Márcia Costa é Terapeuta da Fala desde 2012. Depois de várias experiências profissionais na área, decidiu inaugurar, em 2019, o CTEB, um centro terapêutico e educacional, onde assume o papel de Coordenadora Clínica e Técnica. Com uma vasta experiência na área e uma paixão pelo desenvolvimento infantil, procura diariamente incutir em todos os seus projetos a importância da saúde e do autocuidado rumo a uma vida mais saudável.
«É preciso ter a ousadia para sonhar, fé para acreditar, a coragem para avançar, a resiliência para esperar e humildade para agradecer»
Podemos começar por conhecer um pouco melhor a Márcia Costa. Como se define a nível pessoal e profissional?
A Márcia é uma sonhadora cheia de Fé que acredita num mundo melhor. Resiliente é uma das palavras que me define. Trago na bagagem da vida a ausência de um amor materno e por isso cresci com o sonho de um dia ter um, que neste momento tenho, mas por inversão de papéis, sou mãe e tenho esse amor em mim pelas minhas filhas. Cresci de forma abrupta e nenhuma criança deveria crescer assim. Construí os meus pilares, os meus valores, as minhas ideias na base de um sonho que um dia sonhei ser e que desde muito cedo sabia porque lutava. Queria uma família! E este caminho levou a um dos pilares mais importantes do CTEB, a família como parte integrante da equipa num processo terapêutico. Existem momentos que acontecem na nossa vida que vão muito para além da nossa compreensão e, por isso, estes não nos definem, apenas fazem parte do caminho. Sou uma apaixonada pela área da saúde. Investigar, estudar, ter mais conhecimento e formação leva-me a que todos os dias possa ser melhor para quem acompanho. Tal como o mundo está em constante mudança, a área da saúde está em constante descoberta e enquanto profissionais de saúde temos de acompanhar estas evoluções para uma prática baseada na ciência. Neste momento, atravessamos uma fase onde já se começam a ver os efeitos dos primeiros anos da nova era digital. As crianças de hoje serão aquelas que estão a crescer com novas formas de olhar o próximo e o mundo. Se pensarmos que são os adultos do futuro que tomam decisões sobre o rumo da vida neste planeta, o que podemos fazer hoje para que o amanhã seja o que desejamos? A comunicação e a interação entre as crianças, jovens e até mesmo adultos começa a ser cada vez mais escassa, pois na sua maioria das vezes é substituída pelos écrans. Horas de refeição, tomar um café, convívios de família, viagens no carro, os écrans de fácil acessibilidade acompanham-nos em todos os momentos. Isto leva-nos a refletir onde está a partilha? Onde está o contato ocular? Onde está a empatia para com o outro? O brincar livremente? A imaginação? O que estamos a comer? São preocupações que neste momento estão a ser partilhadas por vários especialistas de diferentes áreas da saúde e da educação e por sua vez são muitas vezes razão para procurar acompanhamento terapêutico.
É mentora do CTEB – Centro Terapêutico. Qual é a missão principal do centro e como a filosofia multidisciplinar é incorporada na sua prática diária?
O CTEB nasceu de uma vontade de construir algo que acompanhasse as diferentes fases da vida, desde o bebé ao idoso, de uma forma mais completa e com qualidade. Ao mesmo tempo, criar um espaço que cada colaborador se sentisse valorizado, tivesse oportunidade de crescer, de continuar a ter formação de forma a que o seu trabalho seja o melhor de si. Neste sentido, existe uma preocupação constante na procura de materiais novos e com evidência científica para a nossa prática clínica, bem como formações para os colaboradores.
Quais são as principais áreas de atuação da clínica? Quais são os tratamentos que vos diferencia?
Neste momento, temos várias áreas de atuação que funcionam como uma equipa multidisciplinar, desde a Terapia da Fala, a Psicologia, a Terapia Ocupacional, Integração Sensorial, a Osteopatia Infantil, a Fisioterapia, a Neuropsicologia, a Nutrição, a Medicina Geral e Familiar e o Apoio à Amamentação.
Quais são os principais benefícios de uma abordagem multidisciplinar no tratamento e na educação oferecidos pelo CTEB?
A abordagem multidisciplinar é essencial para garantir que tanto no processo terapêutico quanto na educação, as necessidades individuais sejam abordadas de maneira completa e integrada. Isso resulta em intervenções mais eficazes, diagnósticos mais precisos e um cuidado que considera a pessoa na sua totalidade, obtendo melhores resultados e promovendo um desenvolvimento mais equilibrado.
Como é feita a coordenação entre as diferentes especialidades internas do centro?
Ser coordenadora de uma equipa vai muito mais além do que apenas lidar com a parte burocrática que tudo isso implica. Uma empresa tem que ser muito mais humana e empática para todos aqueles que dela fazem parte. Querer seguir exemplos de liderança de outras empresas, mesmo que não sejam da área da saúde, permite que sejamos mais proativos, mais dinâmicos, ter mais ousadia e coragem para seguir um caminho diferente, que certamente levará a profissionais da saúde também eles diferentes. Todos os colaboradores têm em agenda horários em que não podem programar consultas. Portanto, desta forma, têm um dia e uma hora fixa para realizar as reuniões de equipa, bem como, horas para leitura e projetos de investigação. É importante promover nos colaboradores o contínuo interesse na leitura, na procura e na investigação, pois só assim, não só permite o crescimento pessoal, mas também a melhoria na nossa prática clínica.
A investigação em desenvolvimento infantil é um campo disciplinar que abordam no centro. De que forma, qual o propósito e que mais valias traz aos utentes?
Investigação em desenvolvimento infantil tem um papel crucial em melhorar a compreensão e a potencializar o desenvolvimento. Através da investigação podemos detetar precocemente dificuldades de desenvolvimento e propor intervenções mais eficazes, ajudando a prevenir problemas mais graves no futuro, atuando assim na prevenção primária e intervenção. Com estes estudos conseguimos mais conhecimento que pode ajudar os profissionais de várias áreas que intervêm diretamente com crianças, fornecendo-lhes ferramentas baseadas em evidências científicas, desde psicólogos, professores, educadores de infância, pediatras, entre outros.
Como é que o centro adapta as suas abordagens às diferentes fases da vida dos pacientes?
Exige um compromisso contínuo e um processo individualizado permitindo uma flexibilidade e uma compreensão profunda das necessidades únicas em cada etapa do desenvolvimento humano. Em todas as fases da vida, o envolvimento da família e da comunidade é um dos pilares para o sucesso de todo o processo. Uma equipa multidisciplinar permite que o processo seja abrangente e adaptado a todas as dimensões da vida do utente, desde o bebé ao idoso. Todo o processo está em constante evolução, por isso, em constante reavaliação, para que possa ser eficaz ao longo do tempo.
De que forma o CTEB envolve as famílias no processo terapêutico e educacional dos pacientes?
Todas as famílias têm um acompanhamento diário mesmo fora das sessões, onde partilhamos, muitas vezes estratégias, ouvimos dúvidas ou receios das famílias. Isto permite que a família se sinta acolhida, ouvida e respeitada, permitindo que todo o processo terapêutico seja em equipa, e a família sente que é parte integrante da equipa. Estamos presentes em vários contextos onde a criança ou jovem ou adulto está inserido. Quando necessário, as terapias são nesses contextos, como colégios, escolas, lares e também marcamos reuniões com equipas médicas que fazem parte do processo. Em consulta, nas nossas instalações, todas as famílias e cuidadores podem participar e estar presentes nas consultas. Isto permite-lhes ficar mais capacitados e tenham conhecimento do que é realizado em todas as sessões. Acredito que quando todos estamos envolvidos e todos alinhados, o processo em si é mais fácil e terá com certeza mais sucesso. Mas, claro, tudo isto exige muito tempo e muito de nós, mas o nosso propósito é mesmo este e, enquanto profissionais de saúde, é uma mais valia fazer a diferença todos os dias, acreditando que tudo é possível.
«A empatia, a generosidade, o abraço e a força é acreditar que juntos, todos os dias, temos a oportunidade para fazer melhor e que conseguimos»
Como trabalham para atender aos anseios e necessidades das famílias ao longo do tempo?
É um trabalho contínuo que exige sempre uma abordagem individualizada, que está em constante mudança e centrada na empatia. Uma escuta ativa e uma comunicação constante, uma flexibilidade para atender as dificuldades e mudanças ao longo do processo, um apoio integral e multidisciplinar, se necessário ter programas de suporte e de apoio a estas famílias, são algumas das principais estratégias que utilizamos ao longo do tempo. A empatia, a generosidade, o abraço, a força e o acreditar que juntos e todos os dias é uma oportunidade para fazermos melhor e que conseguimos.
Trabalhar no CTEB é muito mais do que estar num gabinete?
Sim, sem dúvida. Trabalhar no CTEB é estar em equipa, é estar em constante aprendizagem e crescimento. Tem que haver uma predisposição para querer trabalhar assim e querer pertencer a uma equipa como a do CTEB, pois tudo exige muito de todos e todos os dias e, atualmente, encontramos muitos profissionais que não querem ter estes desafios. É importante respeitar a decisão de cada um, mas quando se concorre para trabalhar no CTEB, é muito importante saber que estes desafios vão estar presentes no dia a dia e é necessário estar comprometido para tal.
Como define a equipa integrada do CTEB?
Somos uma equipa que partilha a mesma visão e valores que estão na base do CTEB e que lutam todos os dias para serem melhores para quem acompanha e para quem nos procura.
A paixão pela investigação é um dos principais desígnios da vossa equipa. Em que sentido trabalham esta vertente?
A paixão pela investigação é um dos pilares fundamentais da nossa equipa e é trabalhada de forma multifacetada, abrangendo diferentes áreas e metodologias para fomentar a inovação, o conhecimento e a melhoria contínua. A publicação de estudos e artigos científicos, a exploração de novas áreas de conhecimento, o desenvolvimento de competências técnicas, o envolvimento com a comunidade científica, entre outras, são algumas das vertentes que estamos a trabalhar neste momento.
Que práticas desenvolvem para promover o crescimento pessoal e profissional da equipa?
Promover uma equipa vai muito mais além do que estarmos todos os dias no CTEB. Dar asas a iniciativas de partilha, dentro do horário laboral, mas fora das instalações é uma das nossas práticas. No Team Day, por exemplo, passamos o dia juntos em atividades direcionadas para a equipa. O MentalHealth Day é o dia em que promovemos atividades para a saúde mental de todos os colaboradores, como por exemplo, uma ida às termas ou uma aula de ioga.
Que tipo de feedback recebem e como é que esse retorno influencia o trabalho no centro?
O feedback que mais recebemos é o sentimento de dever cumprido ou que demos o nosso melhor, mesmo quando as coisas não correm bem. Sim, porque é muito importante perceber que nem sempre as coisas correm bem, ou as expetativas que as famílias criam em relação a um problema são defraudadas. Todos queremos o melhor e é empático o sentimento pelas dúvidas e anseios de quem nos procura ou que já trabalhamos, mas às vezes, temos o sucesso que tanto procuram como as coisas não acontecem por diversos fatores. O melhor retorno que podemos ter diz respeito a todas as recomendações que nos fazem a outras pessoas. Neste momento, todas as pessoas que nos procuram vêm recomendadas por quem já esteve no CTEB e que continua a valorizar o nosso trabalho, a nossa equipa e o nosso espaço. Acredito que este será o melhor feedback e retorno que podemos ter.
«Temos uma parceria com a Associação Portuguesa de Síndrome de Angelman, um projeto pioneiro de reabilitação, intitulado “Ritmo de InterAção Angelman”, que visa potenciar as competências de comunicação e interação social de crianças e jovens, integrando a Musicoterapia e a Terapia da Fala como ferramentas essenciais»
Como vê o papel do CTEB junto da comunidade?
O CTEB tem vários protocolos com entidades e associações. Procuramos ir ao encontro da nossa comunidade, com os rastreios gratuitos, com várias valências terapêuticas que realizamos nos diferentes colégios e escolas e com o acompanhamento que damos a educadoras de infância e professoras numa prática multidisciplinar que envolve os vários contextos em que as nossas crianças estão inseridas. Recentemente, fizemos uma parceria com a Associação Portuguesa de Síndrome de Angelman, um projeto pioneiro de reabilitação, intitulado “Ritmo de InterAção Angelman”, que visa potenciar as competências de comunicação e interação social de crianças e jovens com Síndrome de Angelman, integrando a Musicoterapia e a Terapia da Fala como ferramentas essenciais.
Quais são as suas aspirações pessoais e profissionais para o futuro do CTEB?
Tenho tantos sonhos que quero realizar. A nível pessoal, quero continuar a investir naquilo que mais valorizo que é a minha família, pois sem ela não seria o que sou hoje. A nível profissional vou continuar a investir na minha página SOS.TF Márcia Costa, que ainda está a começar e tenho vários projetos que estão em segredo, que ainda não posso revelar, mas que em breve irão saber.
O que a levou a seguir a carreira na área terapêutica e educacional?
É uma área que permite que haja um crescimento, uma aprendizagem constante e onde podemos fazer a diferença todos os dias.
Quais são as suas principais motivações ao coordenar um centro como o CTEB?
Coordenar é uma responsabilidade muito motivadora e gratificante especialmente porque existe uma preocupação constante com o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida dos nossos utentes e colaboradores. É a oportunidade de fazer a verdadeira diferença na vida das pessoas. Ver o progresso dos utentes, seja no tratamento de uma patologia de saúde mental ou no desenvolvimento de competências sociais é muito gratificante. Ajudar alguém a alcançar melhor qualidade de vida ou encontrar o seu equilíbrio emocional pode ser uma fonte de grande satisfação pessoal e profissional. Por outro lado, também permite a liderança de uma equipa de profissionais de saúde que é outra grande motivação. Orientar e apoiar no seu desenvolvimento profissional, garantindo que eles também têm um impacto positivo nos utentes e na sua vida pessoal. É muito importante que cada colaborador se sinta acolhido, ouvido, valorizado e com espaço para crescer e dar o melhor de si. Quando cuidamos de quem faz parte da nossa casa também cuidamos de certa maneira da sua família, das suas preocupações, dos seus anseios e isso é respeitar cada um como ser individual, mas que fazem parte de um todo. Gerir um centro terapêutico pode ser desafiador, devido à necessidade de equilibrar aspetos clínicos, operacionais e financeiros. É necessária uma visão a longo prazo para o CTEB, de como expandir os serviços, alcançar mais utentes ou criar um legado de cuidado de qualidade e de excelência.
O que sente quando olha para o início e para este projeto chamado CTEB?
Sinto e tenho a certeza que estou no caminho certo e que todos os dias tenho a oportunidade para fazer ainda melhor e crescer. Uma das maiores recompensas que posso ter, é de criar um impacto duradouro e de ajudar as pessoas em momentos difíceis da vida ou de pais que procuram ajuda, e eu enquanto mãe reconheço o sentimento. Neste sentido, é muito importante continuar a contribuir para a sustentabilidade do CTEB, assegurando que esta casa continue a servir a comunidade e as famílias que nos procuram no futuro. Para mim, dá-me um sentido de propósito e realização pessoal.
Pode compartilhar alguma experiência ou momento marcante que já viveu ao serviço do CTEB?
Existem tantos momentos para contar. É difícil escolher um, até porque em todos eles estão crianças e famílias.
Que metas o centro está a considerar alcançar num futuro próximo?
Além de todos os projetos que estão neste momento a decorrer, o objetivo principal será sempre continuar a trabalhar, respeitando sempre a nossa visão e valores, para ser um centro de referência na área terapêutica, clínica e educacional, tendo sempre base científica e um acompanhamento de qualidade e de excelência.
Para finalizar, podemos afirmar que o CTEB é uma “porta aberta” à comunidade?
O CTEB será sempre muito mais do que “porta aberta” para a nossa comunidade. É casa!