Chegado o tempo quente e o sol chega também a vontade da tão esperada pausa nas obrigações do ano para descanso. Mas as férias, aguardadas com grande espectativa por miúdos e graúdos, significam também excessos, desafios e oportunidades.
Para as famílias, as férias são momentos de profundo desenvolvimento pois constituem oportunidades de aventuras, novas experiências e, especialmente, de tempo de convívio descontraído entre pais e filhos, sem o stress do trabalho.
A família junta a construir castelos de areia, a fazer descobertas, a perder-se entre corridas, abraços e gargalhadas…
O tónico para o desenvolvimento individual e familiar
Num mundo cheio de stress como o que vivemos hoje, as férias em família assumem uma importância enorme se considerarmos o que se passa durante o resto do ano: famílias presas em rotinas diárias em que pouco se brinca ou se partilha. São muitos os pais que referem que, no dia a dia, não têm tempo para brincar com os filhos e pouco partilham com eles.
Assim, as férias são um tónico à saúde da relação familiar. A literatura científica mostra que as experiências de férias em família ativam sistemas enraizados nas áreas límbicas do cérebro, desencadeando mensagens neuroquímicas de bem-estar, contribuindo para reduzir o stress e ativar sentimentos calorosos e a sensação de que tudo está bem no mundo. Assim, com estes sistemas ativados, é reavivado o vínculo, reforçado o apego e potenciado o desenvolvimento.
Constroem-se memórias, que unem as famílias para além dos tempos. Como uma “âncora de felicidade”, as memórias felizes dos tempos passados em família são extremamente poderosas, trazendo alívio e apoio em situações de stress futuro.
Por outro lado, estes momentos de experiência em harmonia são também um tónico ao próprio desenvolvimento da criança, já que proporcionam um ambiente rico em experiências plenas de interação social, física, cognitiva e sensorial, potenciado pela harmonia e tranquilidade vividas.
A parentalidade não tira férias
Contudo, não podemos esquecer que a época de férias também pode ser stressante. A ideia de quebra de limites e obrigações pode gerar conflitos entre as expectativas individuais e coletivas. Pausa na rotina diária de trabalho não significa pausa nas competências parentais e nas regras que sustentam a boa convivência e bem-estar. Não é por estarmos de férias que vamos comer todo o chocolate ou passar os dias a jogar videojogos. Significa, bem pelo contrário, uma melhor oportunidade para promover a conexão e empatia necessários à autonomia, crescimento e desenvolvimento individuais. A diminuição das obrigações diárias e do stress externo e a disponibilidade para o convívio proporcionam vias de comunicação e empatia extraordinárias que permitem dimensionar os dias respeitado as necessidades e ritmos de cada um.
Bem aproveitadas, as férias constituem mesmo o balão de oxigénio da vida presente e futura – proporcionam a garantia de ser amado, a criação de memórias fabulosas, o autoconhecimento, o aumento do afeto entre os membros da família, a consolidação de bons hábitos e escolhas, o incentivo à curiosidade e à aprendizagem, o maior otimismo e ambição para o futuro, a redução da ansiedade e a melhoria das relações.
Manter as férias bem condimentadas de escolhas de vida saudável e momentos de partilha são uma boa forma de tirar o maior proveito das mesmas. Ajudam-nos a construir uma sensação de vida familiar feliz para a qual olhamos nostalgicamente ao longo da vida e na qual assentamos a nossa autoestima, saúde e fé na humanidade. Boas férias!
Clara Alves Pereira,
Médica do Serviço de Pediatria do Hospital de Braga