Chegou o momento de arrumar a adega, lavar os cestos e fazer um balanço às contas com uma análise retrospetiva sobre a campanha que acaba de terminar e fazer uma previsão para a nova época que se avizinha. Nestas últimas campanhas, marcadas por um crescimento económico ténue ou nulo, resultado de uma crise sanitária e de saúde pública, motivada pela COVID 19, foi efetivamente um período de grandes incertezas, de grandes perdas de vidas humanas e, acima de tudo, um momento de muita ansiedade e preocupação pelo seu efeito nefasto a todos os níveis da organização da sociedade e da economia.
Neste ponto, as adegas, os produtores de vinhos e uvas, dentro dos seus possíveis, até conseguiram minimizar os efeitos, tendo em certa medida, feito chegar os seus vinhos junto dos seus clientes, tendo aqui o setor vitivinícola, reinventando o seu modelo de comercialização. No caso dos pequenos e médios produtores, fizeram escoar os seus vinhos através da venda online ou diretamente aos seus clientes, no caso dos grandes produtores e adegas cooperativas optaram por apostar em ações de promoção, aliadas a fortes campanhas de marketing, que em conjunto com medidas de apoio por parte do governo, na disponibilização de fundos para o armazenamento e destilação de excedentes, acabou por minimizar os efeitos da quebra de consumo.
Houve aqui, a necessidade de reorganizar o modelo de comercialização, uma vez que o setor do turismo e da restauração, responsável pelo consumo de grande parte dos vinhos produzidos em Portugal, viu a sua atividade reduzida a valores nunca antes vistos. No entanto, já em 2021, ano de viragem e de desconfinamento, o consumo, tanto a nível nacional como internacional, Portugal viu aumentar as suas vendas, tendo aqui os vinhos portugueses revelado uma evolução positiva muito notável, resultado da excelente relação qualidade-preço e pela aposta na notoriedade, fruto do investimento nos últimos anos na internacionalização dos nossos vinhos, tendo o País, finalizado o ano de 2021 com um forte impulso no consumo interno e nas exportações.
No entanto, e ainda mal tinha iniciado a nova campanha, já se avizinhava uma nova preocupação, nomeadamente uma crise climatérica, resultado da seca extrema a que o país se encontrava, provocada pela ausência de qualquer precipitação durante o inverno passado. Era assim o início desta campanha, que se manifestou até final pela ausência de chuvas significativas. Vimos inclusive, muitos dos principais rios e seus afluentes, descer o seu caudal para níveis, de tal forma preocupantes, que chegou a por em causa a prática da agricultura em grande parte do território nacional e, em muitos casos, posto também em risco a disponibilidade de água para consumo humano e dos animais. Este fenómeno, provocou enormes quebras de produção em vastas áreas vitícolas do território nacional, não pela diminuição do número de cachos nas videiras, mas sim pelo fraco crescimento dos bagos e escaldão dos mesmos, que contribuiu em algumas regiões, para uma diminuição significativa da produção, assim como um escasso rendimento em mosto.
Em simultâneo e mal tinha iniciado o ciclo vegetativo da vinha, onde muitas das cepas, ainda se encontravam por podar, quando passamos a ter início a um novo ciclo de crise, resultado da invasão militar da Ucrânia por parte das tropas Russas, ocorrida em finais de fevereiro. Tal barbárie provocada por Vladimir Putin, está a provocar uma escalada de instabilidade económica, financeira e política que gera uma forte onda de insegurança a nível mundial, tendo contribuído desta forma, para uma escalada de aumento dos preços das matérias-primas, que ainda se mantém até a presente data e sem fim à vista.
Contudo, todos os empresários e em especial os do sector da vinha e do vinho, observam atentamente, semana após semana, a um aumento galopante dos preços do gasóleo, dos fertilizantes, dos fitofármacos, da energia, das embalagens e do vidro, que levará à necessidade premente em aumentar o preço final dos vinhos.
Por seu lado, o incremento da taxa de inflação para valores na ordem dos 10%, irá gerar ainda mais asfixia financeira nas famílias, que com toda a certeza, contribuirá para uma diminuição drástica do poder de compra das mesmas. De tal forma que os consumidores finais, passarão a dar preferência a outros produtos de primeira necessidade em detrimento do nosso prestigiado vinho.
João Pereira,
Enólogo
CABRIZ RESERVA TINTO R
Sub Região: Não determinada
Casta(s): Touriga Nacional, Alfrocheiro e Aragonez
Produtor: Global Wines S.A
Ano de Colheita: 2020
Preço: Entre 9,00€ e os 10,50€ Álcool: 13,5%
Enólogo: Osvaldo Amado
Notas de Prova: Apresenta-se com um aspeto límpido, de cor rubi intenso com ligeiros tons acastanhados, ao nível do aroma, este é intenso em notas balsâmicas, apresentando também notas florais, frutos vermelhos e frutos do bosque bem maduros. Ao nível do sabor, este é bastante frutado, macio, distinto volume de boca e termina muito elegante e persistente.
Harmonizações: Recomendaria servir este vinho com carnes vermelhas estufadas ou grelhadas, caça e queijos bem estruturados.
ARCA NOVA
Região: DOC Vinho Verde
Sub Região: Não determinada
Casta(s): Loureiro
Produtor: Quinta das Arcas, Lda
Ano de Colheita: 2021
Preço: Entre 4.50€ e 5.50€
Álcool: 11,5%
Enólogo: Fernando Machado e Henrique Lopes
Notas de Prova: Um vinho de aspeto bastante límpido e citrino, apresenta um Aroma intenso e com aromas de frutos tropicais como a manga e flor de laranjeira, apresentando também algumas nuances de notas florais que se misturam com a fruta abundante. Ao nível do palato, este apresenta uma estrutura bem definida e uma frescura ativa com uma acidez crocante e de final de boca persistente.
Harmonizações: Um ótimo vinho para acompanhar saladas, peixes e mariscos.