Território de ouro e de água, o concelho de Vila Pouca de Aguiar quer atrair cada vez mais turistas. Visitar o importante património mineiro de renome mundial ligado à extração de ouro que vem do tempo dos romanos, beber diretamente da fonte a água que leva o nome de Pedras Salgadas por todo o mundo, ver o pôr do sol na Serra da Padrela, desfrutar da natureza, da gastronomia e da hospitalidade das gentes locais são algumas das propostas irrecusáveis de uma terra que promete encantar os visitantes.
Vila Pouca de Aguiar é um destino obrigatório para se ficar a conhecer o património mineiro ligado à extração de ouro. Enquanto Tresminas leva os visitantes a um complexo mineiro do tempo romano, Jales mostra uma exploração que esteve ativa no século XX, tendo sido as últimas minas de ouro a laborar em Portugal. É por Tresminas que começa a nossa viagem até ao território do ouro romano, sendo este um conjunto de infraestruturas mineiras que sobreviveram sem utilização desde o século III até à atualidade. Para além de um centro interpretativo, localizado no centro da aldeia de Tresminas, é possível ver as cortas mineiras e visitar uma galeria subterrânea. O complexo abrange uma área de 289 hectares, classificados em 1997 como imóvel de interesse público, havendo trilhos que permitem explorar o local. A visita é guiada pela arqueóloga Patrícia Machado, numa fascinante viagem ao tempo em que Augusto introduz a moeda de oito gramas de ouro puro (áureos) no sistema monetário, valendo 25 denários de prata, o que leva à prospeção de jazidas do metal precioso em todo o império. Dependente da procuradoria de minas de Astúrica e Galécia, que detinha na região cerca de 700 minas, esta exploração funcionou ao longo de cerca de 250 anos, entre o tempo de Augusto e Sétimo Severo. O encerramento deu-se quando o exército teve de deixar o controlo das minas para se dedicar à sua função primordial de combater, primeiro numa guerra civil que durou sete anos e depois a travar as invasões bárbaras. Por esta zona ainda passou a Sétima Legião Gemina, rebatizada de Pia Félix, depois da guerra civil, mas a mina acabou por ser abandonada, num momento em que já estava em definhamento, com a utilização de lucernas caseiras para iluminar o trabalho nas galerias subterrâneas. Calcula-se que nas três cortas mineiras de exploração ao ar livre, ao longo de 250 anos, tenha havido a remoção de 9 milhões de toneladas de rocha, tendo sido extraídas 20 toneladas de ouro, sendo que este metal nobre surge em partículas entre quartzo e xisto. As últimas prospeções indicam que nesta zona é possível extrair 2,9 gramas de ouro por tonelada de rocha, um valor que levou a que a laboração nunca tenha sido retomada. A arqueóloga explica que, assim sendo, Tresminas apresenta «um estado de preservação ímpar a nível nacional e até internacional» pelo facto de não ter voltado a ser mina após o seu abandono em época romana. «O que se consegue ver no século XXI é muito semelhante àquilo que os romanos deixaram no início do século III, quando abandonaram esta área mineira», afirma. Sendo uma das mais importantes explorações de ouro do Império Romano, Tresminas espera a elevação a monumento nacional para que possa avançar a candidatura a Património Mundial da Unesco, numa extensão da classificação de Las Médulas, as minas espanholas conhecidas pela terra vermelha. «Las Médulas já não representam, sozinhas, os progressos tecnológicos romanos relacionados com as minas. É necessário que ao lado de Las Médulas, que é uma mina secundária, haja uma mina primária, de forma a que, em complemento em termos de tecnologia e de métodos de trabalho, sejam representativas do momento em que Roma decide apostar fortemente na extração de ouro na Península Ibérica», declara. A curto prazo vai ser inaugurado um centro de acolhimento ao visitante no complexo mineiro. As marcações das visitas podem ser feitas pelo telefone 259 458 091 ou pelo correio eletrónico [email protected]. Se este património preserva o legado romano, Jales mostra como uma área mineira também do tempo do Império foi explorada no século XX. O Centro Interpretativo Mineiro de Jales, em Campo de Jales, foi inaugurado em fevereiro deste ano, representado um investimento de cerca de 600 mil euros, de forma a dar a conhecer o trabalho da mina entre 1933 e 1992. Esta foi a última mina de ouro a funcionar em Portugal, sendo que muitos ainda se recordam das notícias do seu encerramento e do impacto que isso teve na comunidade local.
É precisamente o lado humano que este polo museológico procura valorizar, uma vez que há mineiros e familiares que «preservam com muito orgulho os equipamentos que eram utilizados na mina, as fichas e os documentos relacionados com esta atividade e material relativo à vida da aldeia», relata Patrícia Machado, referindo que esta nova estrutura permite à comunidade local contar a sua história. A arqueóloga recorda que a vida nesta aldeia era distinta, uma vez que Jales tinha um nível de progresso muito superior à generalidade das localidades vizinhas, fruto das regalias que a empresa mineira dava aos seus trabalhadores, existindo eletricidade, posto médico, farmácia, supermercado ou refeitório. No auge da exploração, chegaram a laborar cerca de mil trabalhadores nesta mina. O centro interpretativo foi instalado na casa do guincho do poço de Santa Bárbara, local onde estavam instalados os motores que permitiam o funcionamento do elevador, por onde eram transportados os mineiros e o minério entre o solo as galerias subterrâneas, que chegaram a atingir os 630 metros de profundidade. Existe também uma réplica de uma galeria subterrânea, levando os visitantes a reconstituírem as condições de trabalho na mina. Em destaque estão as diferentes profissões de quem trabalhava dentro da mina, tais como o marteleiro, o amostrador, o entivador (responsável pelo escoramento da mina) ou a colocação de explosivos dentro das velas que eram usadas na exploração. O espólio que está em exposição foi cedido pela população, havendo, entretanto, outras tantas peças para serem catalogadas, também fruto de doação ou cedência. Estando já a receber visitantes, este é um projeto «dinâmico» em termos museológicos e que «poderá vir a dar lugar a outros pequenos projetos de valorização de espaços na comunidade mineira», revela a mesma responsável. A marcação das visitas pode ser feita através do 259458133 ou de [email protected].
Provar água da nascente
Quando bebemos uma “Água das Pedras” é possível que não nos lembremos da sua origem: Pedras Salgadas. É aqui que existe um parque de 20 hectares onde é possível provar gratuitamente esta água mineral natural gasocarbónica diretamente da nascente. Escavações arqueológicas indicam que a origem do conhecimento da Água das Pedras remontará à época do Império Romano. Contudo, a história que levaria Pedras Salgadas a ser uma das mais importantes estâncias nacionais começou em 1871, com o início da oficial da exploração das águas termais vocacionadas para problemas do aparelho digestivo. A construção do balneário termal, de hotéis e de um casino são etapas do crescimento da fama desta localidade, que atraía as mais célebres personalidades portuguesas, incluindo os reis D. Fernando e D. Carlos. Conta-se que, antes do 25 de Abril, chegaram a existir 1500 camas em Pedras Salgadas, uma oferta superior à que a cidade do Porto apresentava à época. Depois de uma fase de declínio, comum a todas a termas, o parque renasceu como Pedras Salgadas SPA & Nature Park, sendo atualmente um conjunto turístico de quatro estrelas. O acesso ao parque é gratuito, podendo- -se desfrutar do contacto com a natureza em caminhadas pelos trilhos que serpenteiam por entre as árvores e os edifícios. Embora o parque continue a ser o ex-libris que leva visitantes a Pedras Salgadas, cada vez mais a ciclovia, a Estrada Nacional 2 e o Caminho Português de Santiago Interior, certificado em outubro do ano passado, são motivos de atração. A antiga estação de comboios está a ser transformada num centro de acolhimento turístico, num investimento de cerca de 700 mil euros, e ideias não faltam para a dinamização do território, como revela João Fontes, responsável pela emblemática Casa Fontes, uma unidade de alojamento de turismo rural que está há 52 anos na mesma família e que é atualmente um “bikehotel”. A classificação da Serra da Padrela como parque natural, a criação de um centro BTT e o aproveitamento turístico das casas florestais que estão ao abandono são algumas sugestões que apresenta enquanto subimos à montanha para ver o pôr do sol. No sentido de valorizar as potencialidades locais, a Casa Fontes foi pioneira em Trás-os-Montes no lançamento de uma aplicação móvel que apresenta pontos de interesse e rotas da região. Pelo caminho, paragem obrigatória na capela de S. Geraldo (século XVI), em Bornes de Aguiar. S. Geraldo morreu nesta localidade a 5 de Dezembro de 1108, tendo dado origem ao “Milagre da Fruta”. Diz a tradição que o então Bispo de Braga, agora padroeiro da cidade, já muito doente, pediu que lhe trouxessem fruta fresca. Perante a objeção de que as árvores estavam despidas, S. Geraldo terá respondido: “Vai e procura”. E, no exterior, as árvores encheram-se de fruta. O percurso pela Serra da Padrela confirma que a natureza é um dos pontos fortes do concelho de Vila Pouca de Aguiar, que tem locais que proporcionam vistas espetaculares sobre o território. Entre esses lugares está o Miradouro do Minhéu. Neste périplo nota também para a lagoa do Alvão (Barragem da Falperra), onde é possível observar o impacto da seca no nível da água. A vice-presidente da Câmara Municipal destaca precisamente a aposta da autarquia no turismo de natureza como fator de desenvolvimento local. Ana Rita Dias recorda que, nos tempos áureos do termalismo, o turismo era essencial para o concelho, pelo que o município está que a trabalhar no sentido de captar cada vez visitantes. Entre os fatores de atração, estão as tradições ligadas à agricultura e os produtos endógenos de excelência. Assim, depois da realização da Feira das Cebolas, no último fim de semana de setembro, está já marcado o certame.
Cabrito, Castanhas e Cogumelos – Mostra Gastronómica e Feira de Produtos de Outono para os dias 29 e 30 deste mês de outubro. Uma visita ao concelho tem ainda como ponto obrigatório o Castelo de Aguiar de Pena, estrutura com uma data de construção incerta. No entanto, apresenta uma tipologia roqueira, o que já aponta para uma antiguidade significativa, como refere a arqueóloga Patrícia Machado. O castelo tem uma ocupação documentada entre o século XII e o início do século XVI. Teve obras de melhoria das estruturas no século XIV, que são bastante percetíveis durante a visita. Por exemplo, a porta que liga a barbacã à sala da janela seteira apresenta, do lado de fora, o aspeto novo da obra de melhoria e, do lado de dentro, o arco de volta perfeita da construção do período anterior. O edifício é dado como abandonado em 1527. «O castelo surge e é abandonado pelo mesmo motivo: a estratégia para o controlo das terras. A sua importância começa a diminuir quando, no quadro da formação do Reino de Portugal, já há paz com Castela e não há a necessidade de uma linha de castelos tão densa. O abandono acontece quando estes castelos deixam de ser cabeças de terra e a administração das Terras de Aguiar de Pena se desmembra nos concelhos de Vila Pouca de Aguiar e Ribeira de Pena», explica. O imóvel foi alvo de escavações arqueológicas e classificado em 1982 como monumento nacional por retratar «um momento específico da administração das terras medievais no início do Reino de Portugal». Existe um Centro de Interpretação nas imediações do castelo e o seu espólio pode ser encontrado no Museu Municipal Padre José Rafael Rodrigues.