Sugestão de Leitura

Instinto, de Ashley Audrain

Quando não conheço o autor, ou a obra não me foi recomendada, as minhas expectativas em relação a um livro são, à partida, baixas. Tenho sempre receio de não gostar, de achar que só perdi tempo e de lamentar o dinheiro que investi na obra. Talvez por isso, nos últimos tempos tenho apostado mais em livros sugeridos por amigos, ou com ótimas recensões. Como tenho lido mais no e-reader e a oferta em português ainda é pouca, nem sempre é possível apoiar-me nesses critérios. Foi o que me aconteceu com “Instinto”, de Ashley Audrain: comprei-o sem nenhuma referência, apenas por ter achado piada à capa e à sinopse. Ainda bem que o fiz.

“Instinto” conta-nos a história de Blythe, uma jovem que namora, casa e tem uma filha. Depois do nascimento da bebé, surgem alguns dos desafios da maternidade: baby blues, depressão pós-parto, perda de identidade, dificuldade em conciliar a maternidade com outros aspectos (tão importantes!) da vida. Blythe começa a achar que há algo de errado com a filha, Violet, quase desde o nas- cimento. É uma criança “difícil”, chora muito e parece só estar contente na presença do pai, Fox. Claro que toda a gente diz a Blythe que ela está a imaginar coisas, que são fruto da sua depressão e privação de sono. Blythe, ainda por cima, teve um contexto familiar muito complicado durante a infância, com uma mãe pouco afetuosa e narcisista. Desta forma, facilmente começa a questionar-se a si mesma, interrogando-se se o problema será genético: o problema estará em si e não na filha. Poucos anos depois, Blythe engravida outra vez e dá à luz o seu filho mais novo, Sam. É então que a maternidade adquire outro sabor; Blythe – agora sim! – sente-se uma verdadeira mãe, com uma adoração extrema pelo pequenote. Até Violet parece ter acalmado com a presença do irmãozinho mais novo e tudo flui normalmente. Até um dia…

Não posso dar mais pistas sobre o livro, sob pena de vos estragar o prazer da leitura. Na noite em que o acabei de ler, dormi mal, muito mal. Custou-me a digerir a história por vários motivos – mães e pais, atenção, será um murro no estômago para vós! – e andei durante uns dias a refletir sobre algumas coisas. Até que ponto somos as nossas circunstâncias? Até que ponto nos define aquilo que não temos poder para alterar? Blythe só queria ser uma mãe extremosa – contrariamente ao que a sua própria mãe e avó tinham sido –, mas seria possível fugir dos valores que a rodearam durante uma parte tão importante da sua vida?

“Instinto” é um bom thriller, sem dúvida. Apesar de ser, em grande parte, construído sobre discurso indireto (com a perspetiva de Blythe na primeira pessoa), não cansa e o suspense é mantido até à última linha. Eu cheguei a sentir uma vontade urgente de alertar a personagem principal, de dizer-lhe para não fazer isto ou aquilo, de avisá-la que o horror estava à espreita na esquina seguinte.

Dando uma última pista, o livro segue a linha de “Temos de falar sobre o Kevin”, “Tara Maldita”, ou “O Bom Filho”. É um bom livro, mas realmente não é para todos…

 

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