Não sou natural de Braga. Nasci numa casa de família, no lugar de Vila Nova, na freguesia de Ferral, em Montalegre. Nesta pequena e bonita terra, fiz a primária e permaneci até aos 10 anos de idade. Depois, mudei-me para Braga, juntamente com os meus pais e irmão mais novo. A minha primeira impressão quando cá cheguei foi de deslumbramento. À minha frente, uma grande cidade e os sonhos tomaram conta de mim. Rapidamente, fiz amigos. Muitos deles, continuam a sê-lo nos dias de hoje. E recordo que um dos momentos que mais me marcou nesses primeiros tempos, foi o S. João. A casa encheu-se de gente, com tios e primos em alegre convívio. Os bailaricos, as rusgas, as marteladas, os manjericos, os balões, os carrosséis, tudo era mágico. Até mesmo o cheiro intenso da sardinha assada! As ruas invadidas por tendas de comes e bebes e vendedores ambulantes, vestidas de cor, agitação e folia. O sobe e desce entre a avenida da Liberdade e o parque da Ponte. Fiquei radiante e completamente entusiasta das festas da cidade, desde esse primeiro contacto. A alegria das pessoas era contagiante e eu mergulhei nesse “mundo”. Com orgulho, faz parte da minha vida desde a primeira vez que o vivi. E todos os anos, essa alegria pulsa o meu coração. Além do S. João de Braga, também presenciei outras festas populares. Desde o S. João do Porto às Antoninas de Amares, Vila Verde e Famalicão, passando pelo S. Pedro das Taipas e da Póvoa de Varzim. Acredito que as festas dos santos populares sejam vividas de uma forma muito parecida. Porque têm algo que lhes é comum. A alegria do povo, a tradição, a arte de bem receber, a exímia gastronomia e a genuína diversão. Em 2020 foi, contudo, diferente. A Covid-19 ditou que esses momentos não seriam vividos e a ordem era ficar em casa. A alegria deu lugar à desilusão. Pela primeira vez, não senti a emoção de vários anos. Tempos estranhos, estes, em que os “vivas” aos santos ficaram confinados a “quatro paredes”! Este ano, não será muito diferente. Mas sente-se já uma luz ao fundo do túnel, como que “anunciando” que, brevemente, tudo será novamente sentido. Que assim seja, porque quero voltar a ser aquele menino de 10 anos que vibrou com alegria a todo este esplendor. Viva os santos populares!
O DIRETOR, VASCO ALVES