Roteiros

Roteiros pelo Património (Celorico de Basto)

Como é sabido, o mês de junho é o mês dos santos populares, tempo que se festeja na rua, ao cheiro da sardinha assada e se dança ao som das marchas populares.

Pelo menos era assim até há pouco tempo, quando não havia pandemia, quando não estávamos obrigados a uma série de limitações. Hoje, com a consciência que devemos fazer tudo para evitar a propagação da doença que atinge o mundo, temos que ir retomando uma vida que se pretende que seja normal, mas com todos os cuidados. E, no mês dos santos populares, uma das possibilidades de celebrar é aproveitar os dias de calor que aí vêm para visitar o nosso património em família. E neste mês, Santo António e São Pedro que me perdõem, sugiro-vos uma visita ao lindíssimo Mosteiro de São João Baptista de Arnoia, em Celorico de Basto.
Eu acho que, ao longo destes anos em que aqui tenho escrito, nunca destaquei um monumento de Celorico de Basto, o que é uma falha gravíssima da minha parte. Pois, este é um concelho de grande riqueza patrimonial, com raízes que se enterram nos séculos do tempo. Exemplo disso mesmo é o Mosteiro de São João Baptista de Arnoia. Para lá chegar, não é muito difícil, uma vez que, do centro de Celorico de Basto até lá são poucos quilómetros de distância.
A fundação do Mosteiro de S. João de Arnóia está envolto em incertezas, não se sabendo ao certo a data em que terá sido erguido e quem terá sido o responsável pela sua criação. Há várias teorias baseadas em fontes históricas que nos dão a certeza que este é um mosteiro da Alta Idade Média, mais concretamente do século X ou XI, portanto, anterior à nacionalidade portuguesa. No início era chamado de S. João do Ermo por ser em terra agreste.
Segundo o autor da “Beneditina Lusitana”, o lugar escolhido para construir o mosteiro não foi por acaso. «Parece que os fundadores, como o queriam edificar em honra de S. João Baptista, buscaram lugar semelhante ao deserto (…) que ficava entre Jerusalém e Jericó, no qual o glorioso Baptista viveu quando saiu a baptizar e a pregar nas ribeiras do Jordão», afirma Frei Leão de S. Tomás.

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Já no século XIX, mais concretamente em 1834, o Mosteiro de São João de Arnóia não escapou ao decreto de 30 de Maio, assinado por Joaquim António de Aguiar, conhecido na história pelo “Mata Frades”, que extinguiu em Portugal as Ordens Religiosas.
No entanto, passados 34 anos, o mosteiro voltou a ganhar vida, tendo nele sido instalado um hospital pertença da Santa Casa da Misericórdia de Celorico.
A instituição fundada por Geraldo José da Cunha em 1868, teve os seus estatutos aprovados por Carta Régia de D. Luís, a 14 de Outubro de 1867, confirmada por provisão de 8 de Janeiro de 1868 do Arcebispo de Braga, D. José Joaquim Azevedo e Moura. Hoje, este é um monumento a visitar, lembrando o padroeiro S. João Baptista, cuja festa popular se celebra no dia 24 de junho, com sardinhas assadas e, atualmente, com alguma folia limitada com a família.

No regresso a casa, não se esqueça de voltar a passar por Celorico de Basto, apreciar as inúmeras camélias que aqui foram plantadas ao longo dos séculos. Apenas a título de curiosidade…. a camélia mais antiga da Europa está, precisamente aqui, em Celorico de Basto. Talvez um dia voltemos a esta curiosidade.

José Carlos Ferreira
Jornalista

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