Opinião

Hulkenberg, o homem-quase

Enquanto houver lugar, o Nico Hülkenberg há-de tentar. Seria mais ou menos isto que Jorge Palma cantaria se tivesse dedicado a famosa A gente vai continuar ao piloto alemão, num universo paralelo qualquer.

O Hulk da Fórmula 1 regressa em 2023, aos 35 anos, como piloto a tempo inteiro, desta vez, da mais ou menos americana Haas. Isto depois de dois anos como piloto de reserva na Aston Martin, equipa onde também foi o super-substituto de 2020, nas duas ocasiões em que os pilotos da então Racing Point fizeram parte dos números de infectados pelo SARS-CoV-2. Aliás, ainda em 2022 preencheu esse papel, no início da temporada, quando Sebastian Vettel também ficou infetado.

Estes azares pandémicos ajudaram Hülkenberg a alinhar-se como o substituto de um alemão mais jovem, Mick Schumacher, mesmo que antes tenha tentado ser substituto de Vettel na Aston Martin e de Alonso (ou de Piastri, mas deixemos essa saga para o próximo mês) na Alpine.

O germânico bem penteado chegou à F1 em 2010, no entanto, já quase no fim de uma temporada boa, sem erros graves num carro mediano, saltou muito à vista a pole position para o GP do Brasil, conseguida com uma vantagem de um segundo no meio da chuva – o ambiente em que um piloto consegue, habitualmente, fazer mais a diferença. Mas essa performance não tapou o buraco nos cofres da equipa, que precisaram de pôr ao volante alguém que trouxesse dinheiro consigo.

Depois de um 2011 como reserva na então Force India, voltou ao cockpit a tempo inteiro em 2012, numa boa temporada que acabou coroada pelo primeiro dos “quases” da carreira do piloto. No Brasil, encerramento da temporada, foi brilhante numa corrida caótica, entre incidentes e uma meteorologia indecisa, disputando inclusive a liderança com carros bastante superiores ao seu… Até ao momento em que, ao tentar recuperar o primeiro lugar, escorregou e bateu em Hamilton. O tempo perdido e a penalização retiraram-lhe uma possível vitória e um provável pódio.

Pódio esse onde, na F1, nunca pôs os pés. Detém o Hülkenberg, o homem-quase recorde de mais arranques sem pódios na F1, com 181 Grandes Prémios. Apesar de temporadas sempre sólidas, tem sido nos momentos em que está perto de terminar nos três primeiros lugares em que falha. Assim aconteceu na Rússia, em 2015, com um acidente no arranque numa corrida em que o colega de equipa, Sergio Pérez, acabou no pódio. Assim aconteceu no Mónaco, em 2016, quando
saiu atrás de carros mais lentos depois de trocar pneus, perdendo a hipótese do terceiro lugar, e no Brasil, com o azar de um furo. Assim aconteceu em Singapura, em 2017, já na Renault, quando um erro de estratégia da equipa o fez perder o comboio. E assim aconteceu na Alemanha, em 2019, quando no meio de uma corrida quase apocalípticamente caótica andou em segundo lugar, desceu a quarto e depois escorregou até ao muro na curva onde outros três fizeram exatamente o mesmo, um de cada vez.

No meio de todos estes anos, o único pódio a que Hülkenberg chegou foi o das 24 Horas de Le Mans – um dos desejados do desporto motorizado, por acaso. Em 2015, entre corridas de F1, venceu a corrida no Porsche com o número 19. O Hulk foi, e ainda é, o primeiro e único piloto desde 1991 que ganhou a mítica corrida francesa enquanto ativo na F1.

E agora? Nico Hülkenberg aguenta a pressão face a um colega rápido? Aguenta uma potencial queda em performance de uma equipa que ainda não conseguiu ter um período positivo de forma sustentada? Será que a oportunidade lhe vai dar nova energia? Será que evita falhar de novo a oportunidade de um pódio?

 

João Pedro Quesado, jornalista

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