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© Ana Marques Pinheiro
Sem Treta

Mário Cláudio: “É nos cinzentos que se encontra muitas vezes a verdade”

Uma vida de constantes reinvenções, um imaginário inesgotável e um projeto de vida resumido em 50 anos de obras literárias de ficção, poesia, teatro, ensaios e livros infantis. Apresentamos a dinâmica de um escritor contemporâneo que, sem complexos de qualquer tipo, continua a descobrir o mundo com a ilusão de um jovem e a experiência de uma vida. Fiel admirador de Camilo e amigo de Agustina Bessa-Luís, o multifacetado escritor nascido no Porto, no seio de uma família burguesa, começou por ser advogado, mas sempre soube que a literatura era o seu caminho. É assim que aparece “Mário Cláudio”, pseudónimo escolhido por Rui Manuel Pinto Barbot da Costa que, em 2006, doou parte do seu legado ao município de Paredes de Coura, onde existe hoje o Centro de Estudos Mário Cláudio. Com 78 anos, o escritor continua tão autêntico como a beleza e a serenidade que acompanham o seu gosto pelas artes e a sua paixão pelas letras. Uma viagem de vida no meio de livros, música e obras de arte, onde expressa sentir um amor muito especial por Braga, cidade que o acolheu durante o breve período em que andou na Escola Secundária de Sá de Miranda. Simplicidade, cultura e proximidade: assim é Mário Cláudio, uma personagem que nos mergulha no fascinante mundo da escrita e nos lembra da importância de vivermos no presente, mas sempre atentos ao passado e ao futuro. Em 2019, ano em que celebrou 50 anos de vida literária, foram vários os municípios a prestar-lhe homenagem, desde a sua cidade natal até Paredes de Coura ou Lisboa.

Quantas vezes se tem reinventado ao longo destes 50 anos?

É um bocado difícil responder a essa pergunta. Acho que me reinvento todos os dias. Não vale a pena viver, se não nos reinventamos diariamente. É isso que eu procuro fazer, nem sempre de forma conseguida. Um autor tem de estar permanentemente atento ao mundo e isso reflete-se, exprime-se através de sucessivas reinvenções.

A vida está cheia de caminhos e o Mário Cláudio deve ter-se cruzado com muitos. Como soube quais os mais indicados a seguir?

Os caminhos podem-se escolher ou podem-nos ser impostos. Quando nos são impostos, não há nada a fazer. Quando só há uma única saída, temos que a adotar. Quando há várias saídas possíveis e podemos escolher, a maior parte das vezes escolhemos mal.

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© Ana Marques Pinheiro

Mário Cláudio e Rui Manuel Pinto Barbot da Costa são dois homens dentro de um mesmo corpo. O que os diferencia?

Não são só dois, são muitos mais. Só que os outros ainda não conheço. Nós vivemos várias vidas, com uma máscara, ou com outra. Estamos permanentemente a dar voz e corpo a personagens que vêm ao nosso encontro, porque estão dentro de nós. São simultaneamente nossas e do outro. Por isso é que se fala muito em alteridade na literatura. Aquilo que nós somos, nem sempre é aquilo que devemos ser.

A música tem estado sempre presente na sua vida, o que obviamente tem influenciado a sua escrita. Gosta de pensar musicalmente enquanto escreve as suas histórias?

Sim. Não gosto de ouvir música enquanto estou a escrever. Não consigo! Acho que são momentos diferentes e só consigo ouvir música se estiver atento à música. Tenho de me concentrar no que estou a ouvir e não posso estar a fazer mais nada, mas a música é fundamental para a escrita, marca as cadências textuais. De certa forma plasma o texto através do ritmo, das cadências, das consonâncias, dos tons, das aliterações. Tudo isso tem a ver com o universo musical. Ainda para mais, há também questões que são da área da composição, do contraponto, da fuga, dessas coisas todas que se aplicam igualmente na escrita. Muitos escritores não têm talvez consciência disso, porque têm má informação do universo musical… E eu lamento que em Portugal isso aconteça com muita frequência. As pessoas ligadas às Letras nem sempre são grandes melómanas, mas eu entendo que, para escrever, seja o que for, a grande prática, a grande pedagogia da escrita começa justamente pela música. Há um grande poeta americano, Ezra Pound, que disse que o conselho que dá a qualquer poeta que esteja a iniciar-se é ouvir o máximo possível de música para poder escrever.

Um autor tem de estar permanentemente atento ao mundo, ao mundo exterior, e isso reflete-se, exprime-se através de sucessivas reinvenções.

Além de uma obra extensa, Mário Cláudio cultiva muitos géneros, ao contrário de muitos escritores contemporâneos. Porque é que um escritor tem essa necessidade de se exprimir no teatro, na poesia, na ficção, na crónica?

Acho que há vários fatores a ter em conta. Normalmente a crónica resulta de um convite de um jornal, já colaborei em muitos jornais para escrever crónicas. A poesia tem um tempo e tem uma gestação completamente diferente da prosa. Não me estou a referir à de todos os tempos, é evidente que quando pensamos num grande poema épico como “Os Lusíadas” encontramos também esse processo de rotina que faz parte da escrita de ficção. Camões tentava escrever “X” por dia, ou por hora, não sei bem, mas era um trabalho continuado, não estava ali à espera da imaginação, ou de que os deuses lhe dessem um primeiro verso para depois escrever. Essa noção de poesia foi completamente alterada, sobretudo pelos românticos, para quem a poesia é, digamos, uma voz que vem de fora, e que se chama inspiração ou sabedoria infusa, algo que acontece num momento e que nos colhe até de surpresa. Portanto, o tempo da poesia é um tempo completamente diferente. A poesia contemporânea não é consentânea com a rotina e a prosa ficcional não é consentânea com a falta de rotina. É precisamente o contrário.

Mas não deixam de ser géneros com linguagens muito específicas e que têm a sua exigência para quem escreve.

Sim, sem dúvida. Embora as fronteiras entre poesia e prosa se tenham esbatido muito com o modernismo, a partir do modernismo – sobretudo aquilo que é do mundo da ficção – muitas vezes convive com a poesia, está ao nível da poesia. Basta pensar em escritores contemporâneos como Agustina Bessa-Luís, que tem páginas que são poesia. Tal como acontece com a prosa, na poesia há uma prosa, muitas vezes muito seca, uma prosa que não é excessivamente poética. É o que acontece quando lemos os versos de Alberto Caeiro, temos a noção de que aquilo está muito próximo da prosa filosófica, mas com Álvaro de Campos, por exemplo, já não acontece isso: é um grito, e esse grito é muito mais poesia do que outra coisa.

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A propósito do esbatimento de fronteiras, um dos temas mais estudados pela crítica sobre a sua obra nos últimos anos está relacionado com as fronteiras entre a ficção, a história e a biografia…

Eu nunca gostei muito de compartimentos estanques, de preto e branco. Acho que é nos cinzentos que se encontra muitas vezes a verdade, ou pelo menos aquilo que corresponde à nossa verdade. Acho que esse mestiçagem ou esse hibridismo dos géneros tem a ver com a minha personalidade, não gosto de posicionamentos em termos de “sim” ou “não”, ou de esquerda e direita, acho que na superação desses contrários é que está, muitas vezes, a grande abertura para a liberdade.

Nós vivemos várias vidas, com uma máscara ou com outra. Estamos permanentemente a dar voz e corpo a personagens que vêm ao nosso encontro, porque estão dentro de nós.

Um tema da sua obra que se calhar não tem sido tão abordado é a presença do elemento transcendente, do sagrado ou, se quisermos ser mais precisos, de uma matriz cristã que muitos escritores contemporâneos ignoram, fizeram alguma tábua rasa, é objeto de alguma erosão. Como é que explica essa presença forte na sua obra? 

Isso também tem a ver comigo, com o meu interesse pela penumbra. Acho que qualquer dimensão como o racionalismo, por exemplo, é redutora. Ou como acontece com aquilo que é o universo do espírito mais decantado e que se encontra, por exemplo, na poesia “zen”. Há alguma coisa que se perde aí e também pode perder-se o contacto com o chão, ou até o contacto com as nuvens, se estivermos muito cá em baixo… Portanto, há alguma coisa que fica, entre uma coisa e outra, e acho que nenhuma dessas posições antagónicas é detentora da verdade absoluta. É esta mestiçagem que nos permite mudar e exercer alguma forma de criação da própria realidade. Vejamos a mecânica quântica: é um lugar muito bem sentido! E nós sabemos hoje que a mecânica quântica – e estamos a falar de ciência! – prova que o observador determina a realidade observada. O comportamento das dimensões quânticas depende do observador, depende do olhar do observador. Hoje até poderia dizer-se que uma árvore não existe se não estivermos a olhar para ela, mas já estamos a falar de um complexo problema de filosofia. 

É sem complexos que podemos dizer que na obra de Mário Cláudio o elemento religioso ou uma cultura de fundo cristão está presente?

Não tenho qualquer complexo com isso. Teria, sim, alguma dificuldade em aceitar que me rotulassem, que me dissessem que sou um calvinista porque escrevi isto ou aquilo a um católico, não é disso que se trata. Posso ter as minhas razões de fidelidade à Igreja Católica, que são mais relações do afeto do que propriamente razões do pensamento, sobretudo nos últimos anos, mas isto não significa que possa dizer que sou um católico ortodoxo em tudo aquilo que escrevo, não sou.

Mas não ignora essa herança.

Não, claro que não. Tenho perfeita noção de que se não fosse a tradição cultural da Igreja Católica, não estaria a escrever aquilo que escrevo. Há todo um património cultural de que a maior parte das pessoas não tem consciência e que faz parte do nosso quotidiano,  do nosso dia a dia. 

As pessoas ligadas às Letras nem sempre são grandes melómanas, mas eu entendo que para escrever, seja o que for, a grande prática, a grande pedagogia da escrita começa justamente pela música.

50 anos de vida literária são muitos livros. Se tivesse que escolher só um dos seus escritos, com qual ficava e porquê?

Não escolhia nenhum. E não acho que seja muito tempo: é pouco tempo! Nunca se aprende a escrever. A escrita é um exercício permanente, é um treino permanente. Nunca se chega onde se quer chegar. Por isso é sempre pouco o tempo que temos para levar a cabo um projeto escrito, seja ele da natureza que for. E falo de projeto em termos amplos, não me refiro a projetos setoriais. Um projeto amplo poderá ser escrever uma obra. O importante é que as pessoas façam no momento aquilo que devem fazer. Através dessa acumulação dos vários presentes é que pode resultar alguma coisa para o futuro.

Disse que gosta de viver no presente, sempre foi assim?

Não, acho que isso acontece também com uma pedagogia lenta que se vai fazendo ao longo da vida. Há umas idades mais juvenis, ou de maior imaturidade, em que as pessoas vivem muito em função do futuro. E depois há outra imaturidade, a das pessoas que envelhecem e que vivem exclusivamente ou predominantemente do passado. Qualquer dessas atitudes, para mim, é perigosa. Não digo que seja errada porque é preciso planificar o futuro… E é preciso guardar memórias das coisas passadas, mas, emocionalmente, devemos estar no momento presente. Embora atentos ao passado e ao futuro!

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E como é o presente de Mário Cláudio?

Neste momento é falar convosco. Daqui por um bocado logo se verá. O presente é feito de muitos presentes, não sabemos onde é que começa e onde acaba. Quando eu estou a dizer isto já não estamos no presente, estamos no passado. Ao acabar uma frase, já estou no passado. É exatamente o que acontece com a respiração! Quando expiramos adquirimos ar para viver e, quando inspiramos, damos lugar a que um novo ar nos encha os pulmões e a que a vida regresse. De alguma forma podemos dizer que inspiramos e expiramos, como acontece com a vida e a morte. Quando uma pessoa morre diz-se que “expirou” e quando uma pessoa nasce eu diria que “inspirou”.

Qual é a chave do êxito de Mário Cláudio? 

Não sei se tenho êxito, isso é uma coisa muito relativa. Ter êxito pode consistir em ser lido pelos vizinhos. Ter êxito poder consistir em ser lido no país. Ter êxito pode consistir em ser lido. Seja na Europa, nos Estados Unidos… Ninguém é lido em todo o mundo, temos de perceber isso, ninguém é lido porque só uma franja do mundo tem acesso à leitura. E evidentemente as nossas vozes não chegam a todos os lugares! Nem mesmo um Prémio Nobel chega a todos os lugares! O êxito pode ser simplesmente escrever um texto que tocou um amigo cuja opinião nós respeitamos muito. O êxito não se mede por números de exemplares vendidos, pelos best-sellers, nem pelas críticas que temos. Mede-se por outros fatores, muitas vezes pouco palpáveis.

O Mário Cláudio tem sido objeto de múltiplas homenagens e celebrações. Como é que um escritor ao completar estes 50 anos de vida literária vê estas homenagens?

Por um lado é muito gratificante ver isso. E também é muito bom ver que há pessoas que têm afeto por nós e que reconhecem o nosso trabalho. Todo esse aspeto é importantíssimo, mas depois há também um preço a pagar por isso, que tem a ver com a quebra das rotinas… E também com um certo embaraço que essas coisas causam por sermos objeto de uma atenção que nem sempre temos a certeza de merecer! E com que não sabemos lidar… Muitas vezes as pessoas correm o risco de se tornarem pomposas perante uma coisa dessas, o que é horrível. Mas correm também um outro risco que é igualmente narciso: o de terem excesso de humildade. E nós sabemos que uma humildade excessiva é um excesso de vaidade! E estar num poço de vaidade é uma situação muito desconfortável em que eu não me quero ver de maneira nenhuma.

Quando só há uma única saída, temos que adotar essa única saída. Quando há várias saídas possíveis e podemos escolher, a maior parte das vezes escolhemos mal.

Diz que não gosta de dar conselhos, mas depois de uma experiência de vida como a sua, deve ter muitas coisas para contar. Será que poderia dedicar algumas palavras às novas gerações de escritores que olham para si como um exemplo a seguir?

Realmente não gosto de dar conselhos. Acho que quem deseja ser escritor tem de escrever. É o primeiro conselho que dou. Tem de escrever e tem de ler, porque são atividades inseparáveis umas das outras. Não se pode ser um escritor de qualidade, seja em que área for, ou de uma qualidade mínima, se não se for simultaneamente alguém que está em contacto com os outros e com o mundo dos outros. Isso não significa que, por exemplo, um analfabeto não possa ser um grande poeta. Uma literatura popular é tradição de todos os países. Uma literatura oral é também uma forma de criação literária, mas é preciso escutar os outros. É preciso escutar a natureza. E, portanto, é preciso ouvir voltado para fora. Ler, como eu disse, para que realmente se cumpra este destino da escrita. Alguns jovens, perante um texto que me oferecem para ler, perguntam-me se eu acho que são, ou não, escritores. Digo-lhes sempre a mesma coisa: escritores somos todos nós. Podem escrever até para passar o tempo mas, se houver um escritor a sério, será aquele que não puder estar sem escrever, alguém para quem a escrita for determinante na vida, for um alimento vital, uma dimensão do quotidiano que tenha um cunho quase biológico, como respirar ou comer.

Os hábitos de leitura têm mudado. Existe a crença de que os jovens agora leem muito mais do que no passado, mas o conteúdo já não é tão enriquecedor. Concorda com esta afirmação?

Leem muito menos em suporte de livro, mas leem muito mais noutros suportes. Por exemplo, no computador e no telemóvel as novas tecnologias abriram horizontes imensos, mas existe realmente um fator a ter em conta, a questão da velocidade e da quantidade. A quantidade de informação é imensurável hoje em dia, é muito maior do que era dantes. Num instante podemos ir, por exemplo, à internet e ficar a saber tudo o que Albert Einstein disse sobre a Teoria da Relatividade. Isso não estava acessível às pessoas há poucos anos. Agora está, mas está no meio de muita coisa que é inútil e que, às vezes, até é viciante. Sabemos que o efeito das redes sociais sobre as pessoas pode criar problemas de adição, de fixação, que pode destruir as pessoas e até o próprio mundo. Muita gente tem chamado a atenção para isso. Eu diria que os jovens de hoje têm consciência de que a oferta de cultura, ou de leitura, é muito maior. E isso muitas vezes remete-os a uma certa passividade, uma certa preguiça. Como professor, dei-me conta, a certa altura, que os meus alunos dispensavam-se de pensar muito sobre aquele tema que lhes tinha dado e iam à internet buscar uma coisa qualquer e faziam uma cópia. Às vezes faziam-no de forma tão tosca que nos dávamos imediatamente conta de que aquilo era uma cópia. Pessoas que não estavam habituadas normalmente a escrever e que apresentavam certas deficiências na escrita copiavam aquilo com tal rigor, que era logo de desconfiar. Isso até é um problema de caráter moral-ético. Não sei como é que se pode lidar com isso, não acho que a escrita ou a leitura sejam indispensáveis para a felicidade humana. Lamento muito dizer isto, quando o digo às vezes nas escolas até ficam muito chocados porque acham que quem não lê, está a perder alguma coisa. E claro que sim, está a perder o prazer da leitura, mas pode substituí-lo por outros prazeres igualmente válidos. A leitura não é a única porta de saída para o mundo, nem o único fator de criatividade humana, há muitos fatores.

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Gosta de acompanhar as leituras das novas gerações?

Sim. Gosto de acompanhar aquilo que me parece ter valor, ou que me chega com a indicação de ter valor. E, às vezes, até gosto de tentar espreitar para as coisas que dizem não ter qualquer valor! Sejam obras menores, projetos incipientes ou comerciais, aprendo sempre alguma coisa. Se não aprendo em termos literários porque são realmente muito maus, aprendo sempre em termos de sociologia da leitura, da literatura, aprendo a perceber por que razão é que aqueles livros, literariamente tão pobres, têm grande sucesso, são best-sellers, etc.. Isso é importante saber.

Quando termina uma obra ou escreve algum trabalho, já sabe aquilo em que essa obra se vai tornar?

Eu nunca escrevo para entreter os outros, nem a mim próprio. A escrita é simplesmente uma forma de expressão, e essa forma de expressão pode conter ou não um recado para os outros. Contém sempre alguma coisa daquilo que nós somos em termos de sensibilidade, em termos intelectuais, em termos de idiossincrasia e tudo isso, mas não é necessariamente uma lição, nem sequer uma ponte para os outros. Pode vir a ser ou não, depende muito do leitor e da relação que se estabelece entre o autor e o leitor. Quando acabo um livro, eu nunca sei que destino é que ele vai ter, mas a verdade também é esta: não acredito muito em obras acabadas, não acredito muito que se possa terminar um livro. Um livro nunca se termina, aquilo que se termina é uma versão do livro, a nossa versão do livro, mas o livro que nós queremos construir muitas vezes não é aquele, é um outro. Portanto, a ideia de um livro é como se fosse um arquétipo. Está num outro plano de que nos queremos aproximar, mas nunca se chega lá, porque se isso acontecesse provavelmente ficávamos por aí e não escrevíamos mais.

 

 

       

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