Maternidade e Crianças

Não é a escola que a muda

A Luísa coloca a sua mochila às costas muito devagar e com cuidado, vai carregada com livros, mas mais sonhos. 

A mãe ajeita-lhe também a mochila nos ombros e ao mesmo tempo ajeita-se a si. 

Arruma na estante o medo e deixa para trás a ansiedade do primeiro dia de aulas da sua filha, e do seu.

É o primeiro dia da Luísa na “escola grande”, essa instituição capaz de abalar gigantes, quanto mais a sua Luisinha, tão pequena e com tanto peso nas costas, que caminha já vergada.

Mas a Luísa parece  não sentir o peso que carrega nos ombros e muito menos se deixa vergar, não sabe que na mochila leva também as tristezas da mãe, todos os primeiros dias que lhe correram mal, não sabe que vai consigo uma menina enfezada, de óculos fundo de garrafa e com o cabelo crespo que se esforçava para se integrar, a Luísa-mãe.

Luísa já não é só a Luisinha, é também a sua mãe, é também todos os sonhos que ficaram por alcançar, todos os deveres não cumpridos e todos os direitos não exigidos.

Luísa tem em si todos os nomes de todos os meninos maltratados, do António “rodas baixas”, Da Inês “caixa de óculos”, da Catarina “perna fina”, ou do João “chorão”.

E lá vai ela, menina entregue à sorte e ao Mundo, pelas mãos da sua mãe, que a abraça em frente ao portão grande como se todos os males estivessem para lá dele. 

Mas entrega-a com um sorriso e a menina a sorrir vai feliz. E vai segura. Do outro lado do muro espera-a a vida e já agora a Catarina que foi para a mesma escola. 

Chega a casa com o joelho esfolado e o cabelo desalinhado, mas vem feliz, ela diz.

Conta à mãe que o dia na escola foi mesmo divertido, que adorou os amigos novos e a professora é simpática.

Vai deitar-se cansada de tantas novas emoções, não sabe que a escola é mais que aprender a ler, é sobretudo aprender a viver.

E a mãe, senta-se a ver televisão, mais confusa que tranquila. Pensa que afinal a sua menina vai ficar bem. Não é miúda de se ficar, a sua menininha. Não é como ela, enfezada e de pernas tortas. E de pequena só tem o tamanho, porque na alma é grande. 

Ficou por adivinhar que esteve sozinha metade do recreio sem ninguém para brincar. 

O joelho esfolou-o de trepar a árvore, mas o vestido rasgou-o quando defendeu a Catarina do insulto do João. É que bravura não lhe falta e ainda se lembra bem dos ensinamentos da mãe. Não haverá escola que a mude.

Luísa é menina de bem, de fazer o que está certo, e de beijar a sua mãe.

Sofia Franco
www.notjust4mums.wordpress.com
@notjust4mums

 

 

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