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«A principal motivação é ajudar quem mais precisa e com a qualidade que essas pessoas merecem»

A Delegação de Braga da Cruz Vermelha Portuguesa presta há 153 anos ajuda em diversas áreas aos mais necessitados. Em entrevista à Revista Minha, o presidente da instituição, Armando Osório manifesta-se orgulhoso com a «importante missão humanitária» da CVP e com o «papel de grande proximidade» junto da comunidade. O responsável aponta ainda o regresso à sede na Avenida 31 de Janeiro para o início de 2024, encontrando-se, neste momento, na fase de obtenção das necessárias licenças de utilização.

Qual é a missão fundamental da Cruz Vermelha e como é que tem evoluído ao longo dos anos?
A missão da Cruz Vermelha é proteger e promover a vida, saúde e dignidade humana. Desde a sua criação, na Batalha de Solferino, a nossa missão mantém-se, apesar do nosso “campo de batalha” ter mudado… Após a “gripe espanhola” ter morto mais pessoas que a 1.ª Guerra Mundial a saúde foi acrescentada ao nosso âmbito de atuação. Mais recentemente, e após a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, o raio de atuação da Cruz Vermelha amplificou-se… Enquanto organização humanitária auxiliar dos poderes públicos, a Cruz Vermelha tenta, nos territórios onde se encontra, ir ao encontro das necessidades das pessoas mais vulneráveis, protegendo e promovendo a sua vida, saúde e dignidade humanas.

Em que áreas a Delegação de Braga da CVP, que este ano comemora 153 anos, estende, atualmente, o seu trabalho?
A atividade da Delegação de Braga da CVP, para além da estrutura Operacional de Emergência, mais conhecida pelo serviço de ambulâncias, desenvolve a sua atividade junto da população mais vulnerável, tendo em funcionamento os seguintes serviços: Centro de Alojamento Temporário, que acolhe 45 pessoas que estavam sem teto; Projeto Equipa de Rua Aproximar, que acompanha pessoas com comportamentos aditivos e dependências lícitas e ilícitas. (pessoas com comportamentos ligadas ao consumo do álcool); Equipa de Intervenção Social Direta que apoia pessoas em situação de vulnerabilidade social das quais destacamos pessoas em situação de sem abrigo. Para além deste apoio, possui uma resposta de balneário social; Apartamentos partilhados, onde estão alojadas 15 pessoas que estavam sem teto; Housing first com 3 apartamentos que acolhem 5 pessoas que estavam sem teto; Centro de Acolhimento de Emergência Social, que é um projeto piloto que acolhe 25 pessoas em emergência social; Cantina Social que distribui 60 refeições todos os dias do ano; a Juventude CVP, que desenvolve diversos projetos voltados para crianças e jovens do concelho. Nesta valência, funciona ainda a loja social Ponto Vermelho e o projeto Geração Tecla, voltado para a integração de minorias étnicas; o Centro Local à Integração de Imigrantes; o Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social que trabalha com beneficiários do RSI; a Escola de Socorrismo; o Serviço de Apoio Domiciliário que inclui serviço de enfermagem; o Serviço de Teleassistência; Ajudas técnicas; a Creche que tem um polo no INL; o Centro Comunitário e Prado; o CAE MENa (Casa de acolhimento especializado para crianças e jovens estrangeiros não acompanhado); e Apartamentos de Autonomização. Toda esta atividade é acompanhada por cerca de 160 profissionais e muitos voluntários.

Como é que a organização trabalha em colaboração com outras instituições para maximizar o impacto das suas operações?
A nossa disponibilidade com todas as outras instituições é total. O trabalho em rede torna-se cada vez mais importante e muitas vezes não é mais aprofundado devido ao trabalho humanitário da responsabilidade das Instituições. Temos tido excelentes experiências ao nível de troca de informações e cedência de bens excedentários, assim como integramos várias redes de trabalho nas diferentes áreas em que trabalhamos.

Pode compartilhar algum exemplo notável de uma intervenção bem-sucedida da Cruz Vermelha numa situação de crise recente?
No âmbito da emergência social, dificilmente poderemos dizer que a intervenção é totalmente bem-sucedida. O apoio é feito às pessoas e o que lhes damos está sempre limitado aos recursos disponíveis e àquilo de que precisam. Nas nossas intervenções, procuramos fazer sempre o melhor. Porém, sobre as intervenções mais relevantes para a sociedade talvez possa referir o apoio que demos às vítimas do COVID 19, no início da pandemia. Fomos, no nosso distrito, um auxiliar importante dos poderes públicos, como foi reconhecido publicamente pela Câmara Municipal de Braga, Segurança Social e autoridades de Saúde. Apesar de tudo, não posso deixar de referir que, na Instituição, temos colaboradores que outrora foram por nós apoiados, quer nas minorias étnicas, quer na rua, como sem abrigo ou consumidores de substâncias proibidas. São resultados como estes que nos tornam felizes pelo trabalho que todos os dias desenvolvemos.

Um dos problemas sociais da nossa cidade que mais me preocupa é a falta de habitação

Na sua opinião, quais são as situações que atualmente necessitam de mais atenção e recursos por parte da Delegação de Braga da CVP?
A atividade da CVP de Braga é transversal a todas as necessidades das pessoas, e todas elas requerem atenção e determinação na procura de soluções. Se me pedem para mencionar um dos problemas sociais da nossa cidade que mais me preocupa, poderei dizer que é a falta de habitação. Não me refiro somente às pessoas que não têm qualquer lugar para habitar, mas também àquelas que não têm uma habitação condigna ou que são exploradas com rendas acima das suas capacidades. Acresce a estas carências a falta de alojamento para idosos ou pessoas com deficiência, sem retaguarda familiar. Esforçamo-nos todos os dias para que o trabalho que desenvolvemos nas valências acima referidas seja o melhor possível, superando muitas vezes a falta de recursos com imaginação e dedicação.

Relativamente aos apoios e serviços que desenvolvem diariamente, que números nos pode apresentar?
O quadro que a seguir reproduzimos, reflete o trabalho desenvolvido no ano de 2022 e que, oportunamente, foi divulgado nas redes sociais. É uma obrigação nossa, enquanto Instituição pública, divulgar os resultados do nosso trabalho, para que quem nos ajuda saiba aquilo que fazemos.

Estes são números significativos, mas não posso deixar de aludir que estes números incluem 106 pessoas a que todos os dias do ano, damos as diferentes formas de alojamento: 45 no Centro de Alojamento Temporário; 15 em Apartamentos Partilhados; 5 em Housing First; 25 no Centro de Alojamento de Emergência Social; 4 menores refugiados no Apartamento de Autonomização; e 12 menores refugiados na Casa Acolhimento Especializada para Menores Estrangeiros Não Acompanhados.

Realizaram, recentemente, o 10.º Jantar Humanitário da delegação de Braga sob o lema “O direito à habitação”. É uma premissa capital nos tempos que correm?
Exatamente por isso é que elegemos este tema para o X Jantar Humanitário. Todos têm direito à habitação para si e para a sua família, independentemente da ascendência ou origem étnica, género, língua, território de origem, nacionalidade, religião, crença, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, género, orientação sexual, idade, deficiência ou condição de saúde. Não é fácil lidarmos todos os dias com pessoas que sofrem com a falta de habitação ou que vivem em alojamentos indignos e nada ou muito pouco podermos fazer. Já para nem sequer referir um bairro de barracas que apoiamos, onde moram 66 agregados familiares, com um total de mais de 250 pessoas sem luz, sem água e com a ausência de qualquer infraestrutura.

Este evento solidário tem como principal propósito angariar fundos para a Cruz Vermelha. Foram superadas, neste ponto, as vossas expectativas?
Atualmente, não diria que este evento tem como principal objetivo angariar fundos. Foi, de facto, o objetivo principal na sua primeira edição, mas hoje, embora seja importante, visa também o poder de reunir os amigos que nos apoiam de diversas formas na nossa atividade. É uma reunião em que temos a oportunidade de podermos contactar diretamente os nossos benfeitores e podermos transmitir-lhes os nossos valores de modo a cimentar a sua confiança. Em relação ao resultado financeiro, a edição deste ano ultrapassou os valores dos anos transatos, que rondavam os 10.000,00 euros. Este facto deveu-se a um donativo de um convidado presente, que nos doou 20,000,00 euros.

A organização encontra-se numa situação financeira equilibrada, dando garantias de tranquilidade para que a CVP Braga continue a cumprir a sua missão

O jantar solidário deste ano serviu também para homenagear Avelino Gonçalves, fundador da empresa Alumínios Navarra, o padrinho desta edição. Como tem visto o envolvimento do meio empresarial de Braga relativamente ao trabalho desenvolvido pela delegação de Braga da Cruz Vermelha?
A realização do Jantar Humanitário tem tido, todos os anos, um ligeiro crescimento, o que é uma prova de que o nosso trabalho tem vindo a ser cada vez mais reconhecido. Este ano foi aquele que teve mais adesão, constituindo um estímulo para nós, ao vermos que o nosso trabalho está a ser monitorizado por mais pessoas. O facto de termos convidado o Senhor Comendador Avelino Gonçalves para apadrinhar este evento insere-se num procedimento adotado nos últimos anos, de querermos homenagear, na pessoa de um nosso benemérito, todas as pessoas que, de uma forma ou outra, têm reconhecido o nosso trabalho, ajudando-nos a desenvolver a nossa missão.

Mantém-se como presidente da instituição desde julho de 2011. Quais são as suas maiores motivações no desempenho destas funções?
A principal motivação é, com certeza, ajudar quem mais precisa e com a qualidade que essas pessoas merecem. Para isso foi necessário um grande esforço de reestruturar a Delegação, dotando-a de uma gestão profissional capaz de proporcionar sustentabilidade e transparência que nos credibilizassem junto da sociedade onde nos inserimos. Para tudo é preciso ter sorte, e eu fui um privilegiado nestes 12 anos que levo à frente da Delegação. A direção a que tenho a honra de presidir, constituída por quatro colegas, foi sempre extraordinariamente participativa e solidária. Por outro lado, as nomeações do Adjunto Executivo, que se fez rodear de uma equipa de gestão excelente, logrou aplicar regras e modelos de gestão capazes de transmitir aos nossos parceiros e utentes contas certas e transparência. A forma como passamos a atuar mobilizou os quadros intermédios da Delegação e respetivos colaboradores, de modo a que a preocupação coletiva assentasse na sustentabilidade e na qualidade dos serviços que prestamos. Foi acreditando nestes procedimentos que em pouco tempo conseguimos equilibrar as contas, conseguindo certificar todas as valências com a ISO 9001. Sempre defendemos que uma gestão assente em regras e com auditorias periódicas beneficiam sempre a qualidade dos serviços prestados e a prestar.

Está disponível para mais um mandato?
Os estatutos da CVP não impõem qualquer limite de mandatos. Porém, entendo que é saudável para todas as instituições renovarem as suas direções. Ao concluir o terceiro mandato de quatro anos cada, entendo que é tempo de se proceder a uma renovação diretiva. Têm sido 12 anos com algumas preocupações e canseiras mas com muitas atividades e resultados gerais que irão perdurar e fazer com que fique sempre disponível para ajudar esta grande Instituição.

Como se encontra a instituição financeiramente?
A organização encontra-se numa situação financeira equilibrada, a qual nos dá garantias de tranquilidade para que a CVP Braga continue a cumprir a sua missão. Olhamos com muito rigor para a tesouraria e acompanhamos mensalmente a sua execução orçamental. Sem este rigor, era muito difícil termos tantos projetos como temos. A maior parte dos projetos são exigentes para a tesouraria, uma vez que comparticipam despesas já pagas. Sabemos, por isso, da importância de ter uma tesouraria que financeiramente consiga ser uma alavanca e não um limitador do trabalho no terreno. É também nossa prioridade deixar uma CVP financeiramente saudável para as próximas direções.

Tem ficado satisfeito com o papel do Estado na área social e, particularmente, na cooperação com a Cruz Vermelha?
De uma forma geral, sim, estamos satisfeitos com o papel do Estado na área social, em particular na cooperação com a Cruz Vermelha. Naturalmente que muito mais poderia ser feito e que os recursos nunca são infinitos, no entanto, sentimos que enquanto auxiliares dos poderes públicos, o Estado Português respeita-nos e ouve-nos sempre que temos de dar voz às pessoas mais vulneráveis.

A transformação digital é uma das nossas orientações estratégicas

Como é que a tecnologia e a inovação estão a ser integradas nas operações da Cruz Vermelha para melhorar a eficácia e a eficiência da ajuda humanitária?
Nos últimos anos temos realizado um maior investimento na informática. Procuramos criar uma rede interna mais estável, para maior segurança na gestão dos dados dos nossos clientes e colaboradores; temos investido na aquisição de novos equipamentos, nomeadamente portáteis e tablets, para uma maior capacidade de trabalho das nossas equipas, bem como na aquisição de software adaptado às necessidades das nossas respostas. A transformação digital é uma das nossas orientações estratégicas. Consideramos que a informação que tratamos é valiosa, mas não deve ser um impedimento para uma resposta célere ao cliente. Nesse sentido, temos algumas plataformas online em utilização diária, quer para gestão documental, que permite o acesso a todas as ferramentas de trabalho bem como o armazenamento e partilha, quer para a gestão individual da prestação de cuidados, orientadas ao cliente. Utilizamos ainda ferramentas online para a monitorização dos equipamentos e infraestruturas da nossa Delegação, que são o garante da qualidade dos nossos serviços.

De que forma a Cruz Vermelha trabalha para garantir a segurança e o bem-estar da sua equipa e voluntários durante as diferentes intervenções?
Uma das primeiras questões com que nos deparamos numa situação de socorro, é a da avaliação das condições de segurança envolventes – estamos perante um cenário onde é seguro atuar e intervir para socorrer a vítima? No nosso dia-a-dia, é esse o nosso mindset. Queremos ajudar, mas é necessário assegurar que estamos em condições de fazer bem o nosso trabalho, para que aqueles que auxiliamos possam ter a melhor resposta possível. Como o fazemos? Desde o momento do onboarding, colaboradores e voluntários são preparados para a realidade dos contextos e dos problemas que vão encontrar e de como atuar perante os mesmos. Para além das normas de segurança e medicina no trabalho, cujo controlo é garantido e assegurado sistematicamente, apostamos incessantemente na formação. A formação é um pilar que baseia a nossa forma de ser e de estar na sociedade, e que nos permite estar na frente do campo de batalha, bem preparados e seguros da nossa atuação. A constância na atualização de conhecimentos e desenvolvimento de competências, a partilha de experiências e a divulgação de normas e procedimentos asseguram que cada elemento das nossas equipas se sente preparado e apto a fazer bem o seu trabalho. Do mesmo modo, a preocupação com a saúde (física e mental) é um tema que não é descurado. Acompanhamos de perto, tanto quanto necessário, as questões de saúde daqueles que diariamente fazem chegar o nosso trabalho aos mais desfavorecidos e mais vulneráveis. Para além da formação, (em ergonomia, suporte básico de vida, primeiros socorros psicológicos, p.e.), existe uma inquietação para salvaguardar a adaptação de cada posto de trabalho ao colaborador/voluntário que o ocupa, em apoiar em questões de saúde mental (temos uma Rede Nacional de Apoio à Saúde Mental). Tentamos, sobretudo, estar presentes, nos bons, mas sobretudo, nos maus momentos, para os nossos colaboradores e voluntários. Avaliamos anualmente a satisfação dos mesmos, de forma a, numa perspetiva de melhoria contínua, evoluirmos no sentido de corresponder às suas expectativas e certificarmo-nos de que somos capazes de fazer face às suas necessidades. O bem-estar das nossas equipas é um dos nossos compromissos pois temos plena consciência de que, juntos, fazemos a diferença na vida de milhares de pessoas, diariamente.

Quais são as principais aprendizagens que a Cruz Vermelha tem obtido com as suas operações de resposta a emergências, e como são aplicadas para melhorar futuras intervenções?
A Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho, na sua missão de salvar vidas e mudar mentalidades, desenvolvem duas formas de Emergência. Referimo-nos à Emergência Social e à Emergência Operacional, designada por EOE (Estrutura Operacional de Emergência). A Estrutura Operacional de Emergência da Delegação de Braga da CVP trabalha em cooperação com as demais instituições, no âmbito da Emergência pré-hospitalar, nomeadamente com o INEM, como Posto de Emergência de Reforço de Meios, desde Agosto de 2022. Disponibiliza neste âmbito, uma ambulância de Emergência em serviço permanente de atendimento às solicitações do CODU. Mantém estreita colaboração com a Divisão de Proteção Civil Municipal, colaborando com esta e demais corporações do Município, em eventos socioculturais e desportivos, bem como, permanecendo em estado de prontidão para resposta a situações emergentes de socorro e apoio à população. No âmbito da emergência pré-hospitalar nada é adquirido, a aprendizagem e a melhoria são constantes. É preocupação na Estrutura Operacional de Emergência a partilha de experiências e conhecimentos, promovendo a aprendizagem de todos os seus elementos, seja para novos candidatos ou entre elementos mais experientes. Esta partilha de conhecimento promove a igualdade, capacitando os nossos socorristas para as situações que possam surgir nas suas intervenções. Só assim conseguimos garantir a nossa melhoria, e assegurar o nosso compromisso com a população na sua proteção e socorro, promovendo a excelência do nosso trabalho. No âmbito da emergência social, a atividade em rede tem sido fundamental para uma maior eficiência do trabalho desenvolvido no âmbito das respostas que prestamos no terreno. Neste trabalho em rede, têm sido fundamentais as instituições públicas, proporcionando ao longo do tempo uma aprendizagem em conjunto de novas metodologias que nos levam a prestar melhores serviços. O nosso objetivo, nestas respostas, é ir ao encontro das verdadeiras necessidades das pessoas. Para isso, é preciso encontrar canais de comunicação seguros e transparentes entre todas as entidades envolvidas neste processo, de modo a encontrar seriedade e transparência nos apoios que são facultados a quem mais precisa. Nos últimos anos, temos assistido a mudanças no contexto social, local e global, com novas situações de pobreza e exclusão social. Fenómenos como o aumento generalizado da inflação e habitação têm arrastado para situações de emergência social pessoas e agregados familiares que até aqui estavam afastados destes processos. Temos assistido também a um aumento de pessoas migrantes que abandonam os seus países para obter melhores condições de vida. É importante que as nossas respostas tenham capacidade técnica para responder a estas novas situações. Estarmos preparados significa capacitar os nossos técnicos e voluntários para responder a necessidades específicas da comunidade afetada, nomeadamente os fatores culturais, sociais e económicos. Podemos dar alguns exemplos como adaptar o apoio alimentar que desenvolvemos respeitando as diferentes culturas e criar respostas de alojamento que possam acolher famílias, com especial cuidado com as crianças. Importante também é a necessidade de avaliar o trabalho desenvolvido, após a operacionalidade das respostas. Efetuar avaliação significa também avaliar o impacto que a nossa intervenção teve nas pessoas e nas situações. Fazer avaliação significa também para nós um processo de melhoria contínua para as futuras intervenções. A aprendizagem é fundamental para garantir a eficácia futura das nossas respostas. Significa também ser resiliente e aplicar o aprendido no sentido de melhorar a intervenção, tendo em conta que vivemos numa sociedade em constante mudança, com novos desafios para responder.

Como é que a organização está a envolver a juventude e a promover a participação ativa dos jovens nas atividades da Cruz Vermelha?
A Delegação de Braga tem adotado diversas estratégias para envolver os jovens e promover a participação até porque apresenta uma resposta voltada para crianças e jovens do Concelho. A Juventude Cruz Vermelha (JCV) é o setor juvenil da organização, tendo como missão promover a resiliência das comunidades juvenis. O objetivo é envolver crianças e jovens num processo contínuo de desenvolvimento, motivando-os para promoverem mudanças positivas na sua comunidade local, permitindo que todos possam prosperar, especialmente os mais vulneráveis. Assim, a Juventude concentra a sua atuação em crianças e jovens dos 5 aos 35 anos, promovendo a sua integração como voluntários, beneficiários ativos e/ou líderes. Temos vários projetos no terreno e mais de 50 voluntários ativos a realizar: programas educativos através de educação não formal em escolas de Braga; programas sobre igualdade de género, identidade de género, ou programas de prevenção de comportamentos aditivos com ou sem substâncias. Promovemos o voluntariado juvenil através da promoção de oportunidades de voluntariado específicas para jovens, oferecendo-lhes a oportunidade de se envolverem em projetos e ações humanitárias, tanto localmente como internacionalmente. E fazemos campanhas de sensibilização sobre questões humanitárias e sociais que impactam os jovens, incentivando-os a participar ativamente na resolução de problemas locais e globais e a desenvolverem novos projetos que vão ao encontro dos seus interesses e problemas na comunidade. Trabalhamos também com a comunidade de refugiados e com a comunidade cigana, procurando a integração destes públicos. Usamos ainda as plataformas online para alcançar os jovens, partilhar informações sobre oportunidades de voluntariado e atividades da Juventude da CVP, e facilitar a sua participação e interação. Estas estratégias têm como finalidade não só envolver os jovens nas atividades da Cruz Vermelha Portuguesa, mas também capacitá-los como agentes de mudança, incentivando-os a ter um papel ativo na construção de um mundo mais justo e solidário.

A obra da nossa sede está concluída e decorreu sem derrapagens financeiras. Estão reunidas todas as condições para que em janeiro de 2024 possamos regressar a um edifício renovado

Para quando a mudança para as instalações da delegação de Braga da Cruz Vermelha na Avenida 31 de Janeiro?
A adjudicação desta obra foi antes da COVID 19, apanhando no percurso a guerra na Ucrânia. Estes dois eventos motivaram dificuldades várias que fizeram com que a obra atrasasse. Este atraso foi ainda agravado com a entrega de alguns preciosos donativos em espécie. Felizmente, a obra está concluída, sem derrapagens financeiras e encontra-se numa fase de obtenção das necessárias licenças para podermos utilizar o edifício. O facto de termos encontrado excelentes instalações, onde entretanto estamos a trabalhar, sem grandes pressões para as abandonar, poderá também ter sido um fator para este arrastar do tempo. Diria que estão reunidas todas as condições para que em janeiro próximo possamos regressar a um edifício renovado, que foi adquirido em 1979 para sede da Delegação, pelo então presidente Dr. Pimenta Fernandes.

Como é que tem visto os apoios recebidos para a concretização desta empreitada?
No início desta empreitada, conseguimos reunir um conjunto de entidades coordenadas pelo Professor Carlos Bernardo, com o objetivo de podermos ter um grupo de pessoas da sociedade capaz de dar mais credibilidade a este empreendimento. Uma das funções seria angariar fundos para custear esta obra. O acompanhamento desta obra por parte do seu coordenador foi exemplar e esta delegação está-lhe muito grata e a recolha de fundos, afetada grandemente pelas duas crises já referidas, saldou-se em cerca de 30 % do custo total. Porém, a amortização do investimento decorrerá durante os próximos 20 anos, e estamos certos que neste período, muitos outros mecenas irão ligar o seu nome a esta obra, gravando, numa parede de aço corten, os logotipos das empresas que contribuíram e contribuirão para a recuperação deste edifício.

Qual é a mensagem mais importante que gostaria de transmitir ao público sobre o trabalho da Cruz Vermelha e como as pessoas podem contribuir para apoiar a causa humanitária?
O trabalho que todos os dias desenvolvemos é feito de uma forma silenciosa, e se deixasse de ser feito, iria trazer graves prejuízos a muitos dos nossos concidadãos. Bastará refletir nas consequências para a paz social da nossa cidade se deixássemos de desenvolver o trabalho acima referido. Estou certo de que, infelizmente, a grande maioria dos bracarenses ainda não está informada do trabalho que é desenvolvido pela Delegação de Braga da CVP. Pensamos que à medida que as pessoas têm conhecimento deste trabalho os apoios aumentam, mas é necessário que a instituição continue a evidenciar transparência na gestão desses apoios e demonstrar que aquilo que recebe não é desviado para outros fins. As ofertas de bens alimentares, de roupa e de contribuições monetárias ajudam-nos a melhorar a qualidade dos apoios que damos anualmente a milhares de concidadãos. Temos a preocupação de, em qualquer momento, podermos demonstrar, a quem quer que seja, de que os bens que nos são doados chegam a quem mais precisa.

Quais são as metas e objetivos prioritários da Cruz Vermelha para os próximos anos?
Quando olhamos para o futuro, existem desafios a que precisamos de responder, nomeadamente crises climáticas e ambientais; aumento de crises e desastres; acessos desiguais a cuidados de saúde e bem-estar; migrações e identidades e crises de valores, poder e inclusão. Para responder a estes desafios, a Cruz Vermelha tem de se transformar. Tem de tornar-se um ator local forte e eficaz; inspirar e mobilizar voluntários; garantir a transparência e a prestação de contas; trabalhar eficazmente em rede; influenciar a ação humanitária; passar por uma transformação digital e sermos capazes de financiar o futuro da Ação Humanitária. Assim, as nossas metas passarão por sermos capazes de conseguir estas transformações e contribuir para uma sociedade capaz de enfrentar os desafios que nos colocam, em particular as alterações climáticas e as suas consequências.

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