Opinião

Pausa

Corria o ano de 2016 quando percebi que tinha um medo maior do que qualquer outro, fosse ele o escuro, ratinhos ou alturas: fazer “figura de parva”. Acredito que seja um medo transversal a todos nós. Sentirmo-nos ridículos pode materializar-se de várias formas, mas, de todas elas, falar em público é das que acredito –dentro das trivialidades do dia a dia – que mais sofrimento cause, por todos os sentimentos que nos assolam pela possibilidade de correr mal. A ideia de um holofote sobre nós, possível despreparo e uma plateia atónita pela nossa eventual idiotice é apanágio dos nossos pesadelos mais vívidos. Não necessariamente pelo que temos para dizer, mas pela nossa inabilidade em entregar a mensagem pretendida e a entropia gerada por barreiras emocionais e de desempenho que causam as ditas “brancas”, os suores frios, o pensamento turvo, os gestos descoordenados, a redundância, os “aaahhhm” e as pausas que parecem durar uma eternidade.

Nas artes, como na vida, a repetição é o que nos torna mais capazes. Falar em público é uma arte que precisa de ser repetida até que o conforto se instale ou que o desconforto cesse. Qualquer um dos cenários nos  permite entregar a mensagem pretendida com uma disrupção reduzida que nos torna melhores comunicadores. Aumenta o foco na mensagem e menos no mensageiro, forçando a tomada de responsabilidade na comunicação ao trocar o “não sei se me estão a entender” pelo “não sei se me faço entender”.

Se tiver de identificar um dos pontos de viragem na minha jornada para me tornar melhor comunicadora, um deles foi definitivamente a pausa. Aquela que nos pode fazer sentir desconfortáveis e que parece durar uma vida. Durante um discurso em público, a pausa tem um valor expressivo muito forte: seja para absorver o riso de uma piada, o impacto de uma frase de efeito ou uma interação com o público. A pausa permite atrair todas as atenções para nós. Prende, suspende, surpreende. Com o tempo e o feedback necessários, aprendi a fazer da pausa uma aliada do discurso, ao invés de ser um catalisador de desconforto, nervosismo e eventual disruptor de uma mensagem… mas não o fiz sozinha.

Quando me apercebi deste medo tão irracional de falar em público, que me separava do meu objetivo de dar uma formação a um grupo alargado de pessoas, decidi procurar os Toastmasters. O José Cunha, um dos veteranos do Braga Toastmasters, veio entregar-me o seu feedback depois de um dos meus primeiros discursos preparados no clube. Deixou-me este conselho (e outros) que guardo com muito carinho e que levo não só para a oratória como para a vida: saber fazer pausas e aproveitar o meu tempo. Parar, absorver e deixar absorver. Com este exercício percebi também que, se tiver de fazer a tal “figura de parva”, seja para arrancar uma gargalhada ao público ou parar para voltar mais e melhor, que seja. No discurso como na vida, é preciso saber fazer a pausa.

Boa rentrée!

Carolina Figueiras,

Gestora de projetos e membro do Braga Toastmasters

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