O destino deste mês de abril, para quem é de Braga, não é muito longe e até permite ir e voltar no mesmo dia, sem grandes dificuldades, a não ser que haja uma distração pelas pastelarias ou restaurantes próximos da sugestão que temos para si.
O GPS deste mês tem como rumo o concelho vizinho de Vila Verde, mais concretamente a freguesia de Soutelo, que possui um património muito interessante e, ao mesmo tempo, com muita curiosidade.
No Minho não há quem não conheça o Santuário de Nossa Senhora do Alívio, que está celebrizado na música popular. Quem é que não se lembra da “Senhora do Alívio” cantada nos anos 80 pelo Grupo Raízes, de Vila Verde, e agora mais recentemente pelo Daniel Pereira Cristo? “Ó Senhora do Alívio, o que dais a quem vos vai ver. Um terreiro para dançar e água fresca para beber. Ó Senhora do Alívio o que dais a quem vos vai ver”.
Pois bem, é para lá que nos dirigimos. Este é um grande santuário que tem a sua origem numa promessa feita por um sacerdote que, no século XVIII, era pároco de Soutelo, a freguesia onde está o templo. Conta a história que o padre Francisco Xavier Leite Fragoas estava muito doente, piorando de dia para dia, ao ponto de o médico o dar como um caso perdido. Mas, o sacerdote nunca perdeu a fé e implorou a proteção de Nossa Senhora porque queria acabar as obras que começara na igreja da freguesia. Numa manhã, o criado, como fazia todas as manhãs, foi levar o pequeno almoço ao padre e viu uma luz misteriosa que saía pela frincha da porta. Esperou um pouco mas, como não ouvia nada, bateu à porta. E, quando entrou, a luz desapareceu e o doente estava curado. O padre Francisco Fragoas revelou ao criado que Nossa Senhora o tinha aliviado da sua doença e, por isso, não só iria acabar as obras da igreja, como também erguer um santuário à Senhora do Alívio.
Assim, em 1974, o pároco pede autorização ao Arcebispo de Braga, D. Frei Caetano de Brandão, para construir o templo no lugar de Gândara que, inicialmente, indefere o pedido, só aceitando o segundo requerimento para a construção de uma capela com o título de Nossa Senhora Maria Santíssima.
A nova igreja, certamente uma primitiva que não aquela que conhecemos hoje, foi benzida a 7 de setembro de 1798, fazendo este ano 222 anos de existência. São dois séculos de um lugar sagrado onde chegam todos os dias manifestações de fé. E, depois de visitar o santuário, não deixe de ir espreitar a Casa das Promessas, também conhecida por Cada das Cobras, por ter cobras embalsamadas e oferecidas por fiéis. A mais antiga data de 1818, tratando-se de uma jibóia capturada no Brasil. Conta a história que um emigrante nas Terras de Vera Cruz, natural de Vila Verde, encontrava-se num mato a cortar madeira quando, a certa altura, se sentiu cansado. Para descansar um pouco, resolveu então sentar-se num tronco que, afinal, era uma jibóia. Na aflição, dirigiu-se a Nossa Senhora do Alívio, prometendo entregar no Santuário a pele daquela cobra se a conseguisse matar, o que veio a acontecer. Hoje, a jibóia embalsamada pode ser vista juntamente com outras que foram entregues por antigos combatentes na Guerra do Ultramar.
Não muito longe do Santuário de Nossa Senhora do Alívio está a igreja paroquial de Soutelo que o padre Francisco Xavier Leite Fragoas reformulou e cujas obras foram concluídas em 1782, com uma grande festa de inauguração.
Aqui temos um pormenor muito curioso. É a quantidade de imagens de santos que foram colocados a mando do padre Francisco Xavier Leite Fragoas ao longo de todo o muro do adro da igreja. O curioso é que o sacerdote, que se chamava Francisco, escolheu, para além de S. Pedro, S. Paulo e dos Arcanjos Rafael e Gabriel, nove santos com o nome de Francisco. Um destes santos é S. Francisco Xavier que, por coincidência ou não, também se encontra em lugar de destaque dentro da igreja. E a única mulher presente no adro da igreja de Soutelo é Santa Joana Francisca de Chantal.
José Ferreira
Jornalista