Vinhos

Ribeira Sacra o “Douro” da Galiza, uma viticultura heróica

Ainda está bem presente na minha memória, uma das minhas viagens de moto pela Galiza, onde o destino era uma Denominação de Origem pouco conhecida em Espanha e muito menos em Portugal – Ribeira Sacra é uma zona vitícola que integra um conjunto de vinte municípios pertencentes ao sul da província de Lugo e ao norte de Ourense, bem no interior da Galiza, onde o seu elemento aglutinador é o curso fluvial dos rios Minho, Sil e Cabe, que corre para a sua confluência através de gargantas ou desfiladeiros de forte verticalidade, composto por inúmeros socalcos com vinhas que só é acessível aos agricultores mais aventureiros, configurando assim uma paisagem única e uma terra singular. Os seus vinhos são apreciados desde os tempos romanos, onde há referências a ânforas na zona de Armandi que seriam transportadas pela via Romana até ao imperador Júlio César. Este território é também fortemente marcado por referências históricas e pela religião católica, devido à presença de igrejas, mosteiros e capelas, caracterizando-se por ter, atualmente, uma produção vinícola com uma extensão aproximada de 2500 hectares de vinhedos, que representam cerca de 5,2 % do solo dedicado à vinha na Galiza. A referência a Rovoyra Sacrata, aparece pela primeira vez em manuscritos relacionados com a fundação do mosteiro de Santa Maria de Montederramo, ortogado em 1124 por Dona Teresa de Portugal, filha de D. Afonso VI de Castela e daqui deriva o nome para Ribeira Sacra, do qual se tem conhecimento em diversos escritos desde o século XII. Ao longo desta “Ribeira”, encontrámos alguns mosteiros que recomendo a sua visita, destacando: Santo Estêvão de Ribas do Sil, Santa Cristina de Ribas de Sil, San Pedro de Rocas, Diomondi San Paio de San Pedro de Bembibre e não deixe também de visitar os castelos de Monforte de Lemos e de Castro Caldelas. A Ribeira Sacra foi reconhecida oficialmente como Denominação de Origem Controlada em1996 e dividida em 5 sub-regiões: Amandi, Chantada, Quiroga-Bibei; Ribeiras do Minho e Ribeiras do Sil que em conjunto produzem, pelo menos, 4 milhões de garrafas por ano.

A geografia e a natureza dotaram a Ribeira Sacra de uma bela paisagem e uma fauna rica e variada, que pode fazer lembrar uma Provenza ou Toscana galega. O emblemático Canyon do Rio Sil fala por si, com a grandiosidade do rio que desgastou sobre as colinas escarpadas e íngremes subidas, e suas proporções, deixando o visitante boquiaberto. Aqui, é possível fazer passeios de catamaran a partir de diferentes pontos e embarcações ao longo do rio do Sil. Nos pontos mais altos, recomendo desfrutar dos inúmeros miradouros que são de visita obrigatória para admirar a monumentalidade da paisagem. Aqui as vinhas heroicas descem em socalcos, muitas das vezes em inclinações superiores a 30% até perto do rio, enquanto uma vegetação de carvalhos, castanheiros e bétulas complementam, desde a outra margem, a riqueza cromática do panorama. A particularidade e dificuldade desta orografia permitem que na Ribeira Sacra se fale de uma Viticultura Heroica. As variedades de uvas mais difundidas no território são a uva tinta Mencia (Jaen) que produz vinhos encorpados, com uma acidez fresca e bons taninos, com sabores de frutas escuras e herbáceos, onde os aromas apresentam-se limpos, elegantes e intensos, enquanto que ao nível da cor, com tons de cereja brilhante e contorno púrpura. Resultando em vinhos equilibrados, bem estruturados, redondos e amplos na boca. No entanto, outras castas tintas, também são vinificadas, mas de menor expressão, como é o caso do Brancellao (Alvarelhão ou Brancelho em Portugal), o Merenzao, a Grenache e Mouratón ou Negreda. No que diz respeito às castas brancas e em muito menor escala, mas cada vez a ganhar enorme importância e frequência, a casta branca denominada de Godello, proporciona vinhos brancos muito afrutados e com um fino toque de acidez, com um leve sabor residual e delicada presença no paladar. Para além desta, outras castas em franca expansão como o Alvarinho, a Trajadura, Doña Blanca, Loureiro e a Torrontés.

João Pereira, 

Enólogo 

 

 

 

REGINA VIARUM

Região: Ribeira Sacra (Galiza, Espanha)

Casta(s): Mencia (Jaen)

Produtor: Bodegas Regina Viarum, SL

Ano de Colheita: 2017

Preço: Entre 12€ e 16€

Álcool: 13.5%

Enólogo: desconhecido

Notas de Prova: Apresenta uma cor vermelho escuro com reflexos de cor purpura. Ao nível do sabor, este vinho marca pelo excelente volume de boca, assim como taninos finos, aveludados e elegantes de sabor a frutos vermelhos muito maduros com um final longo e prolongado. Ao nível do aroma, destacam-se os frutos vermelhos, especiarias e notas florais conjugadas com a tosta das barricas de Carvalho.

Harmonizações: Ideal para acompanhar carnes vermelhas e maturadas, assim como pratos de caça.

GUÍMARO

Região: Ribeira Sacra (Galiza, Espanha)

Casta(s): Godello

Produtor: Adega Guímaro

Ano de Colheita: 2020

Preço: Entre 10,00€ e 12,50€

Álcool: 13,0%

Enólogo: Pedro Perez

Notas de Prova: Apresenta uma cor amarelo-cítrica com reflexos dourados, brilhante e com aroma intenso e complexo, destacando-se aqui os aromas florais e de frutos de caroço. Na boca, apresenta uma boa acidez, equilibrada e um final longo, elegante, untuoso e harmonioso.

Harmonizações: Acompanha bem os mariscos e pratos de peixe branco e bacalhau; os risotos com cogumelos selvagens grelhados ou estufados, combinam perfeitamente com este vinho; o presunto de porco bísaro e queijos fortes curados de ovelha são também uma excelente harmonização. Muito bom também com carnes de aves de caça.

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