É crença popular que dá sorte ir ver o mar no primeiro dia do ano, e eu, confesso, um dos grandes prazeres que tenho é mesmo ir ver o mar sempre que posso. Esta é, se quisermos, a paixão de alguém que viveu na Figueira da Foz e, depois, dez anos na ilha de São Miguel, nos Açores, onde o mar está omnipresente. Por isso, ir ver o mar é algo que acontece, não só no primeiro dia do ano, mas sempre que posso e tenho disponibilidade, até porque, associado ao litoral, temos um
património civil e religioso de enorme valor.

Exemplo disso, é o Forte de S. João Baptista, na cidade de Vila do Conde que, segundo os investigadores, poderá ter sido edificado em 1570, sendo certo que, em 1573 ele já estava construído.

Para o arqueólogo Pedro Brochado de Almeida, esta fortificação terá sido mesmo construída em 1570 uma vez que, na época do Cardeal D. Henrique é feita uma expedição de onde resulta a seleção de três locais para a construção de fortificações no Norte de Portugal, que são nomeadamente a foz do rio Douro, a foz do rio Ave e a foz do rio Lima.

Não existe documentação conhecida onde seja justificada a escolha de cada um destes locais. «Mas, se cruzarmos esta informação com a informação das alfândegas, isto é, o volume das transações feitas por cada uma das alfândegas desde o Porto à foz do rio Minho, percebe-se que existem três alfândegas que têm um movimento de navios e uma capacidade económica que as distingue de todas as outras. São elas a do Porto, a de Vila do Conde e a de Viana do Castelo», sustenta
Pedro Brochado de Almeida.

No caso concreto de Vila do Conde acresce ainda o facto de ali se encontrarem os estaleiros navais, de onde saiu uma boa parte dos navios que participaram na epopeia dos descobrimentos, e que era preciso preservar e resguardar dos perigos.

Assim, para Pedro Brochado de Almeida, é legítimo deduzir-se que, se este é um projeto nascido de uma viagem onde se definem três locais para construção, é natural que haja também coincidência no que diz respeito ao ano do início das obras.

«Sabemos que o forte no Porto está em construção em 1570 e que o de Viana também está em construção em 1570. Em Vila do Conde sabemos, pela documentação, que as obras estão a decorrer em 1573. Mas, é muito provável que, apesar de não haver nada que nos diga, que a data de 1570 seja também válida para Vila do Conde», defende.

Assim, por esta ordem de ideias, teríamos no Norte de Portugal três fortalezas irmãs, que nasceram no mesmo projeto e que terão sido iniciadas ao mesmo tempo.

Para além disso, é preciso também ter em conta o próprio documento datado de 1573 que fala do Forte de S. João Baptista de Vila do Conde.

Num artigo intitulado “O Forte de S. João Baptista de Vila do Conde – Um longo processo de obras”, publicado nas “Actas dos Encontros Património de Vila do Conde”, Pedro Brochado de Almeida realça que o primeiro documento que refere claramente este monumento é uma deliberação camarária datada de 13 de Agosto de 1573 e nela se verifica que as obras já estavam em andamento.

Outra polémica diz respeito ao autor do projeto da fortaleza. Uma das hipóteses levantadas aponta para Tommaso Benedetto. Contudo, afirma Pedro Brochado de Almeida, este italiano só veio a Vila do Conde por volta de 1590 para ver a barra. Assim, na opinião do investigador, a hipótese mais provável será Simão de Ruão, que bebeu os seus conhecimentos na escola italiana e que era considerado capaz de executar o plano desta fortificação. É ele quem lidera a expedição ao Norte para definir os locais de construção das fortificações e o seu nome está associado às obras do forte no Porto, cujo vedor era o mesmo em Vila do Conde.

Hoje, visitar a Fortaleza de São João Baptista, em Vila do Conde, é recuar no tempo e, ao mesmo tempo, usufruir do mar e das ondas que batem mesmo em frente a este monumento que pertence à história da defesa nacional. Nesta visita, não deixe de ver no Forte de S. João Baptista de Vila do Conde a estrutura que, na opinião dos investigadores, servia para colocar um facho, cuja função seria, como os atuais faróis, ajudar as embarcações na navegação costeira.