O mês de junho cheira a manjerico e a sardinhas assadas, e a sua banda sonora é composta por marchas populares dedicadas aos três santos que nos permitem três dias de alegria e de descanso conforme a cidade onde se vive.
Mas, o mês de junho também nos apela à religiosidade, sendo que, sem um dia fixo, é nele que se vive um momento importante, que é o Dia do Corpo de Deus, celebrado em muitas cidades da nossa região.
Em junho há ainda o apelo àquilo que nos faz sentir nação, que nos faz sentir um povo único neste mundo cada vez mais globalizado, com a particularidade deste ano o 10 de junho ser celebrado em Braga.
E, neste distrito não nos faltam símbolos da nacionali- dade portuguesa que foi sendo construída ao longo de sé- culos, apesar de várias ameaças sempre ultrapassadas. No concelho de Celorico de Basto reside, precisamente, um destes símbolos nacionais que vale a pena visitar. Falamos do Castelo de Arnóia, que é a nossa visita deste mês.
Chegar a Celorico de Basto já foi mais difícil do que é neste momento, graças ao esforço que o país fez em termos de acessibilidades. Uma vez chegados ao centro da vila, não é difícil chegar ao Castelo de Arnóia, implantado num local geoestratégico, onde o Homem encontrou, desde tempos ancestrais, um local seguro para se estabelecer.
É opinião dos investigadores que muitos dos castelos que contribuíram para a defesa a solidificação da nossa nacionalidade foram construídos em locais anteriormente já ocupados, nomeadamente pelos castrejos, que escolheram locais estrategicamente altos para viver, sendo esta uma das hipóteses que se coloca para o Castelo de Arnóia, em Celorico de Basto.
O Castelo de Arnóia, classificado como Monumento Na- cional pelo Decreto N.o 35532, de 15 de Março de 1943, é uma construção anterior à nacionalidade, não se sabendo, porém, quando terá sido erguido.
Na sua publicação “Itinerário do Românico nos Concelhos de Cabeceiras e Celorico de Basto”, Luís Fontes afirma que esta fortificação é já referenciada em 1064, como Castellum Celoricu.
Na sua opinião, «terá sido construído em época anterior, aproveitando provavelmente restos de construções do antigo castro romanizado de que aí se encontram vestígios».
Apesar de não haver certezas pela falta de fontes históricas, alguns investigadores acreditam que o Castelo de Arnóia terá sido fundado pelos muçulmanos no século VIII, havendo também quem defenda que esta fortificação foi edificada ou reedificada no século XI por D. Moninho Moniz, sepultado no Mosteiro de S. João de Arnóia.
Mesmo defronte ao Castelo de Arnóia, na encosta virada a Norte, encontra-se o monte da forca, onde esteve durante séculos esse instrumento de justiça capital, mas que nunca foi utilizado.
Junto ao castelo ainda hoje perdura o núcleo da antiga vila de Basto, onde se encontra, para além da casa da botica, o antigo tribunal que poderia sentenciar um criminoso à pena de morte.
Curiosamente, apesar de existir a forca no monte em frente ao Castelo de Arnóia, onde a justiça foi administrada pelos senhores da Terra, o único caso de enforcamento que se conhece na região e que é relatado pelas fontes até agora conhecidas aconteceu não ali, mas na vila de Freixieiro e pouco tempo antes da abolição da pena de morte.
A 21 de Abril de 1719 o rei D. João V determinou a mudança do concelho de Arnóia para o lugar de Freixieiro em Britelo, doravante denominado Vila Nova do Freixieiro, hoje Celorico de Basto, alegando o grande isolamento da vila primitiva. Com esta determinação, o Castelo de Arnóia, que já se encontrava em situação de degradação, acabou por sofrer um golpe que, só não foi fatal porque, nos nossos dias, houve uma preocupação com a recuperação deste património. Na verdade, o Castelo de Arnóia está hoje recuperado, é um excelente local que merece a nossa visita, onde os valores da nacionalidade continuam a ecoar em cada uma das pedras ali colocadas.