Caminha
Há uma tradição das gentes que vivem no litoral, ou perto do litoral, que diz que é bom augúrio ir ver o mar no primeiro dia do ano. Por isso, sempre que posso, no dia 1 de janeiro rumo à beira mar para ir ver a beleza e a imensidão do mar, muitas vezes alteroso, nesta época do ano. Mas, bem vistas as coisas, eu acho que ir apreciar o mar é algo que pode ser feito em qualquer altura, com a certeza que estes momentos nunca serão iguais. E, nestas viagens pelo património há um local que recomendo vivamente, onde não só se pode ver um oceano imenso, como também o belíssimo estuário do rio Minho. Se os galegos têm o Monte de Santa Tecla, a verdade é que, do lado de cá, no concelho de Caminha, temos um miradouro praticamente à mesma altitude, onde está a capela de Santo Antão.
O Monte de Santo Antão, na freguesia de Venade, não muito longe da vila de Caminha, é um local com testemunhos ancestrais da ocupação pelo Homem. Ali, a arqueologia descobriu duas antas, uma das quais terá desaparecido. Por isso, é opinião de alguns investigadores que o surgimento da capela de Santo Antão neste local, que é ao mesmo tempo tão inóspido devido ao clima ventoso, e dos mais belos em termos de paisagem, tenha sido a sacralização de um antigo local de culto pagão. No que diz respeito à data da construção da Capela de Santo Antão, ela permanece nas brumas do tempo, não se sabendo em que ano ela terá sido sagrada. Apesar desta incerteza, há investigadores que apontam o século XIII, entregando a fundação do pequeno templo a eremitas que terão escolhido este local para melhor viverem a sua penitência, simplicidade, isolamento, oração e meditação. Contudo, há também quem coloque a construção da capela de Santo Antão no século XV, ligando este pequeno templo ao Convento de Santa Maria da Ínsua. E, como não há duas sem três, há ainda quem defenda que a capela foi edificada no século XVI, sendo certo que século XVIII foi alvo de uma grande beneficiação. A fonte histórica escrita mais antiga que refere a capela de Santo Antão é de 1722 e trata-se de um texto do padre Gonçalo da Rocha de Morais, onde se pode ler: «Santo António a 17 de Janeiro, a que chamam-lhe commumente Santo Antão do Monte, por estar em um alto monte, e no seu dia tem uma missa cantada, e porém é muito frequentada esta capela de devotos, que vão, de suas casas com missas e de muitas freguesias com clamores, pedir que interceda por eles e que lhes conceda Deus, senhor nosso, aquilo que necessitam». Sabendo que terá, pelo menos 300 anos, a capela de Santo Antão, neste local magnífico, com uma paisagem soberba sobre o mar e o estuário do rio Minho, esteve várias vezes em estado de ruína, mas outras tantas vezes foi reparado, pela devoção das gentes que nunca desapareceu. Dizem-nos que, momentos houve em que, por se encontrar num local isolado, no cimo do monte, a estrutura serviu até de abrigo a animais que ali encontraram aconchego. O facto desta capela se encontrar num dos locais mais altos do concelho de Caminha, sujeita a temperaturas baixas, a nevoeiros, a uma humidade relativa do ar elevada e a correntes de ar marítimas carregadas de salitre, não é de admirar que a degradação dos materiais de construção seja mais acelerada aqui. Mesmo assim, as gentes de Venade não desistem de cuidar da sua capela de Santo Antão e, em 2008, o pequeno templo, depois de servir de abrigo a cavalos, voltou a ser alvo de uma grande intervenção. A paróquia pôs mãos à obra e decidiu reerguer a sua ancestral capela dedicada a Santo Antão, colocando um piso novo, portas e janelas novas e renovar o teto. Uma família doou um altar novo, para a dotar este pequena de toda a sua dignidade. O marido gostava do mar e a esposa da montanha e foi, precisamente, no Monte de Santo Antão que decidiram adquirir uma propriedade, deixando a sua quinta no Douro.