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VICTOR MENDES: «EM PONTE DE LIMA HÁ MUITA DINÂMICA E QUALIDADE DE VIDA»

Prestes a terminar o seu ciclo enquanto presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, Victor Mendes concedeu uma entrevista à Revista Minha onde aborda vários temas, entre os quais o turismo, o impacto da pandemia, as virtudes e o futuro do concelho.

 

Em traços gerais, como vê, atualmente, o concelho de Ponte de Lima? Vejo um concelho com dinâmica, que continua a montar a sua estratégia em cinco pilares de desenvolvimento: Educação e Valorização Profissional; Apoio ao Desenvolvimento Empresarial e Criação de Emprego; Ação Social; Valorização dos Recursos Endógenos e Parcerias e Cooperação Interinstitucional. Na área da Educação e Valorização Profissional, Ponte de Lima é, seguramente, um dos concelhos onde é feito maior investimento per capita. Somos o concelho do Alto Minho que tem a menor taxa de retenção no Ensino Básico e, ao invés, a maior taxa de conclusão do Ensino Secundário. Para além disso, temos todos os níveis de ensino, desde o Pré-Escolar ao Superior, com oferta pública e privada. Por outro lado, na área do Apoio ao Desenvolvimento Empresarial e Criação de Emprego, tem sido efetuado, nos últimos anos, um trabalho extraordinário do ponto de vista de atratividade para as empresas que acrescentem valor e com inovação tecnológica. Isso permitiu que fosse reduzida, de forma significativa, a taxa de desemprego. Sendo certo que há um outro objetivo que temos de continuar a trabalhar, que passa por fixar os nossos talentos e procurar ter mão de obra qualificada, em termos de oferta e procura para conseguirmos dar respostas adequadas às necessidades das empresas. Temos em Ponte de Lima vários exemplos de referência, principalmente, no cluster automóvel. A questão da Educação associada à Economia é fundamental para projetarmos o futuro. Por seu turno, a Ação Social é também determinante e, por esta razão, o município tem desenvolvido parcerias com as diversas IPSS’s do concelho, através de apoios diretos à construção de novas valências, aumento do número de utentes, aquisição de equipamentos, entre outras ações. À semelhança do que sucede noutros municípios, a Câmara Municipal de Ponte de Lima aprovou recentemente o documento sobre a Estratégia Local de Habitação, instrumento que permitirá investir cerca de 14,3 milhões de euros em 6 anos na promoção de soluções habitacionais para pessoas que vivem em condições residenciais indignas, nomeadamente indivíduos que não dispõem de uma habitação adequada, residindo de forma permanente em situação de precariedade, insalubridade e insegurança, sobrelotação e/ou inadequação. Depois, temos outros projetos importantes de Inclusão Social, Igualdade de Género ou Cidadania. Tem sido feito um trabalho, igualmente, relevante na construção de in- fraestruturas, nomeadamente, equipamentos desportivos, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida da população. Para isso, contamos com uma rede de equipamentos desportivos descentralizada pelas várias freguesias do concelho. Na área da Saúde, tem sido feito também um trabalho fulcral. O exemplo mais recente diz respeito a uma nova infraestrutura de saúde, que será construída num terreno situado na freguesia da Ribeira, e que foi cedido pela autarquia à ULSAM. A área da Valorização dos Recursos Endógenos é também determinante para a nossa imagem e promoção e está interligada ao Património Cultural Construído, Ambiental e Rural, à nossa gastronomia ou ao Enoturismo. Há uma valorização muito forte daquilo que são os nossos produtos locais, através de um conjunto de instrumentos financeiros e iniciativas realizadas na Expolima. Estamos agora a preparar um regulamento de apoio financeiro para os produtores das nossas raças autóctones. Temos ainda uma área de paisagem protegida e um conjunto de projetos de preservação e educação ambiental e temos tido um forte investimento do setor privado em unidades de turismo de referência.

Queremos que Ponte de Lima seja a Capital Internacional da Canoagem

 

Por isso é que Ponte de Lima é tão procurada? Sem dúvida. Ponte de Lima é um destino de eleição. Por tudo o que já referi, mas também devido a uma rede de infraestruturas culturais interessante, associada a uma programação cultural muito dinâmica e diversa. Não posso deixar de enaltecer a nossa rede museológica de excelência, com destaque para o Museu dos Terceiros, Museu de Arte Sacra, Museu do Brinquedo Português, Centro de Interpretação da História Militar, Centro de Interpretação do Território ou o Centro de Interpretação e Promoção do Vinho Verde. E não posso esquecer que na forja está também o futuro Museu da Canoagem Portuguesa que terá um alcance internacional. Depois, exalto o nosso centro histórico, o património construído transversal a todo o concelho, o património paisagístico, os trilhos, as praias fluviais, entre outras mais valias. Ponte de Lima é premiada por diversas vezes como a Vila mais Florida de Portugal pelo conjunto de magníficos jardins e espaços verdes que tem à sua disposição, tendo no Festival Internacional de Jardins, o seu momento mais vincado, recebendo anualmente milhares de visitantes e que nos projeta além fronteiras. Destaco ainda o Caminho Português de Santiago, a forte aposta no Turismo Equestre, o desporto náutico, que assume um papel relevante no conjunto de iniciativas que o Município de Ponte de Lima dinamiza e onde o Clube Náutico de Ponte de Lima executa um papel fundamental na promoção da canoagem, em termos competitivos e em contexto de desporto escolar. Aliás, o desporto escolar é uma das nossas grandes prioridades, para além de possuirmos um conjunto de infraestruturas de referência para a prática de outras atividades, como o BTT ou Trail. Tem sido feito também um forte investimento no Turismo Náutico, com vários eventos internacionais. Queremos que Ponte de Lima seja a Capital Internacional da Canoagem. Não posso esquecer os feitos alcançados pelo Fernando Pimenta, um grande embaixador de Ponte de Lima e de Portugal, e que, hoje, é um dos nossos maiores atletas, que projeta Ponte de Lima pelos quatro cantos do mundo. A gastronomia é, evidentemente, outro grande motivo para visitar Ponte de Lima. É, indiscutivelmente, uma referência a nível nacional, onde sobressai o arroz de sarrabulho. Os nossos vinhos surgem também com muita qualidade e são cada vez mais procurados e muito apreciados. Ponte de Lima é muito visitada também pela própria cultura, pelas tradições, pelas festas e romarias. No fundo, pela sua identidade cultural. É isso que nos diferencia!

Quais são os principais desafios de Ponte de Lima para a próxima década? Será sempre no âmbito da Educação e da Valorização Profissional. Temos de procurar fixar talentos e promover a mão de obra qualificada. Esta é a grande alavanca para o desenvolvimento de qualquer território. Temos muitos exemplos na Europa que demonstram que foi à custa da Educação e da Qualificação dos ativos que foi possível fixar empresas tecnologicamente avançadas. E este tem de ser o nos- so caminho. Outro desafio que temos tem a ver com a questão demográfica. A taxa de natalidade é muito baixa e insustentável e a percentagem de população baixou. Para alterar esta realidade, temos de demonstrar que em Ponte de Lima há qualidade de vida, bons acessos, emprego qualificado e vários benefícios fiscais tanto para as famílias como para as empresas. Por outro lado, a nível nacional tem de existir um conjunto de incentivos que permita aumentar a taxa de natalidade. Não vejo outro caminho, muito sinceramente…

A Educação e a Valorização Profissional são as grandes alavancas para o desenvolvimento de qualquer território. Temos de procurar fixar talentos e promover a mão de obra qualificada. Este tem de ser o nosso caminho.

A constituição do Museu Português da Canoagem é um dos principais desejos de Ponte de Lima. Que papel terá no futuro do concelho? A canoagem portuguesa deve muito ao Clube Náutico de Ponte de Lima e a vários atletas que por ali passaram ao longo dos tempos. O expoente máximo, como já referi, é o Fernando Pimenta, juntamente com o seu treinador Hélio Lucas. De facto, a canoagem tem dado muito ao desporto nacional e, neste momento, não existe um espaço que permita observar os feitos e as conquistas alcançadas ao longo dos tempos. Será um museu dinâmico, interativo, com perfil pedagógico e ambiental. É muito importante para Ponte de Lima, para o Alto Minho, para o Norte e para o país, sendo o único museu português da canoagem. E segundo informações que procurei obter, será o primeiro na Europa. E este projeto vai posicionar a modalidade e Ponte de Lima no panorama internacional.

Apesar de Ponte de Lima ser a vila mais antiga de Portugal, podemos referir que não parou na história e continua a escrever páginas do seu desenvolvimento? Assentamos muito a nossa estratégia na memória. A nossa cultura e história, o orgulho em ser limiano e a autoestima do povo são muito importantes para projetarmos o futuro. É fundamental preservar o nosso património e identidade. O que é genuíno! É isso que faz a diferença e que leva as pessoas a visitar Ponte de Lima. Mas temos aliado todas estas facetas à criativi- dade e à inovação. Porque só desta forma, continuamos a desenvolver o nosso território e as nossas recordações futuras.

Como carateriza o povo limiano? Os limianos têm um orgulho enorme na sua identidade. A alma limiana está bem vincada em cada um de nós e o apego à terra é muito forte. Tem também senso crítico, é participativo, respeitador e sabe receber.

Assentamos muito a nossa estratégia na memória,
na tradição e na nossa identidade. Mas temos aliado todas estas facetas à criatividade e à inovação.

Está a terminar o seu terceiro e último mandato como presidente da Câmara de Ponte de Lima. Que balanço faz destes anos a liderar a autarquia? Faço um balanço positivo. Conseguimos concretizar alguns sonhos, ao longo destes últimos 12 anos, e ficaram, obviamente, certos objetivos por cumprir, mas considero que a avaliação é meritória. Este tem sido o mandato mais difícil, devido à pandemia. Estamos num contexto de dificuldades desde março de 2020, onde fomos obrigados a reorganizar todos os serviços a adaptarmo-nos a situações que nos eram desconhecidas. Tivemos também que arriscar um conjunto de medidas e soluções e tem sido, efetivamente, uma caminhada colossal e árdua. Considero que esta crise foi, provavelmente, a mais profunda, mas, por outro lado, tem sido o mandato onde aprendi mais enquanto autarca e cidadão.

Quais as referências políticas que tem? Ramalho Eanes, Marcelo Rebelo de Sousa, Paulo Portas e Adriano Moreira.

É adepto de Redes Sociais? Não sou um fervoroso adepto de Redes Sociais. Uso-as como ferramenta de comunicação, enquanto presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima. Mas não tenho qualquer perfil pessoal.

Tem hobbies? Como passa o seu tempo livre? Não tenho muito tempo livre, mas gosto muito de agricultura e jardinagem. Sempre que posso, dedico-me a estas duas atividades na minha propriedade. É um bom relaxante. Também gosto muito de ler. É a última coisa que faço antes de adormecer. É essencial, todos os dias! E também gosto muito de praticar desporto, principalmente, caminhadas e partidas de futebol às quartas-feiras.

Este tem sido o mandato mais difícil, devido à pandemia. Foi, provavelmente, a crise mais profunda, mas, por outro lado, tem sido o mandato onde aprendi mais enquanto autarca e cidadão.

E lemas de vida? Seriedade, honestidade e procurar, sempre que possível, combater a demagogia e a hipocrisia. É algo que me atormenta e que, infelizmente, na política se vê muito!

Para terminar, qual seria a palavra que escolheria para o definir? Humanista!

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