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Atelier Viana Cabral: Dulcineias a quatro mãos e dois corações

Os enamorados percebem-se à distância. São os olhos brilhantes, o sorriso adolescente, os gestos tímidos, o carinho na voz. Vivian Viana e Ricardo Cabral continuam a olhar-se como quem acaba de se descobrir, apesar de já serem casados e de o seu amor já ter dado frutos: uma filha, uma inspiração, e as Dulcineias, peças criadas a quatro mãos e dois corações.

O casal conheceu-se ainda durante o Ensino Secundário e voltou a reencontrar-se no Ensino Superior, onde ambos estudaram Design de Produto no Instituto Politécnico de Viana. O projeto terá começado em 2005, 2006, quando os dois, já sob o nome de Atelier Viana Cabral, sonharam peças que utilizassem uma baixa tecnologia.

“As primeiras peças que fizemos eram em pasta de papel, algo que se pode fazer manualmente, e a partir dali nunca mais paramos. Deu-se a curiosidade de, no ano em que fizemos a primeira peça, serem celebrados os 400 anos da primeira edição do Quixote de La Mancha: é por isso que as nossas peças se chamam Dulcineias. Precisávamos de um nome para as batizar e deu-se esse acaso feliz. É essa também a razão para elas terem sempre os olhos fechados: são essencialmente sonhadoras, tal como a amada de D. Quixote”, explica Ricardo.

À nossa frente, as Dulcineias dançam timidamente em cima da mesa. A base em madeira arredondada dá-lhes movimento, faz com que ondulem suavemente. Vemos cabelos amarelos e laranja onde repousam pequenas coroas, vestidos com motivos florais e minhotos, mãos que aconchegam, corações  que adornam os trajes.

Ricardo diz que o objetivo das Dulcineias passa pela transmissão de uma mensagem que percorre um caminho entre dois corações. As mais pequeninas, as “Mensageiras”, aconchegam-se facilmente na palma da mão. As figuras são acompanhadas de um pequeno cartão que explica o significado da peça. Nem sempre foi assim, mas a partir do momento em que perceberam a importância que os compradores davam à descrição das Dulcineias, passaram a fazê-lo sempre.

A mensagem ajuda a transmitir a identidade poética e dimensão simbólica das peças
e do conceito.

“As mensagens têm a ver connosco, com a poesia que queremos transmitir. Queremos tocar as pessoas! Quando alguém olha para a peça, pensa logo na pessoa a quem a vai oferecer… Por isso irá procurar sempre a simbologia mais adequada a essa pessoa”, explica Vivian.

Apesar da beleza das Dulcineias, o casal admite que as peças são capazes de tocar mais emocionalmente do que fisicamente, daí o desafio da sua criação. Quando questionados sobre o processo de criação e fabrico – que pode demorar vários dias – dizem que não há segredos.

“Não há segredo, o segredo está em nós. Costumamos dizer que isto é um trabalho feito a quatro mãos e dois corações. Quem quiser saber o segredo basta ter bom coração”, sorri Ricardo. Vivian anui e explica que a estrutura em madeira faz parte de um processo semi-industrial, mas tudo o resto, desde a pasta de papel à pintura, é inteiramente artesanal.

E há mais amor nas Dulcineias: as primeiras nasceram da colaboração com jovens da APPACDM, que tratavam a madeira. Ainda hoje o Atelier Viana Cabral mantém esta colaboração. Quando criaram a “Senhora do Leite” fizeram-no em parceria com a CERCI de Braga. Dulcineias inclusivas, portanto.

Há Dulcineias para todos os gostos: encontramos a Frida Khalo, Nossa Senhora das Dores, Senhora da Agonia, bailarinas minhotas, meninas do mar. As figuras masculinas são em menor quantidade, sobretudo porque o Atelier Viana ainda não encontrou a forma ideal para as criar.

“Temos muita dificuldade em fazer personagens masculinas. Já fizemos algumas mas é muito mais complicado trabalhar uma iconografia masculina. A feminina é sempre mais apetecível.

Esteticamente é mais fácil!”, dizem, humildemente. Ambos querem perpetuar o movimento e o sonho nestas novas criações e sentem que ainda não o conseguiram fazer de forma perfeita. Mas garantem que está para breve!

Apesar de já terem tido um Atelier aberto ao público em Braga, neste momento Ricardo e Vivian optaram antes por um espaço virtual. Sentiam-se frustrados quando alguém os tentava visitar e estavam ausentes, por isso escolheram manter o Atelier em casa e chegar ao público de outras formas. Há muitas lojas que já vendem as Dulcineias, mas é através da página de Facebook do Atelier Viana Cabral que se podem fazer encomendas. Ricardo e Vivian enviam as peças por correio para todo o lado. Não é de espantar, portanto, que as Dulcineias já tenham viajado um pouco por todo o mundo como Marrocos, Nova Zelândia, Suíça, Canadá, França ou Brasil.

Projetos para o futuro? Ricardo e Vivian sorriem misteriosamente. Estão em fase de estudo e planeamento do produto, mas prometem novidades para a altura da Páscoa.

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