Ser imigrante é começar do zero, mas ter uma bagagem repleta de nostalgia. É enfrentar diariamente uma nova realidade, em que uma simples ida à padaria pode tornar-se um desafio cultural e linguístico. É aprender na prática e sem medo. É ter saudades do aconchego de casa, do clima da própria terra e até da rotina. É dar valor às pequenas coisas e sentir bater forte o coração ao reconhecer algo do seu povo, da sua cultura. Ser imigrante é viver à flor da pele. Sabendo desta realidade, trazemos uma boa notícia: este mês, o Parque da Ponte veste-se de verde e amarelo para que os brasileiros possam matar as saudades de casa e os portugueses possam conhecer mais do seu país irmão!
Um sonho antigo. Organizar a versão bracarense de um evento que existe em todo o mundo sempre esteve nos planos de Alexandra Gomide, Presidente da Associação luso-brasileira União, Apoio e Integração (UAI). A organização, que há um ano auxilia a integração de brasileiros e portugueses, viu nesta festa uma oportunidade de aproximar os mais de 30 mil brasileiros residentes no distrito e divulgar um Brasil desconhecido. “Como o Dia do Brasil acontece por todo o mundo, achamos que a comunidade brasileira em Braga merecia um evento desta proporção. Queremos trazer o Brasil além do samba e Rio de Janeiro, mostrar que o país vai além disto”, explica a ex-professora universitária, que dedica o seu tempo a eventos que visam a interculturalidade. Um exemplo deste trabalho é o “ArraUAI”, um evento junino realizado pela associação que mistura tradições brasileiras e portuguesas e recebeu cerca de 3 mil visitantes na sua última edição.
Em todo o mundo, o Dia do Brasil, ou “Brazilian Day”, acontece em setembro, mês em que se celebra a Independência do país. A grande festa em Nova York – onde artistas brasileiros se apresentam aos conterrâneos – inspirou outros imigrantes por todo o mundo a formarem eventos semelhantes, em que o Brasil se torna o elo que une pessoas dos mais variados estilos e classes. Porém, o aspecto diferenciador do I Dia do Brasil em Braga é o caráter social. “O lado emocional e solidário é muito forte. Percebo que os outros sejam eventos comerciais. Os cantores são pagos, as apresentações são pagas… O nosso não, ele é todo construído por pessoas que querem fazer a festa, viver o evento, e entendem que isso é importante para nossa cultura, para o nosso povo”, diz Alexandra, e acrescenta que têm barracas grandes, com estrutura de eventos, apesar de a UAI, como Associação, não ter fechado o espaço a ninguém. “Ou seja, teremos barracas de todos os tamanhos. Não somos uma empresa de eventos, tudo é com o propósito de integração”, explica.
As atividades do I Dia do Brasil são as mais variadas. O evento atraiu expositores de todo o país, interessados em colaborar com o evento. Na gastronomia, barracas divididas por estado facilitam o conhecimento e exploração da variedade de sabores que o Brasil possui. As artes serão representadas pelo artesanato, onde artesãos de todo o país terão as suas obras expostas. A cultura é repleta de apresentações de ritmos menos conhecidos pelos portugueses, como maculelê, frevo, carimbó e maracatu, além de aulões para que o público possa interagir com os ritmos mais difundidos, como o samba, o sertanejo e a arte marcial da capoeira. A associação procura alternativas para tornar o evento singular e, pelo ânimo dos participantes, parece que o I Dia do Brasil será inesquecível. “O pessoal está vestindo a camisa, abraçando a ideia. Eu chego a arrepiar, pois sinto a emoção deles. As baianas estarão vestidas de forma característica. O churrasco será o típico gaúcho, com os gaúchos tradicionais mesmo! Está sendo um desafio, mas conseguimos tudo isto. Formamos os grupos de dança, juntamos bailarinos, eles fizeram as roupas… houve a disposição das pessoas em investir e porquê? Porque era desejo de todo mundo apresentar a sua cultura. Você percebe o orgulho”, conta Alexandra, com os olhos marejados pela lembrança do esforço e colaboração de todos os participantes e voluntários da UAI, dispostos a mostrar o que o Brasil tem de melhor.
E os eventos não param por aqui! A agenda anual da UAI será lançada neste mês e o II Dia do Brasil já faz parte dos planos. Apesar de a data ainda ser segredo, é visível o entusiasmo da associação em manter as festas e, por consequência, a integração. “Percebemos que, para o próximo ano, a tendência é o evento estar mais completo e preparado. Este ano estamos utilizando o que temos aqui. Visualmente pode ser mais pobre, mas a emoção e a entrega das pessoas é espetacular”, conta a presidente, que adianta também outras iniciativas. “Temos o projeto de artesanato e vamos lançar o grupo folclórico da UAI. Será um momento de integração, uma vez por semana, para curtir e brincar um pouco com os nossos ritmos e, de certa forma, preparar para o dia do Brasil do ano que vem”, complementa Alexandra.
Além dos eventos realizados para toda a comunidade luso-brasileira, a associação UAI conta com um espaço físico de acolhimento, apoio e aconselhamento, onde ajuda portugueses e brasileiros em questões como adaptação pedagógica, questões jurídicas, psicológicas, empresariais e imobiliárias. Os sócios têm direito a participar em cursos profissionalizantes e de línguas, além de descontos exclusivos com parceiros da associação. O grupo também possui uma rede de negócios aberta aos empresários da região. Este novo semestre traz muitas novidades e uma equipa administrativa renovada, disposta a expandir a ação da UAI e colaborar com associações vizinhas. Uma ótima oportunidade para integrar e colaborar com uma Braga mais intercultural!
CONHEÇA ESTES RITMOS…
Maculelê
Maculelê é um tipo de dança folclórica brasileira de origem afro-brasileira e indígena. Na sua origem, o maculelê foi uma arte marcial armada, que nos dias de hoje se preserva na simulação de uma luta tribal usando como arma dois bastões, chamados de grimas (esgrimas). Quando os dançarinos possuem maior conhecimento da dança, ousam até mesmo utilizar facões, a criar um belo efeito visual pelas faíscas que saem a cada golpe! A origem do maculelê tem diversas lendas, mas ambas coincidem na vitória de Maculelê, um homem debilitado que derrota sozinho uma tribo inimiga utilizando dois bastões de madeira. Considerado herói, tem o seu estilo único de combate eternizado.
Frevo
O frevo é um ritmo musical e dança brasileira com origem no estado de Pernambuco. Nascido no fim do século XIX, o frevo caracteriza-se pelo ritmo extremamente acelerado. Criação de compositores de música ligeira, o frevo foi feito para o Carnaval com o objetivo de proporcionar mais animação nos blocos e é composto por coreografias acrobáticas com movimentos soltos. A dança possui vários estilos, como o frevo de rua, frevo-canção e o frevo de bloco. A palavra frevo vem de ferver, que faz referência à agitação, confusão e efervescência em reuniões de grande massa popular, algo muito comum no carnaval brasileiro. Os praticantes desfilam pela cidade em blocos e são um espetáculo à parte nos dias de folia. Foi declarado Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO no ano de 2012, sob a designação “Frevo: Arte do Espetáculo do Carnaval do Recife”.
Carimbó
O Carimbó é um ritmo musical amazónico de origem indígena, típico da região norte do país. Criado no século XVII no estado do Pará, tem influências africanas e portuguesas, como a percussão, a sensualidade, as palmas e o sopro. O nome Carimbó é oriundo de um tambor artesanal utilizado nesse estilo musical, chamado “Curimbó”. Também é conhecido como “pau e corda”, “samba de roda do Marajó” e “baião típico de Marajó”. Devido à extensão do território paraense, inicialmente o carimbó desmembrou-se em três variações: o carimbó praieiro, o carimbó pastoril e o carimbó rural. A dança tem passos miúdos e forma de dança de roda, com pares dançantes, mas sem haver contacto do cavalheiro com a dama. Apresenta uma coreografia, seguindo uma tradição indígena, na qual os dançarinos imitam elementos da fauna amazónica. Tornou-se Património Cultural Imaterial do Brasil em 2014.