Miúda de um Planeta diferente

O movimento dos pássaros

Encontra-se dentro de um retrato o estacionamento de um encontro mágico e poderoso quando a memória esquece a sua magia, um sorriso delonga a nossa existência e ficamos pendurados numa nuvem de algodão a querer encontrar esse caminho de volta, querendo entrar no lume das estrelas. Mas neste começo de cartas trocadas com o tempo, há uma descoberta repleta de um segredo no coração, depositando sentimentos no nosso lugar presente e, como se fosse inseguro, seguramos o medo e abraçamos estrelas maiores no céu. Não há volta, o tempo foge das nossas mãos, não há muito tempo, mesmo com tempo não há tempo, é tudo um segundo, um momento frágil que irrompe a nossa existência, como se fôssemos pouco. Tão pouquinho. Tão nada. Um espelho partido está à nossa frente e reflete imensos traços com pontos desencontrados. A forma como assusta quando se quebra aquilo que construímos numa vida deixa marcas, mesmo que depois a cinza seja a nossa partícula. Um pedaço de nós. Da nossa existência. De tudo o que existiu. Somos um jardim com cheiro a primavera constante, onde só entra o que queremos, onde só deixamos ficar quem respira connosco, onde não há lugar para o incerto, onde não trocamos o que queremos pelo infiel. Somos uma flor que quer florir mesmo quando não é regada, somos uma pétala com espaço para voar, mesmo que o nosso voo seja sozinho. Queremos ser e viver, queremos ter e partilhar. Desfiando palavras na esperança de que o coração permita ganhar asas para entrar num sonho do avesso e conseguir um gesto em forma de luz opaca até ao farol, atormentando o sossego do céu e das estrelas, onde dançaríamos o ano inteiro, partindo para todos os caminhos que existem no mundo. Mas somos frágeis e somos um livro aberto sobre a cama interrompido por um aceno triste desesperado a encontrar o cheiro do alecrim. No meu peito rebenta a respiração trazida pelo lugar da memória que veste o aconchego palpitante onde a noite cerra a maresia e arranca a falésia de um lugar parecido, mas nunca igual. Alguém chama por mim à janela, era aquele som, aquele som repleto de cor, mas sem o ouvir na sua forma exata onde as aves partem para o sul e as cinzas ficam a cobrir o chão pisado noutrora. O cheiro de algo que findou e que deixa uma saudade que faz tornar inquieta a nossa impressão luminosa. Como se a luz já não demorasse interna, como se a surda vegetação da sombra se tornasse reflexo e um gomo amargo nos consumisse para sempre. Ainda assim, qualquer vento entra para falar do perfume da nossa alma para escrever num outro lugar, o lugar presente, aquele em que podemos ter sempre a lua. Dispo-me agora e vou dormir sobre o jardim. Lá fora tudo acontece, mas é cá dentro que o canto do vento guarda melodias com cheiro a flores secas de lavanda no vaso junto da janela.  

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