica alojada por mais de um segundo
A cor é mais pequena no mundo
Perde-se a visão de um lugar bonito
Fica-se preso ao medo
O planeta torna-se azedo
A vida revela o segredo
A praia acomoda um arvoredo
Sente-se o frio
Mora um arrepio
A alma deixa de respirar
Parte-se para um lugar
Onde não há mais o ar
Ou flores para acalmar