A carreira de Val Kilmer é daquelas que se cruzam com a própria história do cinema norte-americano. Nascido a 31 de dezembro de 1959 em Los Angeles, Califórnia, Val Edward Kilmer cresceu numa família onde a arte tinha espaço, mas foi com a perda precoce de um irmão que o jovem Val mergulhou de forma mais intensa no teatro. Estudou na prestigiada Juilliard School e logo demonstrou talento para personagens complexas. O seu primeiro grande papel no cinema chegou em 1984, na comédia Top Secret!, onde já se vislumbrava a sua aptidão para a transformação camaleónica. A década de 1990 foi o auge da sua fama: Kilmer deu vida a figuras lendárias com uma entrega rara.
Foi Jim Morrison em The Doors, Doc Holliday em Tombstone, e até o próprio Cavaleiro das Trevas em Batman Forever. A sua interpretação de Holliday, em particular, é considerada por muitos uma das mais intensas da história do western moderno. Contudo, por detrás das câmaras, Kilmer era conhecido por ser exigente, até mesmo difícil. Perfeccionista, lutava por cada detalhe das suas personagens, o que nem sempre era bem acolhido em produções de grande orçamento.
Mas essa mesma paixão era o motor da sua arte. Nos anos 2000, a fama começou a esmorecer. Os papéis tornaram-se menos frequentes e os holofotes menos intensos. Em 2015, Val enfrentou o maior desafio da sua vida: um cancro na garganta que o deixou com dificuldades em falar e com mudanças físicas profundas. Muitos pensariam que seria o fim de uma carreira. Mas Kilmer reinventou-se. Com coragem e uma honestidade desarmante, documentou a sua luta no emocionante Val (2021), um documentário construído a partir de décadas de filmagens pessoais. Nele, revela-se um homem sensível, espirituoso e profundamente artístico, que nunca deixou de criar, seja através da pintura, da escrita ou da performance, mesmo com limitações vocais. Val Kilmer foi um símbolo de resiliência criativa, um artista que ousou ser vulnerável perante o mundo, sem perder a essência que o tornou único.
A sua participação em Top Gun: Maverick (2022), ainda que breve, foi um tributo emocionante ao seu legado e uma prova de que o talento verdadeiro nunca desaparece. Val Kilmer faleceu a 1 de abril de 2025, com 65 anos, vítima de uma pneumonia.