Opinião

A gestão da mudança e o processo de liderança

Já Camões nos dizia que “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (…) Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”. E depois, numa frase atribuída a Charles Darwin dizem-nos que “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. A mudança é, se quisermos, a constante que nos acompanha. Se assim é, o que explica o sucesso de uns e o insucesso de outros, pelo menos a nível empresarial e ao nível das organizações?

Um dos casos mais interessantes sobre a gestão da mudança, ou a ausência da perceção da mesma, é o caso da XEROX que, em 1973, viu os seus engenheiros desenvolverem, em Palo Alto, o primeiro computador pessoal, chamado Xerox Alto. Este computador vem equipado com o primeiro rato, com dois botões, muito próximo do que hoje conhecemos, e vem equipado com um ambiente de trabalho também próximo do que se conhece hoje. No final dos anos 70, cerca de 2.000 unidades eram utilizadas em laboratórios da XEROX e universidades. No entanto, a empresa decidiu que o core do seu negócio era o papel. As cópias. Assim, em 1979, quando Steve Jobs conseguiu uma visita à XEROX PARC, em troca da possibilidade de a primeira comprar ações da Apple, foi-lhe demonstrada a forma de funcionamento do Xerox Alto. Depois de duas visitas, reza a história, apareceu o Apple Lisa e o sistema Machintosh. A questão é, como foi possível a XEROX não se ter apercebido do valor da tecnologia e como foi possível não ter apostado nas mudanças necessárias para fazer vingar essa aposta. As respostas poderão ser muitas, mas um denominador comum é o de que a mudança custa muito a operacionalizar. Mudar tudo para facilitar uma inovação de aplicação dúbia, é, então, ainda mais difícil. Conscientes destas falhas ao longo do percurso da inovação, houve autores que se debruçaram sobre formas de facilitar a adoção da mudança, tendo-se ainda percebido que à gestão da mudança não poderia isentar-se a dimensão da liderança. A liderança tem uma visão, tem uma perceção que pode apontar na direção correta ou na direção errada.

A liderança tem, então, que mobilizar a sua organização no sentido de se ajustar para seguir essa direção e implementar a sua visão, e, é esta tarefa que é hercúlea. Principalmente quando se atravessam as águas da inovação. Para facilitar esta tarefa, três autores: Woodward (INSEAD), Van der Heyden (INSEAD) e More (Australian Institute of Management Business School) formalizaram o FAIR PROCESS LEADERSHIP. Este processo assenta em 5 passos fundamentais: Engaging, Exploring, Explaining, Executing, Evaluating. Estes passos desenvolvem-se num ciclo contínuo e, no centro desse processo cíclico, está a comunicação. Essa comunicação deve ser clara, consistente, suportada em evidências e deve ser autêntica, indo de encontro à cultura da organização. Os autores asseguram que, seguindo este processo, a mudança é adotada de forma durável e sustentável, permitindo que a visão da liderança se materialize e perdure.

Rafaela Silva

Economista Braga Toastmasters

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