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«As termas fidelizam porque têm inúmeros benefícios para a saúde e bem-estar»

Entrevista a Idalina Russell, Diretora Clínica das Termas de Caldelas

 

As águas termais são um dos motivos de maior atratividade de Amares. Com benefícios ao nível da saúde e do bem-estar, suscitam grande procura tanto pelos habitantes do concelho, bem como pelos inúmeros turistas que por ali passam diariamente. Para tentar perceber as suas potencialidades, a Revista Minha esteve à conversa com Idalina Russell, diretora clínica das Termas de Caldelas.

Conte-nos um pouco da história das Termas de Caldelas…
As termas têm origem romana. Distam já de há muitos séculos, sempre usadas para fins terapêuticos e, na atualidade, também para fins de bem-estar termal. Vêm até nós os locais mas também pessoas de outros pontos do país e mesmo do estrangeiro, porque as termas são efetivamente uma mais-valia em termos de saúde. Todos os tratamentos, desde a hidroponia, que é a ingestão de água termal, que é um medicamento de origem natural, até aos tratamentos que se fazem nos balneários termais como duche de jato, duche de vichy, o duche circular, a piscina termal, as lamas, as massagens… são benéficos para todos. A vertente terapêutica é mais centrada no aparelho digestivo; os clisters, os gota a gota…tudo isto tem na sua essência a água, que é usada, como já referi, para tratar e não para curar, porque a água não cura. A água é como um medicamento natural, vai fazer com que situações crónicas fiquem equilibradas. Ajuda a que as pessoas fiquem sem sintomatologia, é uma “cura” pois o doente não sente, ainda que a patologia possa lá estar de base. Portanto, é usada para tratar e é usada como fonte de bem-estar que, no fundo, acaba por ser também uma mais valia para a saúde, pois todos nós dependemos do estado físico, psíquico e mental. A ausência de doença não significa que a pessoa esteja totalmente saudável. É preciso um equilíbrio. Por isso, quando o cliente chega às termas, marca a sua consulta, é visto por um médico, leva uma prescrição do que deve fazer e segue esse plano.

Portanto, têm implementados os conceitos de saúde e de bem-estar. Que serviços é que estão aqui disponíveis?
No caso concreto do aparelho digestivo, os serviços podem passar por banhos, clisteres, gota a gota, piscina termal e todos os outros tratamentos complementares que temos para o intestino. Também temos em curso tratamentos para a pele, nas situações de eczema, nas situações de psoríase, basicamente nas situações descamativas da pele. Temos ainda tratamentos para o sistema músculo esquelético, que vão desde o calor húmido em equipamentos próprios com vapor de água termal, até às lamas termais, ou peloides termais que passam pela piscina, pelos duches calmantes, os circulares ou os Vichy. Faz parte também do nosso anuário terapêutico, o aparelho ginecológico, as doenças metabólicas, o aparelho Circulatório e o Sistema Nervoso. É fácil perceber que, uma diabetes ou hipertensão melhora obrigatoriamente com estes tratamentos que envolvem água e a dieta neste ambiente. Portanto, as doenças metabólicas também se inserem aqui. E ainda temos em curso um estudo para as vias respiratórias, porque sempre foram efectuadas, mas não estavam validadas cientificamente. Estamos a fazê-lo, neste momento. No caso da vertente do bem-estar, vai desde os circuitos termais em que a pessoa ingressa no balneário, faz um duche de agulheta, faz uma massagem Vichy, faz uma massagem seca, vai à piscina e sai. É um dia inteiro! Temos depois tratamentos ou programas de tratamentos de bem-estar com massagens, piscina, duches de agulheta. Se houver, por exemplo, uma dor localizada, podemos também incluir as lamas. Disponibilizamos também tratamentos para a obesidade, que é um problema de saúde pública e em que aliamos o tratamento termal a um conjunto de massagens e de frequência na piscina, ajudado pelo duche de agulheta que vai permitir que a pessoa perca volume e perca peso, aliada a uma dieta fornecida pela nossa nutricionista, que vai acompanhar estes programas e, portanto, temos programas de relaxamento, programas de bem-estar, programas anticelulite e programas anti obesidade. Detemos um manancial muito grande de programas de bem-estar, em que as pessoas podem fazer três, cinco, sete ou 14 dias.

Há alguma durabilidade específica para cada tratamento?
No bem-estar, temos um circuito de um dia, com três dias, cinco dias, sete dias e depois as pessoas podem repetir o programa. No plano terapêutico, nós aconselhamos sempre que sejam pelo menos 14 dias, podendo ser necessário mais. Podem ir às 21 sessões, podem ficar pelas sete mas é uma experiência termal, não é um tratamento termal. Para isso, já é aconselhável efectuar o programa de 14 dias.

As pessoas que vêm cá e que vos procuram, têm a noção de todos estes benefícios que as termas possuem?
Algumas sim, outras não. E faz parte da consulta médica exatamente transpor para o doente ou termalista todos estes benefícios que lhes podem ser oferecidos nas Termas de Caldelas.

Que mais valias trazem as Termas para o próprio concelho de Amares?
Qualquer estabelecimento termal e de bem-estar termal ajuda no desenvolvimento local na medida em que ao trazer pessoas para Caldelas, em particular, e para todo o concelho, promove um incremento nas refeições, estadias, e todo o género de compras, assim como a procura e interesse pelos percursos pedonais, pela utilização de bicicleta e ainda de parapente. Todo este movimento gera trabalho e riqueza.

Como é que os locais olham para esta infra-estrutura?
Os locais olham com bons olhos para todas as atividades relacionadas com as Termas, são dos grandes beneficiados com a estância termal.

“Para além de todos os beneficios para a saúde e bem estar, todo o movimento em torno das termas gera trabalho e riqueza para o concelho”

 

E que serviços são mais procurados? Estão direcionados para o bem-estar ou para a saúde?


A fidelização verifica-se em contexto terapêutico. Os termalistas terapêuticos sentem-se muito melhor ao fim de três/cinco anos. Vêm por manutenção, mas continuam a vir para não ter queixas ou sintomas. Pelo cenário de bem- estar, as pessoas “saltam” mais de termas em termas… vão experimentando! A nossa maior procura é no registo terapêutico.

E a vossa maior missão, qual é?

É terapêutica. O bem-estar, no conceito lato de tratamento. Evitar o stress, evitar o cansaço e promover a saúde no seu todo, também é uma vertente que nós procuramos muito e ainda a obesidade. De qualquer forma, o que mantém as termas no ativo e o que tem de ser muito divulgado, para além do bem-estar que todos procuramos, é a vertente terapêutica. Com as termas, conseguimos a manutenção da doença sem sintomas. É evidente que nunca vamos deixar o tratamento convencional, isto é, complementar ao tratamento convencional. Há doentes/termalistas que deixam, ao fim de alguns anos, esse tratamento, mas nós nunca pedimos que o façam. E eu, que sou médica hospitalar, defendo que nunca vamos retirar o tratamento ao doente, a não ser que o doente se sinta muito bem e seja ele a abdicar, em consonância com o médico hospitalar.

Portanto, vocês têm aqui uma equipa que consegue responder a todas as necessidades dos termalistas?

Somos uma equipa já há muitos anos de médicos, somos seis neste momento e portanto, já temos alguns doentes que vêm procurar-nos. Não num contexto termal, mas já vêm direcionados aos profissionais. Já nos conhecem.

Este espaço é gerido pela Câmara de Amares. Como está estruturado?
Sim, quem gere este espaço é a Câmara Municipal de Amares, através de uma parceria acordada, recentemente, com o ISAVE. Quem gere a parte clínica sou eu e depois temos uma coordenadora de balneário, a Isabel Silva, que está aqui também. Mas a concessão é da autarquia.

Que projetos é que as Termas de Caldelas têm em vista para o futuro?
Nós, equipa médica, e a equipa que já cá está há muitos anos, temos uma ânsia enorme que isto cresça e que isto realmente venha a ser o que já foi. Porque parou um bocadinho. Nós no ano passado abrimos muito tardiamente, e este ano também. As pessoas que estão habituadas a recorrer aos nossos serviços em março, começaram a telefonar em fevereiro, mas só começaram a vir para cá em junho…

Qual o motivo para esse atraso?

Porque a Câmara só conseguiu reunir condições para abrir em junho. Nós, médicos, estávamos cá, a equipa em si estava cá, mas a Câmara não conseguiu reunir as condições necessárias, que incluía pessoal de limpeza, manutenção, entre outras situações. É uma vontade nossa que a infraestrutura esteja aberta todo o ano.

Para terminar, que mensagem deixaria a quem não conhece as termas e, por isso, não se desloca até aqui?

Lanço o repto, desde já…venham-nos conhecer, porque fideliza.

 

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