PIC Miguel Viegas e DR
O Parque Natural Regional do Vale do Tua convida os visitantes a darem-se ao luxo de uma experiência de contacto com a natureza em estado puro. O Tua Festival de Percursos Pedestres, que decorre até outubro, é um “aperitivo” para descobrir um território com um património natural único, nos concelhos de Carrazeda de Ansiães, Mirandela, Alijó, Vila Flor e Murça.
A mesa apresenta-se farta, na sede da Associação Cultural e Recreativa de Linhares, em Carrazeda de Ansiães, garantindo que os 250 participantes na caminhada de arranque da terceira edição do Tua Festival de Percursos Pedestres têm energia para os quase dez quilómetros do PR5 CRZ – Trilho das Quedas d’Alto.
Depois das calorosas boas-vindas do presidente da Câmara Municipal, João Gonçalves, e do diretor do Parque Natural Regional do Vale do Tua (PNRVT), António Luís Marques, Domingos Pires, da PortugalNTN, empresa de turismo de natureza responsável pela estruturação do programa do festival de caminhadas, dá as rigorosas instruções de segurança, de forma a garantir que todos usufruem da experiência sem contratempos.
Feito o aquecimento inicial, segue-se para a caminhada com uma mochila de pano às costas, contendo um cantil e um copo de metal, de forma a reduzir o consumo de garrafas de água de plástico, contribuindo assim para a preservação do ambiente.
Percorrem-se as ruas da aldeia até que se avança para uma área de vinhas, lembrando que o município faz parte do Douro Vinhateiro, classificado como Património da Humanidade pela UNESCO, e depois para uma zona onde a natureza ainda luta para voltar a cobrir de verde as tristes marcas negras de carvão deixadas pelo incêndio de grandes dimensões que há anos fustigou aquele território.
A determinado ponto há que tomar a decisão de seguir a pé para a parte mais exigente do percurso, mas também a mais bonita, ou prosseguir no carro de apoio. O dilema é fácil de resolver: pega-se numa barra energética caseira, feita com figos e mel, e continua-se a caminhar.
Poucos metros à frente, os olhos regalam-se com o surgir do rio Douro no fundo do vale. Ainda a apreciar a beleza do curso de água a serpentear a paisagem, eis que somos apanhados de surpresa pelo esplendor da enorme cascata que dá nome ao trilho: Quedas d’Alto, uma queda de água com vários metros de altura, numa paisagem selvagem, a exigir uma paragem para absorver tanta beleza em bruto.
Com o silêncio entrecortado pelas respirações ofegantes, que a pureza do ar ajuda a apaziguar, sobe-se uma inclinação íngreme. Mais acima, o som da concertina anuncia que se avizinha um lanche para retemperar as forças.
Depois de mais uma mesa repleta de iguarias, segue-se rumo a outro local emblemático do percurso: os passadiços que atravessam a ribeira de Linhares.
Com a companhia do murmurar da ribeira, aprecia-se um antigo forno de secagem de figos, um moinho e um campo com colmeias, até se voltar a avistar a aldeia, onde chama a atenção o Solar dos Sampaios, destacando-se a frontaria com a pedra de armas da família – que foi detentora do Couto de Linhares e porta e janelas exuberantes.
Com a visita ao Castelo de Linhares, localizado no promontório granítico sobranceiro à aldeia, a ficar para outra ocasião, é possível apreciar a Igreja Matriz setecentista e o pelourinho, antes do regresso à Associação Cultural e Recreativa de Linhares, para um almoço tradicional.
Natureza selvagem e vibrante
Depois da caminhada, o diretor do PNRVT refere que a terceira edição do Tua Festival de Percursos Pedestres começou da melhor forma, no dia 23 de março, dando a conhecer a natureza «muito selvagem e vibrante, exigente também, mas de enorme valor» que existe no parque natural, fazendo com que a contemplação deste património único seja o «novo turismo de luxo», numa época em que o dia-a-dia da vida nas cidades é marcado por trânsito e stress.
«É um turismo de luxo porque é raro. O Parque Natural tem ativos para quem gosta mesmo de estar num sítio fenomenal, de experiências singulares, genuínas, que não consegue ter noutro local.
Se vierem a Vale do Tua, vão ter uma experiência de vida que é fenomenal, que será marcante, porque este território é tão belo, mas ao mesmo tempo desafiante. E, portanto, vir a este território é assumir também desafios e estar aqui em comunhão com uma área natural que é potente, é estar em partilha, sentado à mesa, com as comunidades locais, porque isso faz uma diferença enorme», diz.
António Luís Marques salienta que esta é uma iniciativa de sucesso, tendo as inscrições para a primeira caminhada esgotado em apenas três semanas. Paralelamente, cerca de meia centena de participantes inscreveram-se para as cinco caminhadas, «o que significa que as pessoas têm vontade de fazer estes percursos, mas também receio de depois não terem vaga para poderem participar, o que nos deixa muito entusiasmados», declara.
O responsável explica que, desde o início, este evento foi trabalhado de forma «muito profissional». Em seu entender, este produto «está estruturado, tem mercado e tem procura», o que significa que foi «lançado à terra e pegou bem», tendo a capacidade de atrair pessoas de vários pontos do país e de fora dele, de diversas faixas etárias.
Aposta no astroturismo e observação de aves
Admitindo que os percursos pedestres são «um produto forte» no Vale do Tua, o diretor realça que o parque «tem mais ativos», que vão ser trabalhados «de uma forma mais ativa». António Luís Marques explica que um desses “tesouros” é o «astroturismo, porque ele é singular». O Vale do Tua é um destino “Dark Sky”, certificado como “Destino Turístico Starlight”, tendo sido a primeira área protegida em Portugal e a terceira região do país a conseguir esta designação, depois do Alqueva e das Aldeias de Xisto.
«Na região Norte do país não há nada pensado conforme nós temos planeado para este território do Vale do Tua», revela, adiantando que foi apresentada uma candidatura ao Turismo de Portugal, com a expectativa que venha a ser «uma alavanca» para esta área, de forma a atrair «outros públicos» para o território.
Confrontado com este projeto, o secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, que participou no seminário de arranque o festival de percursos pedestres, no dia 22 de março, referiu que «o astroturismo é uma prática que está a crescer em Portugal». «Do meu ponto de vista, desde que a candidatura reúna as condições técnicas, tem tudo para ser aprovada. Mal seria que assim não fosse, até porque estamos também a contribuir para diversificar a oferta daquilo que, hoje, Portugal tem nos seus 22 produtos turísticos», vinca.
O responsável pelo PNRVT aponta também a aposta na observação de aves, valência em que Carrazeda de Ansiães tem grandes potencialidades, uma vez que é o local no país onde existe a maior comunidade de chasco preto, uma ave que está em risco de extinção. «É um produto que o país consome, é um produto que o mercado internacional consome, é um produto que traz pessoas de distâncias longas e, portanto, a permanência também se torna mais longa, e é esse tipo de visitantes que o território quer», declara.
«O “birdwatching” tem ativos fortes para poder pegar, desde que estejam ancorados a outras coisas que o território já tem e que nós não podemos perder», sustenta, referindo a necessidade de manter sustentabilidade ambiental aliada à sustentabilidade cultural, através da preservação «da cultura, da tradição, da forma de estar e do modo de vida das pessoas deste território».
O dirigente adianta que está a ser preparada uma candidatura ao Norte 2030, com o objetivo de valorizar o património natural do PNRVT. «Vamos criar condições para proteger e para valorizar aquilo que é o potencial natural do Vale do Tua, porque este é que é o seu grande ativo. Se nós não o protegermos, não o valorizarmos, não criarmos condições para que se possa manter, perdemos aquilo que é a nossa grande porta de entrada», assevera.
Envolver as comunidades locais
O diretor do PNRVT enfatiza a importância de envolver as comunidades locais, pois estas são a chave da preservação do território. «Temos de envolver as comunidades de forma concreta, partilhar os problemas com as pessoas e chamá-las para as soluções», declara.
Na sua opinião, «é preciso ouvir as pessoas e tentar conjugar as vontades». «Fazer a gestão de paisagem pode trazer benefícios efetivos para estas comunidades. Se fizermos uma gestão de combustíveis, estamos, para além de protegermos o parque, a criar condições para que algumas práticas agrícolas ou de pecuária possam acontecer, nomeadamente uma coisa que é tão cara a esta região, que é o pastoreio extensivo», exemplifica. Por seu turno, Domingos Pires refere que o programa do festival de caminhadas pretende, a partir da estrutura física que existe no território, os percursos pedestres homologados, usar esse ativo para fazer a dinamização e a promoção, não só dos percursos em si, mas também de todo o território e de todos os seus produtos de excelência».
O responsável pela PortugalNTN, juntamente com João Neves, dá conta da satisfação pela adesão ao seminário técnico que decorre no início de cada edição do evento. «É um contributo que damos para o território e para o enriquecimento do conhecimento sobre as atividades de turismo de natureza e a forma como as devemos encarar e potenciar», sustenta.
Datas
Depois do arranque em Carrazeda de Ansiães, o Tua Festival de Percursos Pedestres decorre em Mirandela, a 26 e 27 de abril; em Alijó, a 24 e 25 de maio; em Vila Flor, de 5 a 7 de setembro; e em Murça, a 4 e 5 de outubro. As inscrições podem ser efetuadas online, em https://parque.valetua.pt/ tua-festival-percursos-pedestres/.
Turismo ganha importância em Carrazeda de Ansiães
O presidente da Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães, João Gonçalves, afirma que o turismo tem vindo a ganhar importância para a economia local. «O setor primário é o mais importante em termos de volume de negócios no concelho, mas o turismo tem assumido cada vez mais importância no nosso território», declara.
O autarca refere que os municípios do Vale do Tua sempre acharam que «o turismo podia ser um pilar fundamental para estes territórios, para complementar as principais atividades económicas que aqui se desenvolvem».
Relativamente ao município, realça que o património natural é uma das suas «maiores riquezas», acrescentando a vertente histórica, com o castelo e a vila amuralhada de Ansiães, a igreja de S. Salvador, o Museu de Memória Rural e o Centro Interpretativo do Vale do Tua.
No sentido de criar uma nova atratividade, a Câmara Municipal está a investir perto dos 2 milhões de euros na construção de um balneário definitivo nas Termas de São Lourenço, que vai permitir a utilização daquelas águas termais essencialmente para a vertente de bem-estar, tirando partido do lugar idílico onde estão implantadas.
No dia 12 de abril, a partir das 15h00, vai ser apresentada a nova Via-Sacra do Santuário da Paixão, com esculturas da autoria de Paulo Moura, numa cerimónia presidida pelo bispo de Bragança-Miranda, D. Nuno Almeida, que vai incluir o concerto Requiem em Ré Menor, OP.48, de Gabriel Fauré. Posteriormente, de 17 a 19 de abril, decorre a Feira do Folar e Produtos da Terra, com destaque para comercialização do famoso folar típico de Trás-os-Montes, num certame que promove a economia local, cultura, tradições e turismo. «Por ocorrer num período festivo, de reunião de famílias e amigos, este é um ponto de encontro, um espaço de convívio e um motivo de atração para que visitantes e turistas acorram a Carrazeda de Ansiães por estes dias», convida o edil.
Turistas procuram autenticidade e genuinidade
O presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, salienta que os turistas das grandes cidades dos EUA, Canadá, Médio Oriente ou Ásia procuram «autenticidade e genuinidade», o «novo luxo» que o Vale do Tua pode apresentar aos mercados internacionais. «O Porto e Norte de Portugal é, sem dúvida, um destino de excelência para os amantes do turismo de natureza», afirma, considerando que, no Vale do Tua, «o equilíbrio entre o homem e a natureza traduz-se numa experiência inesquecível».
Este responsável congratula-se com os resultados registados no ano passado na região, com 14 milhões de dormidas, 7.400.000 hóspedes e mais de 1.000 milhões de euros de receitas na hotelaria.
Cita o relatório da Comissão de Coordenação e Desenvolvi- mento Regional do Norte que indica que «o turismo no Norte atingiu máximos históricos em 2024, consolidando-se como um dos motores da economia regional», classificando esta frase como «uma vitória para o setor do turismo».
O dirigente defende que é preciso «desafiar os empresários a apostarem no território do Douro e Trás-os-Montes», elogiando a PortugalNTN pela «excelente promoção que tem efetuado deste território», traduzida na conquista de troféus internacionais de filmes de turismo.
Em relação a 2025, espera que «venha a ser um grande ano», contando para o efeito com o reforço da conectividade aérea para o Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Como grande conquista, anuncia que a Delta Air Lines vai começar a voar entre o aeroporto John F. Kennedy (Nova Iorque) e o Porto, em 2026, mas com expectativa que esta data possa ser antecipada.