Quando vi as minhas tão aguardas férias chegarem, uma das minhas maiores alegrias foi o tempo… tempo para ler! Apesar de ter alguns livros ainda por estrear, não demorei muito a fazer uma incursão na livraria mais próxima de forma a adquirir alguns exemplares que já há muito andava a cobiçar. Segui algumas recomendações de amigos, aventurei-me por autores que não conhecia e optei também, “claro”, por um livro de João Reis. O meu “claro” é muito claro: estou cada vez mais fã do autor! Conheci-o com “A Avó e a Neve Russa” e li depois “A Noiva do Tradutor”. Fiquei de tal forma encantada que a maioria dos meus familiares e amigos – pelo menos os que gostam de ler – receberam livros deste autor pelo Natal. Assim, já na livraria, a minha indecisão foi apenas o título a escolher para já (eventualmente, hei de acabar por adquiri-los a todos). Para ser franca, o que me levou a decidir pelo “Se com Pétalas ou Ossos” foi a capa. Bonita, simples, mas uma lufada de ar fresco no abundante universo de capas de livros diretamente saídas de bancos de imagens (não percebo este problema que me parece ser tão tipicamente português!). O título também me cativou: gosto de títulos que não são demasiado explicativos, que não retiram magia ao livro, títulos capazes de despertar a minha curiosidade. Tinha a certeza que não me ia desiludir e não me enganei.
Devorei o livro num dia apenas e gostei tanto que não me atrevi a abrir outro logo de seguida para não estragar aque- le prazer de ter lido algo mesmo, mesmo bom. João Reis não é realmente um autor comum e acredito que a escrita não agrade a toda a gente, mas para mim é soberbo. A história de “Se com Pétalas ou Ossos” é, de certa forma, simples: Rodrigo é um escritor que se encontra numa residência literária em Seul e que tem de entregar um livro aos seus editores “para ontem”. Felizmente, tem a sorte de ter a namorada consigo – apesar de esta se encontrar alojada noutro local; “são as regras!” – para o ajudar a lidar com a pressão dos editores e o bloqueio criativo de que está a ser alvo. Ou não, porque a vida do protagonista não melhora quando a namorada lhe confes- sa estar desconfiada de uma possível gravidez. Até encontrar um teste de gravidez em Seul se vai revelar uma tarefa hercúlea para Rodrigo, que parece prestes a sucumbir às vicissitudes da vida em geral.
O livro tem tanto de melancólico, quanto de cómico. Arrancou-me bastantes gargalhadas, como “A Noiva do Tradutor” já havia feito. O humor de João Reis faz-me lembrar Monty Python ou Fawlty Towers; quem gostar deste tipo de comédia, certamente irá apreciar esta escrita. Também não é difícil identificarmo-nos com o protagonista: quem não teve já um dia tão terrível que chegou a ser cómico? É caso para dizer que todos nós já em algum momento da nossa vida fomos o Rodrigo. Não é fácil descrever as sensações que nos invadem quando somos nós os protagonistas dessas situações, mas João Reis fá-lo de forma exímia, brilhante. Nota máxima para a escrita do autor que, apesar de elaborada, não é hermética e muito menos pedante. É preciso muita mestria para escrever assim! Li algures – peço desculpa ao autor, mas não consigo mesmo lembrar-me onde – que João Reis tinha uma escrita “labiríntica”. Tal e qual, é uma autêntica viagem a várias velocidades e cadências, um caminho que queremos, irremediável e irresistivelmente, descobrir.
Com algumas pretensões a um dia publicar os meus próprios livros, claro que também o tema me cativou, mas podem confiar em mim quando digo que esta obra não é apenas sobre o mundo dos escritores e dos livros… É bem mais do que isso, é sobre paixão, dor, encanto e desencanto… É sobre humanidade!
Termino com as palavras de João Reis durante uma entre- vista concedida ao Observatório Almedina a propósito do protagonista do livro: “(…) Rodrigo sabe que procede mal em termos de normas sociais ou éticas, mas não evita fazê-lo. Aliás, nem sequer tenta evitá-lo, preferindo, ao invés, entregar-se ao hedonismo ou à pura sobrevivência, usando para isso os meios à sua disposição. É, em suma, a posição de um cínico que já não espera muito da vida”.
Se João Reis escreve “com Pétalas ou Ossos”, é-me indiferente, desde que continue a escrever.
Flávia Barbosa