Sofia Franco é mãe, esposa, cronista e tantas outras coisas que os dias exigem. Fundou o blog “Not Just 4 Mums” e é com ele que ocupa grande parte do seu tempo. Foi com a maternidade – tem três filhas: de 8 e 5 anos e uma bebé de 8 meses – que descobriu as novas emoções que hoje em dia a fazem procurar e dar a conhecer incessantemente exemplos femininos de irreverência e persistência. A Minha desafiou a Sofia a escrever mensalmente uma crónica relacionada com a maternidade. Este mês fala-nos disso mesmo: do que é ser mãe, dos desafios diários e de um amor que nunca acaba.
Nunca ninguém me disse que a maternidade não são só rosas, que há dias em que não apetece levantar e tudo o que quero é que ninguém me venha acordar às sete da manhã para ligar a televisão, tomar o pequeno-almoço ou fazer xixi. Também há noites em que não durmo, por uma febre, uma dor de barriga ou uma virose qualquer. Há dias e noites assim. Porque é que ninguém me disse que não ia ser sempre fácil? Há dias em que penso como seria a minha vida sem filhos, há dias em que fico pasmada a olhar pela janela sem vontade de despir o pijama. Também tenho dias desses, dos difíceis, dos que apetece hibernar em casa, esconder a vida debaixo de um cobertor e dar uma caneca de café à mente para acordar.
Ninguém me preparou para o que sinto nesses dias maus em que coloco em causa a minha vocação como mãe. Passei a gravidez a preparar-me para a “tal” maternidade cor de rosa, por isso sabia que podia ser normal sentir-me perdida e incapaz. Sempre me disseram que ser mãe é o melhor do mundo, e eu concordo, mas podiam ter-me dito que ia estar cansada muitas vezes, que dar de mamar dói, que uma palmada vai magoar-me mais a mim, que um grito vai deixar-me de rastos o resto da semana. E quando olho para mim própria e percebo que não tive tempo de tomar banho, ou não me lembro da última vez que comi, depois de ter passado o dia a trocar fraldas e a dar de mamar, estou cansada e deixo cair uma lágrima, é nesse momento que alguém devia ter-me dito que é normal e justo sentir-me assim.
Deviam ter-me preparado também para todas as respostas tortas, noites sem dormir, fardas para engomar, contas de subtrair. Porque é importante saber que vou sentir-
-me triste em alguma altura do meu dia, que vou querer estar sozinha mais vezes e que sentir a falta do silêncio e comer chocolates também é permitido a quem é mãe. Também devia saber que posso escolher dar de mamar ou não, ficar em casa ou ir trabalhar e que não há escolhas erradas. Por isso vou dizer-vos o pouco que sei sobre a maternidade depois de três filhas: não há fórmula certa, não há dias iguais, não te compares com o que vês, aceita o que és, adapta-te e, sem pressa, tira tempo para aprenderes a ser mãe, chora quando tiveres de chorar para que possas rir em todos os outros momentos. Aprende a relativizar e aceita que nem tudo corre bem. É mesmo assim. Somos mães, mas não deixamos de ser mulheres. Com a maternidade ganhamos capacidades que antes não sabíamos ter, aprendemos a andar na rua com o coração fora do peito, a sorrir quando queremos chorar (e choramos muitas vezes). Aprendemos a viver com medo e a disfarçar a tristeza com sorrisos. Somos uma mãe mas muitos ofícios. Temos dias maus e então? A maternidade é um segredo bem guardado e, mesmo na imperfeição dos dias, tudo o que quero é que o nosso tempo não passe tão depressa, que os dias tenham mais horas e as horas mais minutos, que um segundo não seja um instante e que num instante elas não sejam já mulheres. O tempo vai levar as memórias dos seus rostos pequeninos e, um dia, quando acordar, já tenho rugas na cara, casa vazia e saudade no olhar. E, num instante, vou desejar ter trabalhado menos e passeado mais, ter gritado menos e conversado mais, ter chorado menos e gargalhado mais. Vou desejar ter dado mais beijos, abraços, colo e mimos e querer de volta todos os dias maus.
Porque é que ninguém me disse que uma vida é pouco para amar?
Sofia Franco
www.notjust4mums.wordpress.com
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