Opinião

Ricciardo, o dono do sorriso perdido

Se até agora apenas falei de pilotos que ou são campeões de Fórmula 1 ou provavelmente vão sê-lo, desta vez falo de alguém que já esteve nessa lista e que, para tristeza de todos, deixou de a integrar. Daniel Ricciardo chegou à F1 a meio da temporada de 2011, caindo de pára-quedas na HRT – uma equipa que mal tinha dinheiro para pagar a conta da luz – enquanto explicava a toda a gente como se lia o seu apelido (o segundo ‘i’ é mudo, quer em italiano, quer em inglês). A ‘audição’ para um lugar na Toro Rosso – nome na altura da equipa júnior da Red Bull – foi correndo bem, mostrando progressão ao longo das corridas, ainda que o carro fosse tão lento que não fosse possível vê-lo nos resultados. A progressão continuou nos dois anos seguintes, já na Toro Rosso, derrotando o colega de equipa para se colocar na melhor posição quando um lugar na equipa principal ficasse disponível. O que aconteceu em 2014, ano de mudança completa das regras, principalmente nos motores. Essa mudança, e a falha da Renault em adaptar-se a ela, disparou a Red Bull para fora da posição de domínio que tinha tido nos últimos anos. Ou seja, apesar de a mudança continuar a ser uma subida na carreira para Ricciardo, a pressão baixou muito. Nem por isso se desleixou – acabou o ano como um dos melhores da temporada, destacando-se face a Vettel, tetracampeão que não atinou com o mesmo Red Bull com o qual Ricciardo ganhou três corridas, todas elas de forma oportunista, mas brilhante. Uma delas, a de Spa, mostrou a capacidade de ser rápido sem destruir os pneus com um carro mais rápido a persegui-lo, salientando o estilo suave, mas rápido. Depois de um 2015 de inconsistência, 2016 voltou a ser uma temporada de ouro, já com um tal de Max Verstappen como colega de equipa. Não por vencer muito, ou por vencer de forma espetacular – apenas ganhou uma corrida, na qual teve que se defender do jovem Max –, mas por estar sempre na posição mais alta que o carro lhe permitia. E o mesmo pode ser dito de 2017. O início de 2018 foi de sonho, projetando-se até como candidato ao título com vitórias fantásticas na China e no Mónaco. Mas a fé na equipa desapareceu depois de uma colisão com o colega Max em Baku, e passou o resto do ano a sofrer problemas de fiabilidade. Sentindo-se a mais na Red Bull, decidiu cortar relações e saltar para a Renault – para baixo, pode dizer-se, e nem 2019, nem 2020 provaram o contrário. A mudança para a McLaren em 2021 não se provou muito mais produtiva. Apesar de haver uma vitória a contar em Monza, a maioria dos GPs contam com um Ricciardo apagado, incapaz de perceber a falta de andamento face ao colega Lando Norris mesmo com dados intermináveis para análise. Com o tempo, o sorriso rasgado do Honey Badger foi substituído por um rosto fechado e triste. De tal forma que não foi surpresa nenhuma quando o fim do contrato com a equipa laranja foi anunciado. Como é que um piloto que já foi dos mais entusiasmantes chega a um ponto em que a rapidez, aparentemente, desapareceu? A tal vitória de Monza em 2021 mostra que ainda está lá tudo, principalmente a competitividade em corrida que nos deu ultrapassagens mirabolantes e no limite. Mas, de resto, só temos hipóteses que não sabemos se algum dia vão ser confirmadas. O certo é que ninguém nos tira as vitórias espetaculares que puseram toda a gente a sorrir.

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