O Minho mantém a tradição das vindimas como um momento de festa em que se conjuga o trabalho com o convívio. A Quinta das Pereirinhas, em Monção, é um exemplo onde a apanha da uva é sinónimo de labor árduo, mas também de reunião da família, amigos e clientes em confraternização.
Durante quatro dias, cerca de 50 pessoas, divididas entre as vinhas e a adega, tratam da recolha das uvas nos cerca de 10 hectares deste produtor de cariz familiar que se tem vindo a afirmar a nível nacional e internacional pela qualidade dos seus Alvarinhos.
Contrariando a ideia tradicional de que o momento da vindima é determinado apenas a olhar para a cor dos cachos, o responsável pela Quinta das Pereirinhas explica que há cada vez mais ciência e tecnologia em torno da vitivinicultura, sendo a definição da data da recolha das uvas crucial para a qualidade final do vinho.
João Pereira esclarece que há a recolha semanal de uvas para verificar a sua maturação, sendo a evolução dos açúcares e da acidez determinante para definir o momento ideal para a vindima. «As uvas são recolhidas em função das parcelas, da sua exposição e orientação, sendo separadas em função dos vinhos a que vão dar origem», adianta.
Depois de apanhadas as uvas, o trabalho continua na adega com a fase da vinificação. «O nosso trabalho só termina com o vinho dentro da garrafa e a ser servido nos restau- rantes ou nas casas dos nossos clientes», especifica.
Em relação à quantidade, este enólogo e consultor revela que a Quinta das Pereirinhas acompanha a tendência de uma ligeira quebra de produção que se perspetiva para a Região dos Vinhos Verdes, uma vez que este foi um ano difícil em termos climatéricos, com chuva em momentos cruciais para a vinha. No caso desta exploração, a diminuição vai ser compensada pelo aumento da área de vinhas novas, traduzindo assim a aposta deste produtor na reconversão das vinhas para assegurar a qualidade do vinho.
Relativamente à qualidade, este especialista antevê um ano de «bons vinhos», que apesar de não serem tão alcoólicos como nos anos anteriores vão ser bastante aromáticos.
João Pereira salienta que o facto de as vinhas estarem distribuídas por cinco freguesias permite ter uvas provenientes de solos diferentes, desde os 50 aos 250 metros, o que significa que mesmo trabalhando com a mesma casta se obtêm perfis aromáticos e de graduação alcoólica diferenciados.
Como novidades, este ano vai ser lançado um vinho da colheita de 2019 com maceração pelicular e fermentação nessas massas, com estágio em barricas de madeira, comercializado em garrafas de formato magnum (litro e meio).
A empresa vende os seus produtos com as marcas comerciais Quinta das Pereirinhas e Foral de Monção, sendo que esta é reconhecida pela icónica garrafa azul evocando aquele documento régio, num total de nove referências, entre brancos, tintos, rosés e espumantes, que têm arrecadado inúmeros troféus, destacando-se o galardão dos melhores Vinhos Verdes em três anos consecutivos.
A pandemia interrompeu um ritmo de crescimento que se estava a cifrar na casa dos quase 10 por cento ao ano, estando o volume de negócios na ordem dos 200 mil euros de faturação anual. As exportações representam entre 10 e 15 por cento.
Com uma produção cerca de 60 mil litros, a empresa não está na distribuição moderna, tendo o seu foco nos restaurantes, garrafeiras e consumidor final. O cliente pode encomendar e receber comodamente os produtos em casa, em qualquer ponto do país, ou comprar no posto de venda que existe na Estrada Nacional 202.
O enoturismo tem sido uma das apostas da Quinta das Pereirinhas, que está aberta a visitas, que podem incluir um passeio de “tuk tuk”. A quinta possui um espaço museológico onde os visitantes podem ver artefactos como um esmagador manual, uma prensa, um balseiro, tonéis com mais de 80 anos restaurados ou utensílios diversos. Numa parceria com produtores locais, aqui também é possível comprar algumas iguarias típicas, como compotas, queijos ou enchidos.
Entre os projetos a médio prazo está a recuperação de umas casas em ruína que existem na propriedade para alojamento local, de forma a criar condições para que os hóspedes possam participar nas atividades da quinta, como podar ou vindimar.