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Maternidade e Crianças

O meu casamento

Lembro-me de ir a caminho da Igreja, no carro do meu cunhado, com o meu padrinho de casamento ao lado e pensar que provavelmente não ia aguentar um ano casada. Achava que o casamento não era para mim, apesar de querer a festa, o vestido e, acima de tudo, o noivo. Não era dele que tinha medo, era de mim, de estar convencida, não sei bem porquê, que não tinha sido feita para uma relação e para viver com  um homem. Não queria filhos, queria dedicar-me à minha carreira profissional que, na altura, estava em ascensão. Quis, no entanto, no meu casamento, ser guiada pelos homens mais importantes para mim. Entrar na igreja de braço dado com o meu pai ainda vivo, ter os meus sobrinhos (que são quase da minha idade e criados como irmãos) ao meu lado, e o meu cunhado, que foi sempre tão presente na minha vida desde pequena. Casei, sem dúvida, com o homem da minha vida, mas foi uma relação que se foi construindo e outras tantas vezes destruindo. Nunca acreditei no amor para a vida toda, porque acho que a vida nem sempre se contenta só com amor, mas acredito piamente no amor de uma vida. 

O amor que se vive depois do casamento é muito diferente do amor que vivemos antes, é um amor seguro nos gestos, preso nas rotinas, mas, ao mesmo tempo, livre, porque vive o que é real, sem artifícios, e não se ilude nem perde em expectativas fúteis. É um amor que adormece cinco minutos depois de as crianças estarem deitadas, mas com a certeza que está onde quer estar e que não se deixa ludibriar por tudo aquilo que acontece fora de casa. Apesar dos dias cheios, a vida de casal não se esfuma nos gestos repetidos, renova-se antes em cada “bom dia” ensonado às seis e meia da manhã, e em cada “boa noite” pronunciado entredentes e já meio adormecido. Porque o amor vai-se reinventando nos pequenos hábitos rotineiros e também nos menos vulgares, em que se partilha a alegria dos primeiros passos dos filhos, no orgulho ostensivo de sermos o objecto de sua admiração.

Porque amar depois do tempo, depois dos filhos, depois da rotina, depois do cansaço, é somente para os fortes que não desistem da memória de tudo o que os juntou e do que construíram e desconstruíram para chegarem ali, àquele momento em que regressam ao dia em que se casaram e voltam a dizer que sim, para a vida toda, as vezes que forem precisas. Porque o amor também é feito de pequenos gestos, todos os dias, e não apenas de grandiosidades ocasionais, não vive em loucuras espaçadas mas antes no hábito que já não se estranha. Como é que se faz para que as relações sobrevivam ao peso do tempo não sei, mas sei que aquela menina cheia de dúvidas que eu era cresceu e tornou-se mulher madura e dissolveu as dúvidas daquele seu primeiro dia nas certezas do resto da sua vida. 

Sofia Franco
www.notjust4mums.wordpress.com
@notjust4mums

 

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