ENTREVISTA A DANIEL VILAÇA, NOVO PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO EMPRESARIAL DE BRAGA
Daniel Vilaça é o novo presidente da direção da Associação Empresarial de Braga (AEB) e, em entrevista à Revista Minha, referiu que o principal compromisso passa por acrescentar valor à atividade da AEB e projetar um futuro melhor para a associação.
A AEB elegeu recentemente os novos órgãos sociais para dirigir a associação nos próximos anos. O que é que os associados podem esperar desta nova direção?
Podem esperar uma direção empenhada em dar continuidade ao meritório projeto associativo que a AEB tem dinamizado nos últimos anos, alicerçado em 159 de história e memórias que muito dignificam os empresários, a região de Braga e o nosso país. O nosso principal compromisso é acrescentar valor à atividade da AEB e projetar um futuro melhor para esta prestigiada associação empresarial de Portugal.
Por que decidiu ser presidente da AEB?
Acredito que o movimento associativo empresarial desempenha um papel decisivo e insubstituível na economia e sociedade portuguesa. O associativismo empresarial sempre me fascinou por ser o universo e espaço certo para a representação e defesa dos interesses da comunidade empresarial. Também tomei essa decisão, porque tive desde logo o apoio da excelente equipa que me acompanha, imbuídos de um forte espírito de missão para se fazer mais e melhor pela comunidade que representamos.
Nas eleições só houve uma candidatura, numa lista presidida por si. Por que acha que não estiveram mais pessoas interessadas em assumir a direção da AEB?
Antes e depois do 25 de abril de 1974, não há memória nesta associação de se terem apresentado a sufrágio duas ou mais listas para os órgãos sociais da associação. Esta realidade revela que os dirigentes e associados da AEB sempre souberem encontrar as soluções de governação mais adequadas para a instituição.
Substitui Domingos Barbosa, que liderou a Associação nos últimos 14 anos. Que balanço faz do seu trabalho?
O Dr. Domingos Macedo Barbosa exerceu uma liderança inspiradora que se traduziu num trabalho notável ao longo dos anos em que presidiu à AEB. Enfrentou grandes desafios no início do seu mandato, tendo tomado na AEB decisões muito difíceis do ponto de vista humano e financeiro. Sinto uma enorme gratidão e privilégio ter pertencido à direção liderada pelo Dr. Domingos Macedo Barbosa, o nosso estimado Presidente, Empresário e Amigo.
Com que disposição esta nova equipa surge nesta associação?
Surge com o propósito de dar continuidade ao meritório projeto associativo protagonizado pela AEB nos últimos anos e com a ambição de reforçar a intervenção e representatividade desta casa de empresários. Com confiança e grande sentido de responsabilidade empresarial e social vamos trabalhar em prol de um desenvolvimento sustentável e inclusivo.
Os atuais órgãos sociais integram duas mulheres. É um progresso relativamente à anterior direção. Mas continua aquém do que seria suposto nos dias de hoje, tendo em conta a igualdade do género. Concorda com essa análise, também referida por Ricardo Rio na apresentação da nova direção da AEB?
Concordo em absoluto e creio que em próximos mandatos dos órgãos sociais da AEB será possível inverter essa situação. Porque há cada vez mais mulheres a assumir cargos de liderança nas empresas e demais organizações, em breve teremos um associativismo empresarial mais paritário quanto ao género e, como tal, mais representativo da realidade empresarial e mais inclusivo. Há ainda muito a fazer no sentido de valorizar e reconhecer o papel da mulher nas empresas, no mercado de trabalho e no associativismo empresarial.
Quais são os maiores desafios para este mandato?
O futuro da AEB assenta em três pilares essenciais. Em primeiro lugar, queremos continuar a ser uma associação empresarial de referência em Portugal com uma atuação independente, inspiradora e consistente, que promova a confiança dos empresários e um envolvimento proativo das mais diversas entidades parceiras. Desejamos também ser capazes de inovar e contribuir para as mudanças em curso na economia portuguesa, dando especial atenção ao aumento da competitividade das empresas, à atração de investimento e ao aumento das exportações. Por último, o objetivos passa por continuarmos a ser uma associação dinâmica, representativa e ágil, capaz de promover e defender os interesses coletivos das empresas e dos empresários com base na prestação de serviços de qualidade.
E em termos de objetivos, quais são as prioridades?
Passam por reforçar a atividade e representatividade da AEB; assegurar uma gestão económico-financeira equilibrada e sustentável; incrementar a cooperação com os municípios e comunidades intermunicipais; reforçar os planos plurianuais da AEB de dinamização das atividades económicas; desenvolver programas e iniciativas de apoio à internacionalização das empresas e atração de investimento; promover o talento e as competências necessárias para contribuir assertivamente para transição tecnológica, produtiva, energética e digital em curso nas empresas; potenciar a captação de recursos financeiros dos programas comunitários para elevar a competitividade do tecido empresarial representado pela AEB; e reforçar a comunicação e o envolvimento com os associados.
O Dr. Domingos Macedo Barbosa exerceu uma liderança inspiradora que se traduziu num trabalho notável ao longo dos anos em que presidiu à AEB
O que de concreto a Associação Empresarial de Braga representa para Braga, na sua opinião?
É uma instituição empresarial que muito tem contribuído para a dinamização económica e afirmação de Braga no contexto nacional e internacional.
Quais são os principais problemas que enfrentam os comerciantes e empresários de Braga?
Enfrentam os problemas de uma economia que só agora começa a recuperar de uma grave crise pandémica sem precedentes em Portugal e no Mundo. As consequências/impactos da guerra na Ucrânia nos negócios é também uma grande preocupação para muitas empresas e empresários. Creio ainda que há problemas estruturais relevantes para os empresários como a falta de pessoal; as insuficientes qualificações do tecido empresarial; a excessiva dependência de capitais alheios para processos de expansão e desenvolvimento; a falta de competitividade internacional em muitas áreas; a reduzida dimensão de muitas empresas; a baixa produtividade em muitos negócios; e, as insuficiências no que respeita a práticas de inovação, investigação e desenvolvimento empresarial.
Que iniciativas podem ser tomadas para minimizar as perdas de rendimentos dos associados?
Para além das políticas públicas com apoios diretos às empresas mais afetadas pela pandemia, no sentido de assegurar a sobrevivência dos negócios, a manutenção do emprego e o normal funcionamento dos mercados, importava aliviar a elevada carga fiscal suportada pelas empresas.
Em 159 anos de atividade da AEB, o que é que poderia já ter sido feito que não o foi?
Hoje, como há muitas décadas atrás, continuamos a ter uma sociedade que muitas vezes hostiliza injustamente empresas e empresários. Estes agentes desenvolvem atividades dignas e da maior relevância para o nosso bem-estar económico e social. Sem a criação de riqueza e emprego não há qualidade de vida, coesão social e progresso económico e cultural. Por isso, julgo que mais deveria ter sido feito em termos de dignificação, valorização e reconhecimento do papel dos empresários e empreendedores nas sociedades contemporâneas.
Relativamente à Câmara Municipal de Braga considera que a proximidade e cooperação terá que ser alargada?
É fundamental que se mantenha a proximidade e cooperação que têm sido dinamizadas entre a AEB e Câmara Municipal de Braga. Todavia, estão sempre a surgir novos desafios e oportunidades que nos obrigam a manter um diálogo permanente com a autarquia com o propósito de identificar e concertar as melhores soluções para o futuro da cidade e da economia local.
Quais são as perspetivas futuras para o comércio de Braga?
Só podem ser encorajadoras e de sucesso, porque estamos a falar de um comércio moderno, competitivo e com reconhecida capacidade para atrair consumidores das mais diversas proveniências. Braga é um destino turístico e uma praça comercial de excelência no contexto nacional, ibérico e europeu. Braga é também uma cidade com enorme potencial para atrair investimento e talento, sendo expectável que o comércio e serviços continuem a ser um dos principais motores do desenvolvimento económico e social de Braga.
Qual a análise que faz da economia bracarense na última década?
Excluindo o período da pandemia, fazemos uma análise muito positiva da evolução da nossa economia. Com uma variação demográfica positiva nos últimos anos, Braga tem-se afirmado como uma das cidades mais dinâmicas e apelativas de Portugal e da Europa. Temos uma economia diversificada e com forte potencial de crescimento no que respeita à atuação de mais empresas em mercados externos. Com centros de conhecimento e investigação com reputação a nível nacional e internacional, com um tecido empresarial cada vez mais inovador e competitivo, a nossa cidade está preparada para enfrentar com sucesso os desafios que o futuro nos reserva.
Acredita que Braga está no caminho certo para o desenvolvimento económico?
Sim! Sendo certo que precisamos de ser mais determinados e ambiciosos para que seja possível vencer num contexto de permanente mudança e de grande exigência competitiva.
Como vê o potencial de Braga para atrair investimentos em áreas ainda não exploradas?
O potencial é enorme, porque temos recursos humanos e naturais suficientes e de qualidade para apostar nas novas áreas de desenvolvimento ligadas a setores como a saúde, turismo, energias renováveis, eficiência energética, economia circular, novas tecnologias de informação e comunicação, etc.
Há ainda muito a fazer no sentido de valorizar e reconhecer o papel da mulher nas empresas, no mercado de trabalho e no associativismo empresarial.
O que os empresários/associados de Braga podem esperar de si?
Da minha parte comprometo-me a trabalhar com total isenção e independência em prol das empresas e dos empresários, com a dedicação que eles merecem e exigem. Como empresário que o sou, falarei sempre essa mesma linguagem, defendendo sempre os interesses das empresas e do desenvolvimento económico da nossa região e país. Sinto um grande orgulho e honra em ter sido eleito presidente da Direção desta instituição tão prestigiada e respeitada. Perante os colegas empresários e associados da AEB assumi o compromisso de servir e acrescentar valor a esta instituição ímpar de Braga e de Portugal. Conto com todos para que tenhamos sucesso na resposta aos grandes desafios de sustentabilidade que enfrentarão os associados da AEB e a própria associação.
Tem alguma meta de crescimento neste âmbito para este mandato?
Definimos anualmente objetivos e metas a alcançar nas várias frentes de intervenção da AEB, que são debatidas e aprovadas pelos associados em assembleia geral. Vamos reforçar a comunicação com os associados e desenvolver iniciativas que potenciem uma maior participação dos associados na vida da associação.
Qual é a mais-valia de um empresário pertencer à AEB?
Ter uma voz que o represente e defenda! Pertencer a uma associação dinâmica e representativa que lhe presta serviços de qualidade no âmbito da formação, apoio jurídico, apoio à inovação e internacionalização, etc.
Como é que avalia a carga fiscal adotada atualmente pelo governo e qual o melhor caminho para que os empresários não sejam tão prejudicados?
Vamos continuar a lutar por um sistema fiscal amigo do investimento, do crescimento económico e dos negócios. É também fundamental que se trabalhe no sentido de reduzir e simplificar as obrigações declarativas das empresas.
O PRR, daquilo que já se conhece, pode ajudar os vossos associados ou a própria AEB?
O PRR está formatado para alavancar o investimento público e muito pouco será destinado às empresas e associações. No âmbito das medidas de apoio ao comércio, serviços e revitalização urbana, o PRR consagra as seguintes medidas de apoio: “Bairros Comerciais Digitais” e “Aceleradoras de Comércio Digital”. Em consórcio com outras entidades, a AEB está envolvida na apresentação de candidaturas a estas medidas. A seu tempo, a AEB informará as empresas dos apoios previstos e aprovados.
Os últimos três anos não têm sido fáceis, em termos globais. Primeiro surgiu a pandemia, agora a guerra na Ucrânia. Quais são as expectativas para quem é empreendedor em 2022?
As oportunidades de negócio e de desenvolvimento empresarial surgem nos mais diversos contextos económicos e sociais. Há muitos exemplos de ideias e projetos empresariais lançados em tempo de crise que vingaram. Sucedeu durante o período da troika em Portugal, durante a pandemia e está a acontecer neste período tão difícil de guerra na Europa que estamos a viver. O mais importante é a capacidade evidenciada pelo Empreendedor para dar forma à boa ideia e projeto empresarial que protagoniza.
Entra num período difícil para os empresários e empresas. É um homem de desafios?
Estou no associativismo empresarial há vários anos e, enquanto empresário e empreendedor, tenho ultrapassado com sucesso grandes desafios em períodos tão difíceis para os negócios. Vivemos mais um período difícil, a exigir uma grande capacidade de resiliência por parte dos colegas empresários e de quem está ligado à atividade empresarial.
Um dos projetos em que a AEB está integrada diz respeito ao Reencontro, na promoção e divulgação dos centros comercias de primeira geração. Muito se tem falado da revitalização destes locais. Tem algo idealizado para este tema, para além daquilo que tem vindo a ser efetuado recentemente?
Em parceria com o Município de Braga desenvolvemos nos últimos anos estudos, projetos e atividades dedicadas à revitalização dos designados centros comerciais de primeira geração. Dentro das competências e disponibilidades da Associação, vamos manter esta aposta e trabalho em prol dos colegas que trabalham nestes espaços comerciais.
Hoje, como há muitas décadas atrás, continuamos a ter uma sociedade que muitas vezes hostiliza injustamente empresas e empresários.
A falta de mão-de-obra na restauração é, atualmente, um dos problemas do setor. O que acha que deve ser executado para alterar esse paradigma?
A falta de mão-de-obra na restauração é um problema que se tem mantido nos últimos anos, sendo hoje um problema que afeta outros setores e atividades com a mesma acutilância. A AEB tem apostado na formação de jovens e adultos nesta área e continuará a fazê-lo nos próximos anos. Importa que os jovens e as famílias valorizem as profissões associados ao setor, como sucedeu há poucos anos com a profissão de cozinheiro. É também fundamental que as empresas do setor encontrem as melhores soluções para atrair e reter mão-de-obra especializada, acautelando dimensões fundamentais para a gestão do negócio como os horários e condições de trabalho, salários, prémios e acesso a formação.
A valorização dos produtos locais é uma causa a defender?
Sim! Sobretudo os produtos identitários e diferenciadores. Nas zonas de baixa densidade da nossa região, a valorização dos produtos locais é crucial para a coesão e desenvolvimento desses territórios.
O turismo é um dos pontos fortes do concelho. O que defende neste setor?
Temos de continuar a apostar na qualificação empresarial e profissional da oferta e, sobretudo, desenvolver uma estratégia assertiva de promoção em mercados internacionais. A oferta de alojamento na nossa cidade e na região tem sido substancialmente reforçada nos últimos anos. É um processo em contínuo que importa que seja complementado com um reforço do tecido empresarial associado à animação turística e cultural, bem como em outras áreas relevantes para o turismo.
Qual é a sua opinião sobre a digitalização das empresas?
Nas empresas a comunicação e digitalização de processos é algo em permanente transformação e atualização. As empresas têm tido, em geral, uma apreciável capacidade de reação aos desafios tecnológicos e de transição digital que se têm colocado. O foco na transição digital e energética nas empresas vai continuar a estar na ordem do dia e, por isso, são fundamentais todos os apoios materiais (p. ex. recursos financeiros de fundos comunitários) e imateriais (p. ex.: ações de capacitação e consultoria especializada) a que as empresas possam recorrer para promover a digitalização dos seus processos. A modernização das lojas é fundamental para o próprio crescimento dos negócios.
Tem sentido que os lojistas do comércio tradicional estão conscientes desse passo?
A esmagadora maioria dos lojistas têm essa consciência e procura encontrar as melhores soluções para a modernização dos seus estabelecimentos e negócios. Muitas vezes sucede que a modernização das lojas não ocorre por razões alheias à própria dinâmica de desenvolvimento do negócio.
A AEB tem apostado muito em formação. Continuará a ser esse o caminho?
Sem dúvida, porque os défices de qualificação académica e profissional em Portugal ainda são significativos. Por exemplo, os níveis de qualificação dos empresários em Portugal são dos mais baixos dos países que integram a comunidade europeia. Enquanto associação empresarial, vamos continuar a apostar na qualificação dos empresários, bem como na formação inicial e contínua de jovens e adultos em idade ativa.
Qual a importância de uma AEB forte?
Queremos que todos os associados saibam que a AEB está na “linha da frente” das entidades que defende e apoia os empresários e as suas atividades. Nesta fase difícil que atravessamos (pandemia e guerra na Ucrânia) somos realistas, mas também otimistas, porque acreditamos na grande capacidade de resiliência e perseverança dos associados desta instituição. Como a “união faz a força”, juntos vamos resistir e vencer! Neste sentido, teremos uma AEB mais forte e representativa.
Que mensagem gostaria de endereçar a todos os associados da AEB?
Uma associação não é o seu presidente, nem os seus órgãos sociais. A razão de existir da associação são os seus associados, bem como as outras empresas que podem beneficiar da sua ação. É ao serviço dos associados que todos estamos (dirigentes, colaboradores e parceiros) para que todos melhorem a sua situação económica, financeira e empresarial. Por isso, o mandato que estamos a iniciar será de luta pela sustentabilidade da AEB e do tecido empresarial que esta representa.