VALENCIA, SPAIN - JUNE 24: Fernando Alonso of Spain and Ferrari celebrates after winning the European Grand Prix at the Valencia Street Circuit on June 24, 2012 in Valencia, Spain. (Photo by Vladimir Rys/Getty Images)
Opinião

O fiel tacho espanhol

É provável que Fernando Alonso esteja na competição automóvel até não poder mais. O espanhol de Oviedo já tem 41 anos, mas tem a mesma motivação de há 20 anos, quando chegou à Fórmula 1.

22 anos, na verdade. Estreou-se em 2001 pela clássica Minardi, o que na altura dava direito a viajar e conhecer as pistas, não a competir a sério. Depois de uma pausa em 2002 como piloto de testes da Renault, voltou à competição em 2003, ano em que venceu pela primeira vez e quebrou o recorde de Bruce McLaren, estabelecido em 1959, de piloto mais jovem a vencer.

2005 foi o ano do primeiro título, que revalidou em 2006 frente a um revigorado conjunto Michael Schumacher-Ferrari. Alonso não deixa de ser o piloto que conseguiu travar o domínio de cinco temporadas consecutivas do eixo germano-italiano.

Foi em 2007 que o rumo da carreira de Alonso mudou. Atirou-se para a McLaren, na esperança de continuar a somar títulos. Lutou por ele, mas um jovem Lewis Hamilton atravessou-se, e a luta interna que a equipa não soube gerir, somada às tensões de um escândalo de espionagem à Ferrari, fez os dois serem ultrapassados por Raikkonen – que tinha saído da McLaren.

Então Alonso regressou à Renault, que tinha dado um enorme salto à retaguarda e só venceu uma corrida em 2008 graças a um esquema de manipulação – a seguinte já foi por pura performance. 2009 representou um tombo ainda maior, mas Alonso já tinha como destino a marca do Cavalinho Rampante.

O início não podia ter corrido melhor. Mas a longa-metragem da última corrida de 2010, em que Alonso passou todo o tempo preso atrás de um… Renault, sem conseguir chegar aos lugares que lhe davam o terceiro título de pilotos, foi o primeiro golpe na relação. O segundo foi o carro mediano em 2011. O terceiro foi o carro absurdamente lento de 2012, que a Ferrari foi recuperando para um carro decente e Alonso arrastou logo na segunda corrida para um vitória e uma luta pelo título onde não pertencia – e que não venceu. O último golpe foi o aspirador de esperança que foi o carro de 2014. A própria Ferrari já procurava uma alternativa ao espanhol para renovar os ares da equipa, e Alonso encontrou-se de novo de
malas feitas. Para a McLaren.

Provando que há sempre novas profundezas para atingir, as temporadas de 2015 a 2018 provaram-se difíceis, excruciantes, e marcadas por motores a rebentar e comentários estratégicos para dar nas vistas. E assim deu lugar a Lando Norris em 2019.

2017 já foi ano de Alonso explorar outras andanças, nomeadamente as 500 Milhas de Indianápolis. Em 2018 e 2019 experimentou o mundial de resistência, e venceu as 24 Horas de Le Mans nos dois anos. Em 2020 navegou as dificuldades do rali Dakar. Em 2021, voltou à F1, pela Alpine… A antiga equipa Renault. E agora muda-se para a Aston Martin, onde quer mais, inclusive ganhar.

2012 continua a ser a temporada de ouro do espanhol, o ponto alto de uma carreira brilhante em pista, com dons apenas prejudicados pela gestão da carreira.

Fernando Alonso, que chegou a ser comparado ao Teflon depois do ‘SpyGate’, é mais aquele fiel tacho de ferro fundido de onde saem sempre cozinhados de alta qualidade. Resta saber se aguenta mais umas pancadas a mudar para um forno novo.

 

João Pedro Quesado, jornalista 

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