Primeiro, eu disse que queria ter uma planta. Achei bonito. Achei que faria sentido e que seria natural para mim cuidar dela. Escolhi uma orquídea, porque, sendo quem sou, não podia começar de forma modesta, com algo resistente como uma suculenta. Não.
Fui logo para a liga dos campeões do cuidado de plantas. Comprei a orquídea cheia de entusiasmo. Imaginei-a a florescer durante meses, a oferecer-lhe a quantidade certa de luz, água e amor. Nos primeiros dias, cumpri o prometido regando-a com a delicadeza de quem cuida de um tesouro raro – por aqui vemos logo que comecei mal, que as orquídeas são para regar com parcimónia. Falava-lhe. Mudava-a de lugar para que apanhasse sol indireto e mais uns lugares-comuns de entendedores de orquídeas. Estava convicta de que ia ser capaz de perceber logo todas as complexidades de uma planta ligeiramente suicida. O tempo foi passando. E, com ele, passou também o entusiasmo. Fui deixando de olhar para ela e de reparar se as folhas estavam viçosas ou se o substrato secava. Deixei de perceber se precisava de mais luz ou menos água porque o foco já não estava lá. A planta foi murchando devagarinho, de forma quase impercetível, até ao dia em que percebi que já não havia nada a fazer.
Estava morta. Com alguma vergonha – e alguma teimosia – comprei outra. Desta vez, prometi a mim mesma que seria diferente. Durante algum tempo, de facto, pareceu que sim. Bastaram umas semanas mais atribuladas – mais trabalho, cansaço, falta de espaço mental, outras prioridades que se impuseram – para começar a esquecer-me. Primeiro foram só uns dias, depois a inconsistência passou para níveis mais consistentes. Quando tentei compensar com cuidados apressados, já era tarde. Entendi que o problema não era a falta de vontade. Eu queria ter uma planta bonita.
Mas querer não é suficiente. Nunca foi. Só quando eu decidi que aquela rotina ia fazer parte da minha vida – e não ser apenas uma coisa que ficava para o meu tempo vago – é que consegui mantê-la viva. Só quando deixei de a ver como algo bonito para os dias bons e passei a integrá-la nos meus dias, nos bons e nos maus, é que a coisa mudou de verdade. As boas intenções não mantêm plantas vivas, nem as promessas que fazemos a nós próprios em dias de sol. É o cuidado diário. A atenção constante. A escolha deliberada de cuidar, mesmo quando há mil outras coisas a puxar por nós. Mesmo quando não apetece. Mesmo quando parece que não é grave se for só mais um dia sem regar. Entre o querer e o fazer existe uma distância considerável, que se percorre todos os dias, com pequenas ações que, somadas, se tornam em algo. Este texto não é necessariamente sobre plantas.
Carolina Galeão Figueiras
Marketeer e voz do podcast Ideias a Mais (www.ideiasamais.pt)