O verão está aí e, para uma grande maioria, isto é sinónimo de férias que, este ano, por causa da pandemia, terão um sabor um pouco diferente.
É sabido que o receio leva-nos a ter todas as precauções, seguindo as indicações da Direção Geral da Saúde. A máscara já faz parte dos nossos acessórios do dia a dia, o álcool gel também não pode faltar, e o distanciamento social já é um hábito que ninguém leva a mal.
Mas, também por causa da pandemia, há outras coisas que vão ser diferentes este verão. Estou convencido que muitos, habituados a rumar até ao Sul, à procura de águas mais quentes, terão os seus planos alterados, escolhendo, provavelmente, destinos mais próximos.
Ora, Vila do Conde, aqui tão perto, tem praias de grande beleza e que podem ser uma excelente proposta para uns dias de férias. Contudo, como em todo o país, este ano temos a condicionante da lotação das praias para obedecer ao distanciamento social. E, se por acaso, quando chegar à praia em Vila do Conde, encontrar a bandeira a indicar que já não cabe mais ninguém, não fique triste porque aqui há património para ver e que vale mesmo a pena conhecer.
Ali mesmo junto à foz do Rio Ave, numa superfície rochosa, vizinha do Forte de S. João Baptista, pode conhecer a capela de Nossa Senhora da Guia, que é o edifício religioso mais antigo de Vila do Conde. Segundo contam os historiadores, esta capela já existia antes de 1059 e há mesmo quem defenda que a sua construção remonta, pelo menos a 953.
Parece que esta capela de Nossa Senhora da Guia teve um orago diferente no seu início, seria dedicada a São Gião ou São Julião. Aliás, os estudos afirmam que seria um pequeno fortim, para defender a foz do rio Ave, e que a capela podia ser um oratório dos príncipes fundadores do Mosteiro de Santa Clara.
Nos dias de hoje, visitar esta capela é obrigatório para quem vai a Vila do Conde, mesmo que a praia não esteja com lotação esgotada. Os altares mais antigos são os que estão na nave Sul, sendo ambos dedicados a Nossa Senhora da Guia.
Para apreciar uma das grandes riquezas deste templo tem de olhar para cima. São os caixotões que se encontram no teto da capela. As pinturas que os enfeitam têm retratadas cenas bíblicas ou figuras de santos e foram restauradas há alguns anos.
Não se sabe quem terá sido o autor, mas os investigadores elogiam o grande conhecimento das narrações bíblicas de quem pintou estes caixotões. Tendo em conta a documentação histórica, o livro de Despesas e Receitas de 1722 dá conta de uma despesa com 25 quadros no teto. Não menos importante são os azulejos que enfeitam esta capela, sendo os da parede Sul os mais antigos, mais concretamente do século XVII, e os da capela-mor, de fabrico coimbrão, do século XVIII.
É importante também referir que, intimamente ligada a esta capela está a Confraria de Nossa Senhora da Guia, uma das mais antigas da Arquidiocese de Braga. Para além de cuidar deste património, às vezes ameaçado pelas ondas do mar, cabe-lhe a organização anual das festas no último domingo de janeiro, que atraem fiéis das Caxinas, de Matosinhos e, naturalmente, de Vila do Conde. A parte religiosa da festa é sempre no dia 2 de fevereiro, com a bênção do mar. Na procissão, o andor mais pesado é o de Nossa Senhora da Bonança, sendo necessários 24 homens para o levar.
Feita a visita à capela de Nossa Senhora da Guia, basta sair até ao adro murado para ver se já há lugar na praia, tal a proximidade. Se não estiver muita gente, chegar à linha de água é num instante. Caso contrário, não faltam nesta zona propostas gastronómicas para todos os gostos, que vão ajudar a passar mais um bocadinho de tempo. Boas férias!
José Carlos Ferreira
Jornalista