Por Aí

Roteiros pelo património | VILA NOVA DE CERVEIRA

TXT: José Carlos Ferreira

O ditado diz que em “abril águas mil” e, por isso, o destino deste mês permite o melhor dos dois mundos, ou seja, aproveitar o exterior entre uma aberta e outra, e visitar o interior de um espaço repleto de cultura enquanto a chuva cai lá fora.

O nosso destino em abril é o antigo Convento de S. Paio, em Vila Nova de Cerveira, que, nos dias de hoje alberga a coleção que o escultor José Rodrigues foi reunindo ao longo da sua vida, e várias das suas próprias obras.

O Convento de S. Paio, localizado na freguesia de Loivo, foi fundado em 1392 por frades franciscanos provenientes da Galiza, sendo seu fundador o frade franciscano Gonçalo Marinho, que aproveitou o local onde já havia uma pequena ermida.

É interessante notar que, para além do Convento de S. Paio, estes religiosos vindos da Galiza fundaram mais quatro conventos neste mesmo ano de 1392. Embora os investigadores tenham tentado estabelecer uma cronologia seguindo várias fontes documentais, aqui limitamo-nos a referir que, a par de S. Paio, foram fundados neste mesmo ano, por estes monges, os Conventos de Monte, em Viana do Castelo; de Mosteiró, em Valença; da Ínsua, em Caminha; e em S. Clemente das Penhas, em Matosinhos.

O Convento de S. Paio caracterizava-se por estar num local de isolamento e que proporcionava aos monges uma vida cheia de dificuldades.
A atual aparência do Convento de S. Paio do Monte não é a sua traça original, ou seja, a da sua fundação no século XIV. Na verdade, a configuração arquitetónica que chegou até nós é aquela que foi introduzida no século XVII e depois ampliada no século XVIII.

Ora segundo Carlos A. Ferreira de Almeida, foi precisamente no século XVII que este cenóbio foi reedificado, tendo por base as regras monásticas. E uma dessas mesmas regras definia que ao centro do quadrilátero devia situar-se o claustro, com o seu espaço ajardinado. No seu livro “Pelos Caminhos do Património de Vila Nova de Cerveira”, o investigador acrescenta que, ainda segundo as regras, para este claustro «abria-se a arcatura que dava acesso às celas da casa monacal, à sala do capítulo e à igreja conventual», sendo, precisamente, este o desenho arquitetónico que o Convento de S. Paio apresenta. Entretanto, já no século XVIII, mais concretamente em 1732, as fontes do- cumentais dão-nos conta de terem sido efetuadas obras de ampliação das instalações dos frades neste Convento de S. Paio. A avaliar pelo relato que vem escrito nas Memórias Paroquiais de 1758, podemos depreender que o Convento de S. Paio era um pólo de atração de muitos fiéis, sobretudo no dia do padroeiro. Contudo, a lei da extinção das ordens religiosas, publicada a 30 de maio de 1834, veio “matar” este cenóbio fundado no século XIV.

Abel Varela Seixas, em 1930, no livro “O Convento de S. Paio”, conta que, depois desta lei, o Estado tomou conta do edifício, «alugando-o por vezes», tendo-o vendido, «volvidos doze anos ao Dr. Manuel Xavier, de Caminha». «Por sua morte ficou na posse de seu filho que o vendeu tempos depois a José de Faria Pereira desta vila, pertencendo hoje ao seu herdeiro Joaquim José de Faria Sampaio», acrescenta.

Em 1974, o Convento de S. Paio, ou melhor, as suas ruínas cati- varam o escultor José Rodrigues. Numa deslocação ao local, o mestre afirma que foi «um encantamento». «Fiquei encantado com isto. Quem é que não fica? As ruínas, o nevoeiro, S. Francisco… Percebia-se tudo», recorda. Questionado se percebeu logo que tinha que reconstruir este monumento, José Rodrigues respondeu afirmativamente. «Percebi que sim, mas não sabia como. Ainda hoje não sei como é que reconstruí. Mas tinha alguém que me empurrava», salientou em entrevista ao Diário do Minho.

O Convento de S. Paio do Monte foi, então, recuperado pelo artista José Rodrigues desde que o escultor se deixou encantar por este monumento e o seu espaço, em 1974, até 1990. Hoje, servindo de sede da Associação Cultural Convento de S. Paio, o monumento é muito mais do que um museu. É o local onde todos podem conhecer a obra do artista José Rodrigues, falecido a 10 de setembro de 2016, e as peças que ele foi colecionando ao longo da sua vida e pelos locais por onde passou.

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