Roteiros

Roteiros pelo Património

VILA VERDE

José Carlos Ferreira

O mês de fevereiro é, segundo a tradição, denominado o mês dos namorados, pelo facto de se celebrar a 14 deste mês o dia de S. Valentim.

No Minho, não há dúvidas que este mês dos namorados assume a sua maior expressão no concelho de Vila Verde que, tendo por base os Lenços de Namorados, promove iniciativas praticamente todos os dias.

Por isso, o Roteiro pelo Património de fevereiro não podia deixar de passar por Vila Verde e por um dos seus maiores símbolos em termos patrimoniais, o Santuário de Nossa Senhora do Alívio.

O culto e a devoção a Nossa Senhora do Alívio, na freguesia de Soutelo, teve a sua origem com o padre Francisco Xavier Fragoas. Segundo os testemunhos que chegaram até nós, num momento particularmente difícil da sua vida, em que padecia de problemas de saúde, Nossa Senhora terá respondido aos apelos do sacerdote, aparecendo-lhe para o aliviar da doença que o atormentava.

Segundo reza a história, o sacerdote ficou subitamente doente quando andava empenhado na conclusão de umas obras destinadas a consolidar a igreja paroquial de S. Miguel de Soutelo.

Acamado, o estado de saúde do sacerdote foi-se deteriorando e os médicos acabam por diagnosticar-lhe um «mal de muita gravidade». O pároco soube aceitar o desígnio de Deus. No entanto, o seu desejo era não morrer enquanto não tivesse concluído os trabalhos na igreja paroquial que tinha iniciado. Num momento supremo de angústia, o sacerdote dirigiu preces mais fervorosas a Nossa Senhora, prometendo, se o curasse, de erguer um templo em sua honra. Num dia de manhã, e como era costume, o velho criado que o acompanhava dirigiu-se ao quarto do sacerdote para lhe servir o pequeno almoço. Antes de entrar, e quando se aproximava da porta, reparou numa luz estranha que saía pela frincha. Pensando que alguém tivesse entrado e acendido a luz sem o seu conhecimento, decidiu esperar um pouco antes de servir o pequeno almoço. Como não ouviu nada, bateu à porta. E, quando entrou, a luz misteriosa já tinha desaparecido e o doente estava diferente. Foi então que o padre Francisco Xavier Leite Fragoas revelou ao seu criado que Nossa Senhora lhe tinha aparecido e lhe tinha prometido que o curaria, para que pudesse concluir as obras da igreja.

O padre Francisco Xavier Leite Fragoas, uma vez restabelecido da sua doença, quis de imediato cumprir a promessa feita a Nossa Senhora de construir um templo em seu louvor. Uma igreja dedicada à Senhora que lhe aliviou o sofrimento e lhe permitiu continuar com as obras na matriz. O pároco escolheu, então, o lugar da Gândara para edificar a igreja e, em 1794, remeteu ao Arcebispo Primaz de Braga, D. Frei Caetano Brandão o pedido para a construção. 

Após um processo complicado, com um primeiro indeferimento, o Arcebispo de Braga acabou por deferir o requerimento do padre Fragoas, podendo ele edificar «hua Capella com titulo de Nossa Senhora Maria Santíssima, visto se ter satisfeito e constituído Património para a conservação e fabrica della e será edificada em lugar enxuto, e decente, com a porta principal para o público, sem ter algua, nem fresta, para casa particular, e será feita com toda a perfeição devida».

Na Casa das Promessas, anexa ao santuário, um pormenor que salta logo à vista são as cobras que ali existem e que foram doadas por fiéis, daí que esta sala seja também conhecida pela Casa das Cobras. A mais antiga data de 1818, tratando-se de uma jibóia capturada no Brasil por um emigrante natural de Vila Verde que se encontrava no mato a cortar madeira. Pensando estar a sentar-se num tronco para descansar, sentou-se numa jibóia e, na aflição, recorreu a Nossa Senhora do Alívio, que o salvou deste perigo, prometendo entregar a cobra no seu santuário se a conseguisse matar. 

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