A poucas semanas do Natal, ainda não sabemos bem como vamos assinalá-lo. O Natal não deixará de existir, celebraremos sempre o nascimento do Menino Jesus. No entanto, algumas tradições poderão ser suspensas ou reinventadas. Importa não desanimar, não baixar os braços e fazer memória daquelas que não puderem realizar-se. Ainda se lembra do “Rapa Tira Deixa e Põe”? Costuma levantar a mesa depois da Consoada? Em sua casa costumam participar na Missa do Galo? E o Presépio, todos ajudam a fazer? Embarque connosco nesta viagem de tempos e costumes… Feliz Natal!
O presépio e a “Missa do Galo”
Se há tradição que podemos e devemos continuar a manter em nossas casas, é a do Presépio, que tem a sua origem em Gréccio, na Valada de Rieti, em 1223. As grutas do local terão feito lembrar a São Francisco a paisagem de Belém. Quinze dias antes do Natal, Francisco terá chamado João, um homem daquela terra, pedindo-lhe para o ajudar a concretizar o desejo de “representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incómodos que Ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha duma manjedoura, entre o boi e o burro”. Assim nasceu a tradição de representar através de diversas figuras a Natividade. Não precisa de investir muito dinheiro para ter o seu Presépio em casa, pode até fazê-lo em conjunto com os seus filhos, com materiais de todas as espécies, só têm de dar asas à imaginação! Haverá melhor coisa do que ver a família reunida à volta do Presépio? Já a “Missa do galo” acontece todos os anos à meia-noite do dia 24 de dezembro. A missa foi introduzida nas celebrações do Natal pelos católicos no ano 400.
Há várias lendas que podem explicar a origem desta tradição. Uma delas, que alguns apontam ter origem romana, conta que, no dia em que Jesus nasceu, foi a única vez que o galo cantou à meia-noite, antecipando o anúncio do Seu nascimento. Uma outra lenda espanhola afirma que, antes de baterem as doze badaladas da meia- -noite do dia 24 de dezembro, cada lavrador da província de Toledo, em Espanha, matava um galo em memória daquele que cantou quando Pedro negou Jesus. A ave era levada para a Igreja e, depois, doada aos pobres, garantindo-lhes um Natal mais feliz. Chegou até a ser costume, em algumas aldeias espanholas e portuguesas, levar o galo para a Igreja para que este cantasse durante a missa, como prenúncio de boas colheitas. Há ainda uma terceira explicação, que indica que a comunidade cristã de Jerusalém ia em peregrinação a Belém para participar da Missa do Natal na primeira vigília da noite dos judeus, na hora do primeiro canto do galo.
A expressão “Missa do Galo” só existe nos países de língua latina. A denominação correta para esta Cenatal 28 lebração é “Santa Missa de Natal” ou “Celebração do Natal do Senhor”. Lendas e denominações à parte, se este ano não tiver oportunidade de participar na “Missa do Galo”, pode sempre assistir às transmissões através da televisão. A eucaristia presidida pelo Papa costuma ser transmitida todos os anos.
Amigo secreto
O amigo secreto, ou também chamado o amigo invisível, é uma atividade que está presente nas festividades de natal e fim de ano em muitas famílias e amigos. Esta brincadeira tem muitas variações mas o objetivo é sempre criar momentos divertidos e de reunião. Há quem diga que esta tradição surgiu na Grécia antiga, quando se presenteavam pessoas influentes escolhidas aleatoriamente em algumas datas festivas. Outra teoria mais recente aponta que esta atividade surgiu nos Estados Unidos por operários que queriam oferecer prendas aos amigos na festa da empresa do fim de ano e criaram um sorteio para evitar preferências.
Esta brincadeira funciona em grupos, em que cada um tira o nome de outra pessoa do papel a quem tem de dar a prenda. Há também a hipótese de comprar um presente “neutro” que qualquer pessoa do grupo pode receber. Também já é possível, e agora faz ainda mais sentido, fazer o sorteio através de um site em que o grupo coloca os e-mails e recebe posteriormente o nome do escolhido.
O Pai Natal Radical
Há quem opte por celebrar o natal com atividades mais radicais como é o caso, por exemplo, da “Descida do Pai Natal” em Melgaço e a “Remada de Pais Natal” em Esposende. Em Melgaço o “Pai Natal” faz rafting para entregar presentes às crianças que esperam na margem do rio Minho. Esta atividade já se realiza há duas décadas e está inserida na programação de Natal da autarquia de Melgaço. A iniciativa realiza-se apenas quando o caudal do rio Minho permite. São sempre centenas as crianças que se reúnem à espera de doces e guloseimas. A “Descida do Pai Natal” tem um cunho solidário. O valor da inscrição reverte a favor da Associação Humanitária Bombeiros Voluntários de Melgaço.
Em Esposende já é a segunda vez que se realiza a “Remada de Pais Natal”. O desafio é descer o rio numa prancha de paddle entre a Quinta da Barca e a Foz do rio Cávado. Os participantes vestem-se a rigor e no fim entregam sacos cheios de guloseimas às crianças. O responsável pela edição do ano passado, António Silva, em declarações ao Diário do Minho, explicou que é “uma alegria ver a cara dos miúdos” e que querem repetir.
Bananeiro
Tudo quando começou quando Manuel Rio, proprietário da Casa das Bananas, em Braga, começou a oferecer as bananas mais maduras aos seus clientes. A quem bebesse um cálice de moscatel, era oferecida uma banana. A combinação deve ser boa, já que cada vez mais e mais pessoas começaram a aparecer no estabelecimento, pedindo a já famosa iguaria. No Natal, a coisa começou a tomar proporções épicas, com os emigrantes regressados a casa sem faltarem à tradição, acompanhados de comerciantes e lojistas da zona. O convívio começou a alastrar-se até à rua e a véspera da Consoada começou a fazer-se também à porta da Casa das Bananas. É lá que se encontram amigos e conhecidos e se desejam, muitas vezes já de bochechas coradas, os típicos votos de Bom Natal.
Não levantar a mesa depois da consoada
Esta é uma tradição com uma “pitada” de superstição. Os minhotos costumam deixar a comida depois da consoada em cima da mesa para os anjinhos e as alminhas comerem. As famílias cumprem à risca a tradição, caso contrário pode acontecer algo muito mau. Pelo menos essa era a crença antiga. Há ainda quem use a expressão “a mesa da consoada não pode ser levantada” porque o menino Jesus “há de comer”. Em boa verdade, serve sempre de desculpa para petiscar ao longo da noite. Como as celebrações continuam para além do Natal, há mesmo quem mantenha a mesa posta até ao dia de Reis, a 6 de janeiro.
Os Madeiros de Natal
Certamente já viu as grandes fogueiras que são acesas na véspera de Natal. Chamam-se madeiros de Natal ou fogueiras do galo. Estas começam por volta da meia noite, depois da Missa do Galo, e ardem durante toda a noite. Esta tradição pode ser observadas nas cidade do norte e centro de Portugal. Em Braga costuma realizar-se a fogueira de Natal no Largo Carlos Amarante, no dia 21 de dezembro. Esta iniciativa procura recriar a tradição de queimar o trepo. Procura transformar o fogo na ideia de “aquecer o Menino”. A atividade conta ainda com a animação de grupos culturais da região.
Gastronomia variada
Com o Natal chega também a gastronomia da época. Os doces são geralmente o ponto forte das festividades. As rabanadas, os formigos, os mexidos e o bolo rei são algumas das tentações que se podem provar. Os mexidos são um doce minhoto e transmontano, com origem romana. Este era um doce das famílias mais humildes que conseguiam guardar pão duro, mel, ovos e casca de limão. As famílias com mais posses podiam adicionar aos mexidos frutos secos e vinho do Porto.
Diz a lenda que a origem do Bolo Rei se relaciona com os três reis magos. Diz-se que este doce simboliza os presentes que os reis magos levaram até ao Menino Jesus: o ouro, a mirra e o incenso. De acordo com a simbologia, a massa do bolo simboliza o ouro, as frutas cristalizadas e secas representam a mirra e o aroma assinala o incenso.
As rabanadas também serviam como reaproveitamento do pão seco. A origem deste doce é incerta, mas tudo aponta que seja francesa. As rabanadas têm várias variações segundo cada família. Também francês é o tronco de Natal. Nasceu em Paris no final do século XIX, nos fornos do historiador e confeiteiro Pierre Lacan. Este doce assemelha-se à madeira e imita o tronco de uma árvore. Outra sobremesa muito apreciada, principalmente no Norte do país, é a aletria. Esta consiste num prato de massa normalmente cozida em leite com açúcar, casca de limão e canela. Há quem use a criatividade para desenhar motivos natalícios por cima deste doce.
Canhoto de Natal e Rapa Tira Deixa e Põe
Existe a tradição de, enquanto o “canhoto de Natal” ardia durante a noite de Natal, se brincar ao “rapa- -tira-deixa e põe”. Trata-se de um jogo de piões em que é necessário um pião de madeira com quatro faces, um piorra (um pião muito pequeno) e feijões. Este jogo fazia com que muitas crianças se sentissem milionárias com um punhado de feijões. já quem escolhia o madeiro de carvalho já para larareira eram o pai e o filho mais velho. Os antigos diziam que o fumo e as cinzas do “canhoto” tinham uma utilidade miraculosa de afastar as trovoadas, como se de um pára-raios caseiro se tratasse. Tinha também propriedades terapêuticas aplicadas em certas doenças.