Integrada na Licenciatura em Ciências da Comunicação da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da UCP-Braga, a disciplina de Fotojornalismo, a meu cargo desde 2010, tem procurado dar expressão pública aos trabalhos realizados no 2º ano do curso. Procuramos treinar o olhar e ativar a curiosidade dos estudantes, convocando-os a construir pequenas peças jornalísticas ilustradas com fotografias da sua autoria. Este ano, continuamos consigo, na MINHA. O grupo de repórteres de serviço [Joana Rebelo, Liliana Martins, Maria Gabriela Silva e Ricardo Ferreira] está inscrito em Fotojornalismo. Mas criámos espaço para todos os alunos da Licenciatura em Ciências da Comunicação, do 1º ao 3º ano poderem colaborar também. Agradecemos
o entusiasmo dos que aceitaram o desafio de participar na construção desta Perspetiva Zero, esperamos construir páginas agradáveis e bem motivadas, a pensar nos nossos leitores. A verdade é que continuamos muito felizes com esta oportunidade e esperamos que os nossos leitores nos acompanhem e gostem dos trabalhos que apresentamos. Agradecendo a coragem de quem tão bem nos acolhe, somos CC. Assumimos e reforçamos o projeto Perspetiva ZERO – porque estamos a recomeçar, em tema livre nesta edição.
Luísa Magalhães,
Professora Auxiliar
Incêndios florestais
Ao longo dos anos, os incêndios florestais têm tido um forte impacto na biosfera do nosso planeta. À medida que o tempo passa, as paisagens montanhosas do nosso país ficam cada vez mais vulneráveis nas mãos do ser humano. Tornam-se hectares e hectares de pura destruição, muitas vezes graças à mão humana. Segundo o estado português, 60% dos incêndios florestais em território nacional acontecem de modo propositado, devido a queimas sem vigilância ou a queimadas que não respeitam as normas de segurança decretadas pelo estado. Por sua vez, entre 20 e 25% são incêndios ocorridos por negligencia ou por causas acidentais e 15% dos incêndios ocorridos verificam-se devido a causas desconhecidas.
Graças ao decreto de lei do estado, é necessário ter uma licença para fazer queimadas, existindo ainda uma lei promulgada que visa a limpeza de terrenos privados em espaços urbanos e urbanizáveis, facilitando, desta forma, o controle e a prevenção dos incêndios. Constantemente vemos mais noticias de catástrofes naturais, mas principalmente relatos de incêndios e de pessoas que perderam todos os seus bens, ou que morreram a tentar salvar tudo aquilo que lutaram ao longo da vida para ter, apenas porque uma pequena fogueira ficou descontrolada.
Cabe-nos a nós, cidadãos do mundo, preservar a natureza que nos rodeia e que nos acolhe. Temos o dever de defender a biodiversidade existente no mundo, de maneira a que esta dure longos anos.
Gabriela Silva
O Amor
É uma fotografia da minha autoria, amadora e sem quaisquer tipos de edição, tirei-a recentemente, em Barcelona, quando fui visitar uma amiga que se encontra lá a estagiar. Imediatamente, tornou-se a minha fotografia favorita. Transmite-me felicidade e uma certa tranquilidade, pela inocência que esta idade já nos traz num mundo mais evoluído do que aquilo que a vista alcança.
Presumo que este casal ronde os oitenta anos e considero-me uma eterna romântica por acreditar que esta relação dure “desde os tempos do liceu”, como diria a minha avó. Conseguimos, também, perceber a rotina… provavelmente saíram de casa, o senhor foi ao quiosque comprar o seu jornal que o acompanha durante o dia debaixo do braço, tomaram o pequeno-almoço no café mais próximo, presumo, e em seguida vão ver as novas caras que se vêm pela cidade. De mão dada, como manda a tradição, como simbolismo da confiança que perdura ao longo dos anos, e por cima de todas as adversidades.
Infelizmente, nos dias de hoje, e nas novas gerações, as relações e o amor já não são vistos como algo que vá durar a vida toda, mas sim como algo passageiro, para nos satisfazer momentaneamente. Não acredito nesta ideologia, se calhar por isso, considero-me uma romântica, como referi anteriormente. Acredito que as relações sejam para durar e que, quando a começamos, significa que encontramos um parceiro/a para a vida.
Sonho em voltar a ver o verdadeiro amor, a felicidade nas pessoas apaixonadas, voltar a ver as rotinas que confortam a alma, e os olhos brilhantes de pessoas concretizadas, em ver mais fotografias como esta espalhadas pelo mundo. Porque num mundo cinzento, o que salva é o amor.
Inês Vasconcelos
Ser mulher
Dei por mim a refletir sobre qual seria a fotografia que, até hoje, continua a marcar a minha conduta e as minhas convicções. Acabou por ser em vão. Rapidamente, o meu pensamento guiou-me para várias personalidades, por isso, preferi juntá-las numa só fotografia. Toda ela evidencia o que é ser mulher e eu posso comprová-lo.
Ser mulher é ser mãe, amiga, avó, irmã, profissional, colega, doméstica, psicóloga e esposa a toda a hora. Sem férias ou feriados. É ter a habilidade de fazer múltiplas tarefas simultaneamente e ser capaz de oferecer ao mundo futuros revolucionários. Ser mulher é entender que existe uma força sobrenatural intrínseca a ela, que, outrora, foi roubada, limitada e anulada durante séculos. É ser domesticada e moldada pela religião e cultura da sociedade em que está inserida. Ser mulher é lutar contra o machismo, é acelerar o passo quando vagueia por ruas escuras e pouco movimentadas, e, mesmo assim, ter dentro dela o desejo de explorar e conhecer cada canto do seu mundo. É ter de ser vítima de assédio sexual e corresponder aos padrões de beleza que a sociedade impõe. Ser mulher é ser compro- metida pela sua fisionomia em detrimento das suas capacidades intelectuais. Bem, … este peso é e foi car- regado por cada mulher representada na fotografia. Por detrás de cada sorriso existe uma história comum a todas e que, cada vez mais, a sociedade tenta camuflar e normalizar.
Mas a vitimização é algo que não assenta na figura feminina. A resiliência é inerente a cada rosto que se encontra presente na imagem (e a tantos outros). É exemplo disso Beatriz Ângelo, que foi a primeira mulher em Portugal a conseguir exercer o direito ao voto. Ou, então, Marie Curie, que foi impedida de seguir para o ensino superior por ser mulher e procurou uma instituição de ensino clandestino, o que, mais tarde, levou a que se tornasse uma das mais importantes cientistas do mundo. Também Simone Veil, que ficou conhecida por ter sido a primeira mulher a presidir no Par- lamento Europeu e, enquanto Ministra da Saúde, ter defendido um projeto que despenalizou a interrupção voluntária da gravidez em França. Ou, então, Fátima Guimarães, que completou apenas o 3º ano do 1º ciclo e sacrificou a sua educação em detrimento de ajudar os pais a sustentar a sua numerosa família. Acabou por conseguir constituir a sua própria família e financiar estudos universitários aos seus filhos.
Ainda que nem sempre valorizada, toda e cada mulher, com a sua história de vida, dá o seu contributo para a evolução da humanidade, independentemente da cor de pele, escolaridade, crença religiosa ou estatuto social.
Joana Rebelo
A fotografia
O ato de fotografar tornou-se recorrente. Um ato acessível, comprovado pela gaveta cheia de fotografias guardadas e que, de vez em quando, abro para poder recordar. São imensos os sentimentos e reações que elas nos podem trazer e fazer sentir, de acordo com a nossa interpretação.
Pode ser aquilo que vemos e queremos guardar, que futuramente nos vai ajudar a reviver e ilustrar melhor aquilo que vimos. Através delas podemos mostrar aquilo que queremos e, além disso, a forma como queremos que as pessoas as vejam.
A importância que a fotografia passa é relativa. Uma fotografia tirada na praia, que pode ser vista de diferentes formas, mas que para mim guarda um dia feliz, de vários passados nela. Através dela consigo mostrar uma parte da vista deslumbrante que contemplei e além disso revivê-la numa memória mais avivada. Nela, além do que é observável, vejo-me a estender uma toalha na areia, a conversar enquanto ouço as ondas que se desfazem e algumas gaivotas que complementam aquele som. Volto a sentir a água gelada nos meus pés, enquanto seguro as calças para que não se molhem.
A fotografia transmite uma pequena parte de tudo o que vi, mas é capaz de me fazer viver tudo de novo e guardar de maneira mais vivaz aquele dia, para sempre.
Liliana Martins
Emoção da 8ª arte
Viajar, arte e a melhor companhia, a família. Esta é a “receita” perfeita para a minha fotografia preferida, por mim tirada.
Nunca percebi as pessoas que tiram fotografias a paisagens, quando a verdadeira beleza da 8.a arte é captar emoção, que pode apenas surgir no fotógrafo, mas talvez seja por isso que é uma arte tão íntima.
Porquê a escolha de uma fotografia aleatória de pessoas a abraçarem-se?
Apresento-vos a minha mãe e o meu pai no impressionante Buddha Eden. Uma visita obrigatória ao maior jardim oriental da Europa e onde fomos parar este verão. Podia passar horas a descrever as estátuas da Joana Vasconcelos ou as esculturas com inspiração vindas do Japão até África, mas escolhi esta fotografia por outro motivo: as pessoas no centro do grande plano.
Com 26 anos de casamento, ainda consigo apanhar estes momentos, que para eles são desprevenidos e, para mim, enchem-me o coração. Um simples abraço acredi- to que seja subvalorizado. Olho para esta fotografia com carinho e sempre com um sorriso na cara. O poder que esta tem é imensa. Mas não é exatamente isso que uma fotografia devia fazer? Mexer com os sentimentos de uma pessoa, independentemente da sensação.
Henri Cartier-Bresson, o grande fotógrafo do século XX, mencionou que “para fotografar é colocar na mesma linha de visão a cabeça, o olho e o coração”, sendo essa, exatamente, a minha visão quando tirei a fotografia escolhida para este momento.
Rita Ceia