A janela estava aberta e o sol não tirou férias naquela manhã de domingo, não havia a pressa, tudo contava como se escutássemos os passarinhos a cantar, estava tudo marcado pela simples forma das coisas serem e acontecerem, como se nos falassem de uma história de amor verbalizada e escrita no ar, ouvida ao ritmo do bater do coração. Eu, sentada no sofá, comigo mesma, a deixar que o momento não fosse interrompido com a despedida triste e com ânsia de chegar perto, perto não sei bem de onde, perto não sei bem do quê, mas chegar, chegar perto, peguei numa flor a pensar em ti, e ainda que fosse apenas um filme raro a acontecer diante de mim, roubei-a da terra, comecei a sentir-lhe o cheiro a laranjas, a mergulhar na sua forma e, nesse soluçar de emoção que não me continha, construiu-se a definição de começo da vida, onde ela borbulha a sua energia com força e poder mágico. Encontrava-me por ali a pesquisar sobre o assunto, simplesmente a entrar no universo das suas arestas e pétalas deixadas aglomeradas à cor do céu. A nuvem e o espaço da sua poesia encontraram versos e depois os poemas. Acho que me deixei abraçar e dei-lhe o meu colo, o meu nome e o meu ser, como se me estivesse a chamar. Não hesitei. Que beleza a cor desta viagem, em alguns momentos, leio-me a alma. Como se fosse eu com a caneta a dar forma às palavras, pouco sei daqui, e das suas melodias, mas confesso, é como entrar num espaço distinto, num lugar que apazigua o espírito. Não sei qual foi a intenção do universo, talvez quisesse a minha cor preferida, a que trazes quando chegas. Ainda no mesmo ponto recebi uma chamada da Bianca e do Dinis a convidaram-me para um jantar, levei-lhes uma garrafa de vinho e aquela flor sentida em mim. Sentada na mesa de madeira e cadeiras da mesma natureza, com um jardim envolvente de exuberância, e uma pequena fonte de água quente em que podíamos mergulhar os pés, entre frutos e plantações, percebi que aquela flor abençoada não me pertencia. Então deixei que ficasse ali, a gerar o amor daqueles dois, desprendia-a de mim, entreguei-lhes e fiquei afundada num estudo dos céus e das estrelas, onde permaneço. Sinto-me cheia de tudo, e ainda assim, sinto-me cheia de tudo o que me faz sentir falta. Aquela flor barrou-me o coração de manteiga em pequenas tostinhas de pão integral e eu escolhi ter por perto pessoas que iluminam, inspiram, com amor no coração e energia positiva.
Trouxeste aquela flor com a luz mais bonita, que se derreteu em mim, encorajou-me e, apesar dos meus sonhos esgotarem o mundo, eles também são os teus. De alguma forma tu contas a minha história. Pode-mos fazer e sentir diferente, sentir a chuva e ficar com frio, mas bem dentro, será sempre um reco- meço. O jardim terá sempre flores raras que jamais nas- cem sem terra molhada. E. A alma. Uma necessidade de ficar ensopada para que se renasça, num manto dum vento, e de uma brisa quente. Aquela flor que colhi nunca me deixará partir.
Era manhã de sol
Colhi-te do lugar
Dei-te asas para voar
Respirei o mundo
Pertenci-te por um segundo
Criei uma canção
Pintei a emoção
Fiz do teu jardim
Casa para o meu coração