Roteiros

Roteiros pelo Património (Póvoa de Varzim)

Julho é, para muitas pessoas, o mês preferido de férias, para fugir aos aglomerados de agosto, quando uma boa parte da população decide tirar algumas semanas para descansar.

E, quando falamos de férias, é impossível dissociar, pelo menos, alguns dias de praia, para retemperar forças e desfrutar de uns bons banhos nas ondas do Atlântico.

Para isso, há quem rume para o sul, para desfrutar de água mais quente, mas há também quem não prescinda das nossas praias do norte, com águas um pouco mais frias, mas com muitas outras vantagens para a saúde. Mas, para além das águas frias, por vezes, as praias do norte têm fenómenos meteorológicos que desanimam e até convidam a não ir à praia ou a regressar mais cedo a casa… Estou a falar do nevoeiro matinal associado a algum desconforto térmico e às típicas nortadas que começam a meio da tarde e que, sem um corta-vento, tornam a praia desagradável.

Se isso acontecer, não dê o seu tempo por perdido e pense que, a par da praia, há imensas coisas que pode fazer, sendo que uma delas poder ser visitar o património do local onde se encontra.
Olhando para o nosso litoral, a praia da Póvoa de Varzim costuma ser um dos destinos de excelência pelas inúmeras possibilidades de atividades que podem ser feitas, para além de ir à praia. Há quem vá às compras nas ruas mais abrigadas do vento, há quem pratique desporto, há quem aprecie os bons lanches a meio da tarde. Eu, sinceramente, aprecio muito a marginal atlântica entre a Póvoa de Varzim e Vila do Conde.

É nessa marginal, que muitos aproveitam para andar a pé, correr ou andar de bicicleta, que se encontra uma das mais bonitas da região e, provavelmente, a mais singular do país. Estamos a falar da igreja de Nossa Senhora da Lapa. E dizemos mais singular porque, não sei se já reparou, esta deverá ser uma das únicas, ou mesmo a única, igreja que tem um farol na sua estrutura. Segundo conta a história, a igreja de Nossa Senhora da Lapa foi construída no local onde existiu anteriormente um facho que ajudava os pescadores a entrar com segurança com os seus barcos na enseada da Póvoa de Varzim.

A igreja, que deverá ser em Portugal o único templo a possuir um farol, tem ainda a característica de ter sido edificada especificamente para servir a Confraria da Senhora da Lapa, que estava sediada na ermida de S. Roque, e viria depois a tornar-se na actual Real Irmandade de Nossa Senhora da Assunção.

A devoção a Nossa Senhora da Lapa nasceu em meados do século XVIII na capela de São Roque, conhecida por igreja de Santiago, situada no topo leste da rua da Junqueira, pela devoção dos padres apostólicos, fundados em Portugal por Frei Manuel das Chagas, e dirigidos na Póvoa de Varzim pelo cónego da Sé de São Paulo, o padre Ângelo de Siqueira.

Ora, ao que consta, os pescadores não descansaram enquanto não construíram um templo a Nossa Senhora da Lapa em lugar onde os olhos de Maria vissem tanto a saída com a entrada da barra. Assim, a licença para a construção desta igreja foi concedida a 4 de dezembro de 1770, a primeira pedra lançada a 9 de dezembro des- se mesmo ano, e inaugurada e benzida a 15 de agosto de 1772. Apesar de ter sido solenemente benzida nesse ano, esta igreja inteiramente construída pelos pescadores do sul da Póvoa de Varzim continuou em obras até 1864, ficando com o aspeto arquitetónico que conhecemos agora.

Para além do valor patrimonial que este templo possui e que vale a pena visitar, aqui há uma memória imaterial que é recordada todos os dias do ano. Na igreja de Nossa Senhora da Lapa recordam-se diariamente os pescadores que faleceram a 27 de Fevereiro de 1892, naquela que foi considerada a maior tragédia marítima da Póvoa de Varzim. Segundo os relatos da época, ao todo morreram afogados perto da praia 105 pescadores, dos quais 70 da Póvoa de Varzim e 35 da Afurada.

Quem passa na avenida marginal e olha para a igreja da Lapa não fica indiferente ao painel de azulejos onde se evoca a tragédia. Ali se pede a quem passa para que reze um Pai Nosso e uma Avé Maria pelas almas desses pobres pescadores que perderam a vida. A Real Irmandade de Nossa Senhora da Assunção, que em tempos foi composta apenas por pescadores, também não se esquece desse triste acontecimento, assinalando anualmente, a 27 de Fevereiro, o dia da tragédia com a celebração da eucaristia em memória e pela alma dos companheiros desaparecidos.

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