Há muito tempo que me chamas através da suprema poesia, mas não posso dizer-te a verdade do que sinto neste momento, não sei de onde é que isto vem ou nasce, e quem me dera ser corajosa o bastante para me libertar deste mundo de cor que se quer fazer explodir de dentro de mim. As cores são as tuas e eu só as guardo aqui, bem perto, onde mora o coração. Continuas longe mesmo próximo e, quando te abeiras, parece que o mundo quer tremer, parece que o mundo desaba à minha volta e só restamos os dois. Como se um mais um fosse um. Nós. Penso que uma tempestade se aloja em cada órgão do meu ser e é como se uma música fosse inventada quando chegas, a mais bonita que possa existir, e uma melodia fizesse cada pelo do meu braço eriçar, sem que tu te apercebas da magia que é criada ali, no momento em que os nossos olhares se cruzam. E eles querem ser mais do que um desvio efémero e veloz do momento, eles querem aproximar-se e beijar-se e irromper o silêncio da noite. Se soubesses como a tua presença me perturba e transforma… E eu não posso dizer-te, não posso explicar-te cada emoção que me move a epiderme, não posso dar-te mais do que o escutar do meu coração… Não posso partilhar-te para além de mim. Tu não sabes, mas eu sei.
Há tanto de mim em ti que não sei explicar. Não sei entender como me agitas sem eu sequer sair do lugar e como é que o meu mundo, que é igual ao teu, ganha cor. A tua chegada foi, aos poucos, provocando no meu ser uma panóplia de emoções, és como o sol a nascer num dia de chuva e os nossos olhos a verem algo tão raro como gigante demais para encaixar na Terra. Tens um jeito de rapaz sincero e imperfeito na sua perfeição, uma maneira ímpar de rechear o meu planeta interior, e eu não sei como te dizer tudo isto e mais aquilo que já existe em mim mas que ainda não tem definição. Não, não é amor. Eu sei. É uma espécie de bichinho qualquer que me assusta quando te posso assistir a presença. Mas o que chamar a este bichinho? Será só mais um encanto que os meus olhos vislumbram? Fará isto parte de uma mania que eles têm de gostar de paisagens que transcendem a normalidade? És uma visão rara que entrou e aproximou o meu âmago de mim mesma.
Há qualquer coisa na vontade de te tocar, há qualquer coisa na vontade de te verbalizar, há qualquer coisa na vontade de criar poesia só para te deixar registado em versos a vida inteira. Criaste um castelo dentro de mim e agora vives nele, como se fôssemos possíveis na impossibilidade, como se fôssemos imortais na mortalidade. Tens em ti todas as cores a brilhar de uma forma que tu não vês, de uma forma que só eu vejo e sei que é real. Mas se for só um sonho, então, eu prefiro não acordar, porque não te ter será como entrar num pesadelo, e será chuva o tempo mais certo a morar dentro de mim, sem eu sequer pedir.
O segredo do sol no teu peito quando regressas é como uma espécie de flor púrpura a entrar pelo meu nevoeiro da madrugada, mas que se dissipa com a tua brisa e cheiro a café misturado com as violetas que trazes nas mãos, como se um ramo me oferecesses pela manhã, e quero que te demores mesmo sem tempo. És o simples da eternidade e és como o aproximar dos flancos matinais a fazer o bater do meu coração. A tua presença é como misturar o rumor das águas no sol das sementes quebrando o meu silêncio interior. Agora vivo dentro do teu mundo, como se fosses o céu azul e um verso na poesia que faz um barco flutuar no mar. E, como arte poética, inseriste no meu mundo um jardim de girassóis. Nada se desvincula de ti ou do primeiro crepúsculo que inicias. Eu juro que te vejo todos os dias, apesar de não te encontrar como desejo. Não me questiones como eu sinto tudo isto, mas há um respirar de luz em mim que não me deixa dilacerar esta intensidade que me alveja o coração. E, mesmo que eu não te possa dizer, mesmo que eu não consiga abrandar este ritmo de inquietação que chega contigo, as folhas da árvore que plantei não quedam órfãs. Acho que vais brilhar sempre, como a primeira estrela que conheci, quando tu já alimentavas a luz coada pela minha janela interior. E serás sempre o lugar onde irei guardar mais nostalgia.
Juliana Gomes, escritora
E-mail: [email protected]
Instagram: @juli_ana_juli