Os comboios turísticos, que decorrem até outubro, convidam a descobrir a Galiza de uma forma cómoda, económica e ecológica. O programa deste ano apresenta 13 percursos, tendo como novidades as rotas da reserva da biosfera de As Mariñas e dos queijos. Com saída de Ourense, destaque para o périplo que leva os visitantes à descoberta da Ribeira Sacra e de Valdeorras.
O comboio profusamente decorado está parado na estação de Ourense à espera dos passageiros para a rota pelos vinhos da Ribeira Sacra e de Valdeorras. Este é um dos 13 percursos em funcionamento até outubro, sempre aos sábados, no âmbito do projeto dos comboios turísticos, promovido pela Junta da Galiza, pela empresa ferroviária espanhola Renfe e pelo INORDE – Instituto Ourensano de Desenvolvimento Económico. Comboios turísticos levam visitantes à descoberta dos encantos da Galiza Pouco depois da partida, o percurso segue bordejando o rio Minho, oscilando a vista entre vegetação mais densa e casarios incrustados nas encostas. O destino é o apeadeiro de Santo Estevo de Ribas de Sil. Ali, após um curto trajeto a pé a apreciar o rio Sil, que serpenteia por entre montanhas verdejantes, um autocarro leva os visitantes ao ancoradouro onde começa um passeio de barco até aos desfiladeiros do Sil, um dos ex- -libris da Ribeira Sacra. Esta é uma área delimitada pelos rios Minho e Sil, na fronteira entre Ourense e Lugo, que se destaca pelas suas belíssimas paisagens, sendo apontada como um dos recantos mais mágicos de toda a Galiza. A construção de barragens tornou o rio navegável, permitindo apreciar a partir da embarcação os desfiladeiros de origem tectónica que chegam aos 500 metros. Daqui se avistam as impressionantes vinhas plantadas em socalcos, sendo este um expoente máximo da denominada viticultura heroica. A navegabilidade do rio permitiu que em algumas vinhas as uvas sejam escoadas por barco, em vez de ser necessário carregar os cestos até ao topo da encosta, em locais com uma inclinação que pode chegar aos 80 por cento. A Ribeira Sacra é, desde 1996, uma das cinco denominações de origem protegida que a Galiza tem no setor dos vinhos. A introdução da viticultura nesta região remontará à época romana, sendo que a sua difusão ocorreu devido ao impulso dado pelas ordens religiosas que se instalaram no território. O percurso aguça o apetite para uma visita aos miradouros, que permitem apreciar esta beleza natural de outros ângulos, e aos importantes mosteiros que existem nas imediações. Uma das explicações para o topónimo desta região prende-se precisamente com o facto de ter sido muito procurada por eremitas, o que acabou por dar lugar a inúmeros mosteiros e igrejas. Entre este património religioso, destaque para os mosteiros de San Pedro de Rocas, com uma história que remonta a 573, sendo aventado que este pode ser o mais antigo da Galiza, o de Santo Estevo de Ribas de Sil, impressionante pelo seu tamanho e localização, atualmente transformado numa unidade hoteleira, e o de Santa Cristina de Ribas de Sil, rodeado por árvores centenárias. Com os olhos maravilhados pelo “canhão do Sil”, retoma-se o percurso de comboio em direção ao território da Denominação de Origem de Valdeorras, que existe desde 1945, na fronteira de Ourense com Leão. Depois do almoço em A Rúa, segue-se de autocarro até ao Santuário de Santa María das Ermidas, encravado no vale do rio Bibei, rodeado por socalcos com vinhedos. O santuário foi mandado construir em 1624, junto ao local onde pastores terão encontrado uma imagem da Virgem Maria, no século XIII, a quem são atribuídas curas milagrosas. A sua fachada é considerada como uma das melhores obras do Barroco galego, destacando-se também a riqueza do altar-mor, com a imagem da Virgem rodeada por anjos de prata que dançam e fazem soar sininhos. No exterior, nota para a Via-Sacra inspirada no Bom Jesus de Braga, o cruzeiro e a casa sacerdotal. A próxima paragem é na adega A Coroa, apresentada como um exemplo da qualidade do vinho de Valdeorras, fazendo vindima manual, em caixas abertas para evitar contaminações, e uma seleção criteriosa das uvas. Destaque para a adega, que mantém a antiga estrutura de pedra. Sempre com as excelentes explicações das guias Marián Sampaio e Ana Rodal, ruma-se à estação de Os Peares, transformada num espaço museológico no âmbito de um projeto de revitalização destes equipamentos da responsabilidade do INORDE denominado “Estações Vivas”. Aqui existe um museu ferroviário, onde se podem ver elementos de sinalização, sistemas de comunicação, antigos bilhetes, entre os quais alguns minhotos, vestuário, fotografias históricas e maquetes com miniaturas de comboios em funcionamento. Juan José Álvarez, chefe da expedição da Renfe, destaca que os comboios turísticos estão a ser um sucesso. O projeto começou em 2013 com dois comboios e capacidade máxima de 50 pessoas em cada percurso. Este ano há 13 rotas, o que significa 37 comboios a percorrer diferentes áreas da Galiza, com 96 vagas em cada um. A taxa de ocupação está nos 98 por cento, incluindo muitos passageiros portugueses. Este responsável refere que os comboios turísticos dão a possibilidade de se percorrer alguns dos locaismais emblemáticos da Galiza de maneira cómoda, com guias turísticos qualificados e a baixo custo. O bilhete custa 45 euros para adultos e 20 euros para crianças. Grupos com dez ou mais adultos têm um desconto de 15%. Estes preços incluem o transporte gratuito das cidades mais próximas do local de onde parte o comboio turístico e a possibilidade de aquisição por 22 euros de um bilhete que permite circular livremente por toda a Galiza durante três dias. Os itinerários com saída de Ourense são as rotas dos Vinhos da Ribeira Sacra e Valdeorras; Vinho da Ribeira Sacra – Rio Sil; Vinho da Ribeira Sacra – Rio Minho; Vinhos do Ribeiro e Rias Baixas; e Vinho de Monterrei. Em Santiago de Compostela têm início as rotas dos Vinhos das Rias Baixas; Mosteiros; e Paços e Jardins Históricos da Galiza. Da Corunha partem as rotas dos Caminhos de Santiago, queijos e As Mariñas, enquanto de Ferrol sai a rota dos Faróis e de Pontevedra a da Lampreia.