Miúda de um Planeta diferente

Beijinho de algodão-doce

Escrevo do início da felicidade à ponta da dor sem deixar cair a caneta presa ao coração, pois não consegui suspender o jardim que plantaste, e, sem imaginar o que isso me podia trazer, não sou capaz de calar o som das minhas expressões. Nunca saberias deste silêncio inquieto, se a minha teimosia não se equilibrasse ao que sinto. Seria mais fácil virar a página para não interromper as nossas vidas, mas quis o universo esbarrar-me contigo e aqui estou eu, a repetir a miúda da altura e com o coração colado ao peito. Escrevo-te a memória, mas é a tradução da emoção do que aquela manhã bonita de sol me trouxe ao coração. Chegaste para além de todas as constelações e o céu transbordava a ti. Julgava adormecido aquele pedaço de amor que me agitava sempre que eras tu. Na altura, era como se fosse o primeiro amor a entrar e, só de encheres o meu olhar, a terra era capaz de vibrar qualquer peso. Naquela manhã, descobri que a distância me levou para junto de ti e o que sinto é um desalinho dos meus sentimentos, perdi a capacidade de arrumar o que sinto em ficar calada num lugar seguro e escondido. Tu, rapaz do cabelo loiro invulgar, com jeitos de surfista que teimavas em desarranjar com as mãos, não me deixaste pisar a mesma areia ou mergulhar no mesmo mar, e o teu sorriso, que encaixava com a minha ingenuidade, inundou o meu coração com uma nuvem de purpurinas. Foi assim que o mundo permaneceu quando pela janela do meu quarto pousaste as tuas cores. Fomos capazes de juntar os nossos lábios por escassos segundos, mediante uma chuva de olhares e empurrões e gritos, e soubesses tu o quanto isso me transformou e me fez levitar com os pés fixos à terra. Nenhuma expressão existe para o tanto do que senti, e é uma memória tão imensa e intensa ainda hoje, que recordo nunca mais adormecer sem aquele sorriso inocente de quem tem tudo agarrado ao peito. Tu. Rapaz loiro. Fizeste-me sentir borboletas no estômago, mas foi contigo que consegui ganhar as primeiras asas. E eu voei com as asas que me deste. Eras o meu sonho da vida real, mas voares para sempre trouxe a chuva. Já não entravam melodias. Já não sentia a canção. Ver-te no presente devolveu novamente as estrelas, mesmo que pareça apenas magia. E foi. E é. E será. Mas que pelo menos consigas ouvir a música para além das expressões que o meu coração desenha, mesmo que eu já não seja a mesma do início. E, como uma daquelas cadeiras que nunca ficam bem assentes no chão, eu também não consegui que fôssemos uma pintura eternizada numa tela, mas espero que continue a haver o sol, mesmo estando do outro lado da ponte. E, por ter medo que não o saibas, por ter medo de o tempo passar rápido demais para to dizer, não quero deixar morrer a cor que espelho dentro de mim por, só mais uma vez, te ter visto, nem a forma como isso se manifestou com o mesmo significado da altura. Como se houvesse sequer a possibilidade de uma repetição. Marcaste o meu coração de algodão e eu nunca te vou ver em dias que não sejam de sol por tu trazeres a luz contigo. E, mesmo que não te veja mais o sorriso, ele surge nos meus olhos. Fazes parte da minha história, daquilo que eu tenho para contar. Estarás ao meu lado e em toda a minha existência. Em toda a minha essência.

Em todos os lugares

Tu surgiste sem uma preparação

Não tive tempo de dizer que não

Senti uma explosão de cores 

  Como se o meu coração cantasse 

Como se uma melodia me trespassasse

E eu não tivesse mais tempo 

Para te falar 

Apenas para te pintar.

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