Roteiros

Por terras de Esposende

Os artistas ao longo dos séculos cultivaram um carinho especial por Maria, mãe de Jesus e, consequentemente, mostraram um especial enfoque na temática da maternidade.

Vejam-se os quadros dos grandes mestres ou a imaginária dos escultores, onde Maria é representada com o Menino Jesus ao colo, ou na dolorosa Pietá, onde o sofrimento da Mãe com o filho morto ao colo não deixa ninguém indiferente.

Uma das invocações de Maria mais antigas em Portugal é a Nossa Senhora do Amparo. Na Arquidiocese de Braga existem 35 altares onde se venera esta Mãe sempre pronta a ajudar quem precisa, e há cerca de 19 capelas a Ela dedicadas com este nome.

Hoje, venha comigo conhecer um destes locais de culto mais importantes no distrito de Braga! Falo-lhe do Santuário de Nossa Senhora do Amparo, no lugar de Criaz, na freguesia de Apúlia, em Esposende. Chegar lá não é complicado. Saindo de Esposende, vai para a Apúlia pela Estrada Nacional 13, atravessando a bela ponte de Fão. Depois de passar a vila e a Estação Radionaval da Apúlia chega ao cruzamento onde, à esquerda, tem a capela de S. Bento. Vire para aí e, ao fundo, chega à rua do Pelourinho. Num pequeno ziguezague, primeiro à direita e depois à esquerda, entra na rua de Nossa Senhora do Amparo. A capela está à sua frente.

Não é o templo primitivo, mas vale a pena conhecer a igreja que foi construída na segunda metade do século XVIII. As gentes da Apúlia têm uma grande devoção à Senhora do Amparo desde, pelo menos, 1771, vindo aqui procurar amparo para os seus problemas.

Voltamos agora à estrada, e entramos na EN13, de onde viemos, seguindo o sentido para Esposende. O nosso destino é Fão, onde não pode deixar de provar as famosas Clarinhas, feitas com chila. E, ao chegar ao centro da vila, depois de as degustarmos, tomamos a indicação do Parque de Campismo. Vamos até perto da praia e, na rua António Aires, viramos à direita onde, pouco depois, nos vai surgir, também à direita sobre uma duna a capela de Nossa Senhora da Bonança. Depois do colo do Amparo, é Maria que acalma as tempestades que visitamos.

Aqui, neste lugar, a poucos metros da praia, são os pescadores que prestam homenagem a Maria e que lhe pedem a Bonança para que a faina no mar seja produtiva. 

 

As portas da entrada da capela que encontra não são as primitivas e originais, tendo sido substituídas por umas novas. Não porque estivessem velhas, mas porque são objeto de estudo das siglas* dos pescadores da Póvoa de Varzim. Ainda hoje há quem ali vá marcar, com a ponta do canivete, o símbolo da sua família no dia da festa ou no pagamento da promessa.

E, se aqui Maria é Bonança, também podia muito bem ser farol na noite. Mesmo pegado à capela está o Facho da Bonança que, no século XVI tinha como missão ser a orientação de todos aqueles que se deslocavam de barco pela nossa costa. Era, portanto, um farol que pertenceu ao Regimento dos Fachos da Borda-Mar. No interior, numa zona descoberta, havia um poste e todas as noites era içada uma bandeira com óleo acesso para que os pescadores vissem que estavam perto dos chamados “Cavalos de Fão”, dos quais se deviam afastar.

Antes de irmos embora, e já que estamos em Fão, não podemos deixar de visitar o mais relevante cemitério medieval da Península Ibérica. Esta necrópole não está muito longe. Fica no lugar das Barreira. Foi escavada e estudada pelos melhores especialistas.

Ao todo são 170 sepulturas, datadas entre o século XI e o século XIV, que estão disposta de forma aleatória, mas quase todas com uma posição canónica definida. Ao longo da escavação houve uma sepultura que não deixou ninguém indiferente. A mãe e o filho morreram e foram sepultados juntos. Ao escavar, os arqueólogos perceberam que a mãe foi sepultada abraçada ao filho que foi depositado no seu peito. Uma imagem de maternidade que comoveu e ficou na memória de todos. 

 

*Siglas Poveiras
Sistema de comunicação usado na Póvoa de Varzim, durante séculos, em especial pelos pescadores, que as utilizavam para identificar as diferentes famílias

Deixar comentário