Há coisas que ninguém nos diz sobre a gravidez, que não se aprendem nos livros e que o nosso obstetra desconhece. Conceber é muito mais que só conceber, é criar e construir do zero um ser que será nosso sem nunca o ser. É lindo e maravilhoso, um dom, e é assim que devemos senti-lo, ou pelo menos é isso que nos dizem…
Mas, e tudo o resto que não nos dizem? As hormonas que nos lixam o humor e nos deixam em altas, ou em baixas, numa fração de segundo. A incoerência entre o que sentimos e o que devemos sentir, a culpa e o medo. Culpa por não estarmos ainda nesse estado de euforia constante que nos descrevem. Devemos sentir-nos assoberbadas pela barriga que cresce e devemos orgulhar-nos dos kilos que nunca mais vamos perder, das estrias, dos peitos descaídos e da queda de cabelo no pós-parto. “Faz parte”, ouvimos, como se por fazer parte devêssemos agradecer tudo aquilo que de estranho se passa no nosso corpo.
Existem, claro, aqueles momentos mágicos, quando ouvimos o seu coração pela primeira vez, quando sentimos um pontapé e percebemos que dentro de nós está algo com vida, com alma.
E depois há tudo o resto, a barriga descontrolada, os sons impróprios que nos saem não sabemos bem de onde, mas normalmente surgem quando estamos acompanhadas por uma multidão em silêncio, o desejo incontrolável de comer um cachorro quente do Ikea às três da manhã, o sono naquela reunião das nove da manhã, a baba durante esse sono, a falta de ar quando estamos deitadas de costas, a falta de posição quando já só conseguimos dormir de pé, as insónias, a falta de equilibrio, o andar de patinha gorda. Podia continuar a lista e tantas e mais outras inconfidências sobre a gravidez, afinal já vou na quarta, já sou considerada uma perita nestes assuntos. E acreditem não há uma gravidez igual. Mas há um sentimento que vou ter de descrever como igual e, no entanto, sem igual! Aquele preciso momento em que seguramos o nosso bébé nos braços, em que o nosso corpo ainda treme do esforço e a adrenalina ainda está ali, na nossa pele, esse momento é muito mais do que sonhamos e supera tudo o que alguma vez pudemos imaginar. É esse momento que nunca vamos esquecer. Por muito terrível que seja a gravidez e o parto, é ali que queremos estar quando ficamos grávidas novamente, quando passamos por tudo outra vez, é com esse cheiro e choro que sonhamos acordadas nas noites de insónia e é com essa memória que os vemos crescer, serem pais e mães.
É também esse o único segredo e motivo pelo qual nunca nenhuma mulher te diz que não gosta da gravidez, porque não há joelhos inchados ou dores nas costas que te façam esquecer o dia em que finalmente conheces o teu filho pela primeira vez.
Sofia Franco
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