Opinião

Montanhas russas

Gosta de montanhas russas? De pequeno, sempre fugia delas. Enjoava com muita facilidade, pelo que só de as ver ficava com náuseas. Apesar disso, é de montanhas russas que vos quero falar; dos altos, dos baixos e das voltas que nos deixam de pernas para o ar.
Em 2002, estava de máscara, de fato branco de proteção, com luvas, botas de borracha e fita adesiva a selar tudo o mais hermeticamente possível, numa praia da Galiza. Estava a recolher “chapapote”, a ajudar na remoção das 42 mil toneladas de petróleo que nesse ano chegaram à “costa da morte”. Foi um momento de crise que mobilizou milhares de pessoas vindas de todo o mundo sob um lema: “Nunca mais!”. Talvez o leitor tenha estado comigo nessa praia.
Limpar as praias constituiu uma vitória face à maré negra. Um momento alto. Contudo, a montanha russa continua… tal como já o fez no passado. Desde os anos 60, cinco barcos já derramaram toneladas de petróleo nas costas galegas. Pergunto-me: quantas vezes voltaremos a limpar as mesmas praias? Quantas vezes repetiremos os mesmos erros?
As nossas vidas pessoais não são isentas dessas reviravoltas. Após alguns anos, num momento de viragem pessoal, percorri essas costas, de bicicleta e sem telemóvel, seguindo os trilhos do caminho de Santiago. Conheci pessoas inspiradoras à procura do mesmo que eu: de tempo para refletir e de uma nova perspetiva sobre a vida. Conheci uma professora alemã, sozinha de bicicleta desde França. Estava à procura do seu sorriso, perdido entre a carreira e um casamento desgastado. Conheci um pai e um filho a restabelecer os seus laços ao peregrinar juntos, entre risos e gargalhadas. No fim do dia, todos reunidos nos albergues, surgiam momentos de partilha inesquecíveis. Recordo com especial carinho a frase de um peregrino polaco: “Sometimes the caminho gives, sometimes the caminho takes”. No fim da minha viagem, após 400 km, decidi mudar de profissão, mudar de país e encontrei a minha felicidade em Portugal.
Este foi um momento alto e aqui poderia terminar este relato. Mas a montanha russa continua… Nos últimos anos, aprendi que a perspetiva da vida outrora criada naqueles trilhos e caminhos pode ficar embaciada e descolorida com o tempo, com as preocupações e as desavenças. Mas podemos sempre voltar a imaginá-la com cor. Como? Seria tentador pedalar novamente pelo caminho de Santiago. Por agora, proponho algo menos radical. Descobri recentemente um calendário atípico, com 52 colunas e 80 linhas: uma linha equivale a um ano de vida. Há quem insira 100 linhas para arredondar (esses, são os otimistas). Ao assinalar as linhas que já viveu, pode ver o tempo ainda por escrever. Resta pensar como o quer aproveitar. Em que ponto se encontra no calendário da sua vida? Que desejo ainda almeja?
Não perca tempo e avance com as suas aspirações, apesar dos altos, dos baixos e das reviravoltas. No fim de contas, o que nos diverte nas montanhas russas não é a chegada, são as voltas que damos!

Alberto Lema
Psicólogo e membro do Braga Toastmasters

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