Conto

Capítulos X e XI

Capítulo X

O café

A chamada chegou em modo vibratório pelas 17h após dois meses de desassossego e questões. O telemóvel estava numa área reservada, Camila estava em reunião, ficando sem acesso ao telemóvel durante pelo menos duas horas. Após verificar a chamada não atendida de um contacto desconhecido, retribuiu a mesma. 

– Estou?! 

– Camila? É o Gonçalo. Desculpa só agora dizer-te alguma coisa, mas tenho estado ocupado com alguns projetos. Eu sei que não sabes, mas sou arquiteto e tenho estado envolvido numa série de coisas. Não estou a usar isto como desculpa, mas isso retira-me algum tempo. 

– Bem, confesso que fiquei um pouco reticente sobre tudo, achei que pudesse estar a ser invasiva.
A realidade é que não sabemos nada um do outro, e até parece uma loucura. Mas não posso deixar de ficar surpresa com a tua chamada, e com alguma felicidade à mistura. 

– Podemos marcar um café em breve? 

– Gostava muito! 

– Continuamos a conversa por mensagens, pode ser? Ainda me encontro pelo escritório e preciso de concluir aqui um assunto. 

– Sim, sem problema. 

– Então, até já. 

– Até já.  

Ambos desligaram e sem beijinhos oferecidos. “Oh, acho triste nenhum ter tomado essa iniciativa dos beijinhos. Oh … porquê?”. Voz borboleta ao tempo que não te manifestavas! Também gostava que, pelo menos um deles, tivesse dito “Um beijinho!”, mas repara, eles iam continuar a conversa por mensagens. “Ainda assim! Estou envolvida com estes dois, quero mais desenvolvimentos, quero saber como tudo vai terminar. Não podes ir mais depressinha?!”.

Camila ficou uns minutos completamente estupefata com o que acabara de acontecer. Tinha seguido com a sua vida, a sua rotina, sem colocar todas as suas energias em Gonçalo. A verdade é que uma chamada perdida era só uma chamada perdida, como tantas que já lhe chegaram, não pensou no imediato que poderia ser Gonçalo. Porém, quando se descobriu na situação que tanto desejava, ganhou asas e voou dentro de um sonho cor de rosa. 

 

Capítulo XI

O dia do café

O dia nasceu com uma luz bonita do sol, não chovia e tudo parecia tranquilo e bonito demais. Um dia que marcava o café de Camila e de Gonçalo.  

A pausa de almoço, pelas 14h na avenida dos Aliados, no Porto, onde ambos trabalhavam, teria corações a flutuar pela cidade. Piroso, sim, mas o que Camila sentia era demasiado para não acrescentar nada de dissemelhante ao coração, ao que se imagina, ao que se mistura com a realidade. Camila, de tão nervosa que se encontrava, chegou meia hora mais cedo. Sentou-se na esplanada, não pediu nada. As mãos batiam na mesa, o seu corpo mexia-se mesmo parado, a sua cabeça estava a afogar-se com pensamentos, movia a bolsa, organizou umas faturas da carteira e tudo o que tinha na bolsa, mais do que uma vez. O tempo ia passando, tic tac tic tac, e nada de Gonçalo. “Passam só vinte minutos da hora agendada, há muito trânsito no Porto, há atrasos que são incontroláveis. Não vamos enlouquecer, Camila!”. Eram estes os pensamentos que a voz Borboleta tentava intersetar nos outros pensamentos de Camila. Enfim. Vamos aguardar, ele há de chegar. “Já são 14h30min, onde andará aquele caramelo?!”  

O relógio marcava 15h e Camila não podia esperar mais. A sua pausa já ia com alguns minutos a mais e não se podia demorar. Tomou o café e regressou ao trabalho. A tarde estava completamente preenchida com livros de novos autores para avaliar. 

No final do dia a viagem de regresso a casa ficou repleta de um vazio completo, o seu coração estava pequeno demais para conseguir sorrir. Manteve-se firme, acreditando que alguma coisa poderia ter acontecido, que mais tarde ou mais cedo, Gonçalo iria justificar-se. De cinco em cinco minutos Camila pegava no telemóvel, não fosse uma chamada ou uma mensagem chegar sem dar conta. Mas nada. Nada trazia uma luz diferente ao dia que acabou cinzento e gélido. 

Naquela noite, Camila não teve forças para mais, chegou a casa, descalçou os sapatos, e adormeceu em lágrimas no sofá até ao dia seguinte. 

(a próxima edição continuará a acrescentar confettis de amor a esta história) 

Juliana Gomes, escritora
E-mail:
[email protected]
Instagram: @juli_ana_juli

       

1 Comentário

  • António Eugénio Pando

    E o amor vagueando
    pelos” mais de 365 dias por ti” ,
    a que o leitor e ou letora da revista, absorve
    cada episódio, e desde logo, ansiosamente fica aguardando
    o próximo e os que se lhe seguirem!
    A escritora descreve de tal forma as situações surgidas
    nos capítulos, que parece ser ela mesmo a vivê-las.
    Talento e inspiração, qualidades por lá vertidas!
    Parabéns ilustre escritora Juliana Carneiro Gomes!
    Beijinhos deste seu FÃ!
    28 10 2019

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