Freguesia do mês

LOMAR E ARCOS

Com cerca de nove mil habitantes, a União de Freguesias de Lomar e Arcos faz fronteira com Nogueira, S.Lázaro, Maximinos, Esporões, Figueiredo e Celeirós. E se Lomar é, em grande parte, uma freguesia urbana devido ao crescimento que tem tido nas últimas décadas e à proximidade com o centro de Braga, a de Arcos é predominantemente rural.
S. Pedro (Lomar) e S. Paio (Arcos), que se celebram e homenageiam nos dias 28 e 29 de junho, respetivamente, são os seus padroeiros. Unidas desde 2013, têm como pontos de interesse a igreja matriz de Lomar (datada do século XII), a Igreja Nova, a Ponte Velha, a Casa das Bouças (que ostenta um brasão setecentista) e os moinhos e a Casa da Viscondessa Gramosa. Estes são alguns dos pontos de interesse que podem ser visitados ao longo dos seus 4 km2 de área. Mas há mais para descobrir.

Por entre o vasto leque de associações, destaque para o Grupo Folclórico da Casa de Lomar, os Escuteiros de S. Pedro de Lomar – Agrupamento 671 (criado em 1945) e o Grupo Coral de Arcos S. Paio. A nível desportivo, congrega o Lomarense Futebol Clube e o S. Paio d’Arcos Futebol Clube, fundados em 1958 e 1975, respetivamente.

Presidente da Junta de Freguesia de Lomar há 24 anos, concretamente desde 1997, e mais recentemente desde a de Arcos devido à junção dos dois territórios, Manuel Dias iniciou a sua carreira política logo após a Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974. Tal como explicou em entrevista à revista Minha, chegou a lutar contra a ditadura instituída por António de Oliveira Salazar, as- sociando-se a um «grupo de clandestinos». Quis o destino que, após o término da ditadura que vigorava em Portugal integrasse a Junta de Lomar ocupando o cargo de secretário.

Na altura ajudou ainda a legalizar o Partido Popular Democrático (PPD) de Sá Carneiro, com sede na Rua do Castelo, em Braga, tendo inclusive integrado a sua equipa de segurança.
Conta que perdeu «algumas noites» a tentar «arranjar assinaturas» porque «as primeiras foram mal» para Lisboa. Fazendo uma retrospetiva, Manuel Dias lembra ainda o tempo em que esteve à frente nas manifestações dos católicos em Braga.
Ao longo da sua vida, foi conciliando o trabalho em escolas de condução com a vida política, tendo ainda sido membro do Grupo Coral de Lomar e presidente do Lomarense Ginásio Clube.
Na sua visão política, defende que «deve-se prometer e, depois, fazer», caso contrário «as pessoas começam a não acreditar em ninguém». «Mesmo assim quase 50% não acredita e não sei se não terão razão porque prometem-se coisas impossíveis», disse, lamentando, por vezes, não conseguir chegar «ao que é prioritário e social».

Sobre o futuro, não antevê um cenário “cor de rosa” nem tão pouco carregado de ilusões. O que mais o inquieta são as desigualdades existentes e que «são cada vez maiores» porque «o povo vai-se iludindo e, quando reparar, vai ser tarde demais». «Os jovens de hoje não ganham o suficiente para terem uma habitação digna e se não são os pais a ajudar… Fizeram uma lei segundo a qual todos têm direito a uma habitação, mas onde é que ela está? Nunca vi tanta gente a pedir tanta coisa…», lamentou, receando que «a maçonaria tome conta disto tudo».

 

Igreja Matriz «no mínimo» com tantos anos como a Sé de Braga

Convidado a destacar os pontos de interesse da União de Freguesias, o presidente não hesitou em referir a antiga Igreja Matriz de Lomar que terá «no mínimo», tantos anos como a Sé de Braga. O monumento remonta ao século XII, conservando traços de arquitetura românica e arcos do que, em tempos, terá sido um claustro de um antigo convento beneditino. Possui ainda elementos arquitetónicos dos séculos IX e XII. A sua torre sineira, construída no século XVIII, assume particular relevância, ostentando quatro sinos datados de 1803, 1815, 1861 e 1901. Segundo explicou Manuel Dias e, de acordo com registos da Câmara Municipal de Braga, antes da sua construção terá existido no mesmo local uma capela datada do século VI que foi ampliada, transformando-se na Igreja Matriz.

Dado o avançar da idade, este monumento necessita de ser recuperado, garantindo a sua conservação. São obras que o autarca pretende ver executadas logo que possível, mas a dificuldade prende-se com o facto de se tratar de um monumento nacional e não municipal.

 

Festas de S. Pedro de Lomar são as maiores da freguesia

A União de Freguesias tem como datas festivas o 28 de junho (S. Paio) e 29 de junho (S. Pedro), sendo estas últimas as que assumem principal destaque, atraindo milhares de pessoas que prestam devoção ao santo popular. Ano após ano, e em particular depois da criação de uma Comissão de Festas, este evento tem vindo a crescer. À vertente religiosa, com realce para a solene procissão e sermão, junta-se a lúdica, com espetáculos musicais e fogo de artifício. Diz quem por lá passa que é uma grande animação, alternada por momentos de uma enorme demonstração de fé. Contudo, este ano, e à semelhança do anterior, o programa será bastante contido, de modo a evitar a propagação da pandemia de covid-19.

Segundo explicou o vice-presidente da Comissão de Festas, a decisão final só será tomada no próximo dia 8 de junho, no Conselho Pastoral. Contudo, tudo aponta para que, tal como em 2020, apenas se realize a festa religiosa, com as restrições impostas pela Direção-Geral da Saúde. A dúvida prende-se somente com a data, uma vez que para o domingo seguinte está agendada uma cerimónia de comunhão solene. «Falta saber se fazemos no dia do padroeiro ou nesse domingo a seguir», explicou Manuel Rocha.
De menor expressão, mas ainda assim com igual significado, é a cerimónia realizada no nicho de Santo António, ao qual a população presta devoção.

 

Adro da Igreja é obra que orgulha

Várias obras realizadas ao longo dos anos orgulham Manuel Dias, distribuídas por entre os seus mandatos. Mas há uma que “brilha” no meio das demais, que é a construção do adro da Igreja Nova. «Quem conheceu aquilo antes da obra, eram pedreiras e pinheiros… E depois ficou muito bonito», começou por lembrar.

O autarca destaca ainda a construção da capela mortuária, em 2017, ao lado da igreja, assim como o alargamento do adro que permitiu criar um parque de estacionamento para viaturas.

Uma outra obra de destaque é a construção de uma travessia sob a Rua da Ponte Nova, por onde passa o Rio Este, e que veio substituir uma outra já antiga, bastante estreita, com apenas dois metros de largura, construída em tempos onde apenas circulavam pessoas e carros puxados a bois. Uma ponte que, dada a sua estrutura, já não respondia às necessidades atuais. Essa ponte antiga mantém-se intacta, o que orgulha o presidente, que lamenta que o mesmo não tenha acontecido na Ponte Pedrinha, em que foi destruída a travessia antiga.

De resto, para além de dar resposta à resolução dos pequenos problemas, que diz serem da sua «obrigação», a sua equipa focou-se em projetos que visam dar sustentabilidade ao futuro da União de Freguesias. Concretamente em Lomar, foi melhorada a rede viária, destacando-se aqui as requalificações da Rua do Assento, da Rua da Senhora dos Milagres, da Travessa do Monte, da Rua e Travessa de Laboriz, da Travessa da Ponte Pedrinha e do Largo 12 de Dezembro. Também a sede da União de Freguesias, em Lomar, foi alvo de uma ampliação para uma maior polivalência de serviços e atividades.

A melhoria dos serviços ao nível dos transportes públicos também foi uma marca deste Executivo, que conseguiu que fosse uma realidade um circuito dos TUB que permite a ligação da rua Magalhães Lima, em Lomar, ao centro da cidade, para maior comodidade da população.

 

Desviar trânsito da EN309 é prioridade

Falando do futuro, Manuel Dias não esconde uma das suas maiores preocupações, que é o elevado tráfego existente na Estrada Nacional (EN) 309, via que serve de passagem para diversas freguesias. «Vai haver no futuro uma necessidade enorme de tirar o trânsito dali. Isto não é uma avenida, é uma estrada nacional muito estreita. Mas há muita dificuldade em fazer obras porque a responsabilidade é das Infraestruturas de Portugal e Lisboa não olha muito bem para estas zonas. Mesmo que as Juntas ou a Câmara Municipal peçam é sempre muito difícil. Já para fazer um bocado de passeios foi terrível. Estamos a 400 quilómetros de distância…», lamentou.

Segundo Manuel Dias, a intervenção terá de abarcar a ligação da Bosch à Rua do Souto Naval, que faz ligação à EN309 que, por sua vez, faz ligação a S. Paio d’Arcos e à rotunda da autoestrada. «Ali vamos ter de abrir uma rua mais larga que dê ligação à rotunda de S. Paio d’Arcos e que tire o trânsito à EN309 que é muito estreita. E depois temos uma ponte muito apertada na Ponte Nova em que não cruza um carro por outro. Até já levamos esse assunto à Assembleia da República, mas não valeu de nada. A única solução que vejo é abrir um acesso antes dessa ponte estreita para S. Paio d’Arcos pela autoestrada quem vem da zona de S. Vicente de Penso, Figueiredo e Escudeiros porque assim já não têm de passar por lá porque têm o nó de ligação à beira dos Padeirinhos», disse.

Para além desta obra, o problema do tráfego na EN309 deverá também passar por uma intervenção na Rua 25 de Abril até junto do parque da Bosch. «A última rotunda é para ter ligação para fazer uma estrada para ligar também à autoestrada», explicou. «Temos muitos trabalhadores que passam pela EN309 e isso não é seguro para as pessoas», vincou.

A Rua dos Presidentes é outra via que «necessita de ser toda retificada», necessitando de nova iluminação, substituição de postes e construção de passeios. Há inclusive uma parte da rua em que, devido a um estreitamento, as viaturas não se cruzam, sendo necessário alargá-la. Uma intervenção que o presidente acredita que irá arrancar ainda este ano, depois de estabelecido um acordo com os herdeiros das casas aí edificadas e que terão de ser demolidas.
Também a Rua do Monte da Força à Rua da República, em Lomar, necessita de obras de alargamento, criando-se assim melhores acessos.

Centro de Dia em Lomar
será uma realidade em breve

O desejo já é antigo e, em breve, deverá ser concretizado. Falamos da construção de um Centro de Dia num terreno contíguo ao edifício da Junta de Lomar. O mesmo foi em tempos dado à União de Freguesias que, por seu turno, já o doou ao Centro Cultural e Social de S. Pedro para que o projeto ali seja concretizado.
Segundo Manuel Dias, o projeto já está elaborado e, neste momento, apenas se aguarda por um documento da parte da Segurança Social, assim como algum dinheiro para que a obra avance.

Apesar de «muita burocracia», o responsável não duvida que o Centro de Dia vai ser construído para melhor servir a população mais idosa. «Não queria morrer sem ver isso porque lutei muito por ele e faz muita falta à freguesia», disse.
Recorde-se que o Centro Cultural e Social de S. Pedro de Lomar é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, sem fins lucrativos, que entrou em funcionamento no ano letivo 2003/2004 com o objetivo de apoiar crianças, jovens e idosos e a dinamizar atividades culturais, recreativas e desportivas.

Pedidos de ajuda aumentaram com a pandemia

Tal como na generalidade do país, também na União de Freguesias de Lomar e Arcos a crise aumentou e isso reflete-se nos pedidos de ajuda, que têm aumentado. De acordo com Manuel Dias, esta é uma situação que não tem sido devidamente acompanhada pelos governantes, faltando apoio social a quem é muito pobre. «Estão abandonados e vêm aqui bater à porta», disse, sublinhando que, nos casos mais urgentes, a União de Freguesias tem vindo a fornecer uma refeição por dia, de segunda a sexta-feira. Mas alguns casos não são sinalizados a tempo e, quando detetados, é tarde demais. «No outro dia tivemos um caso de uma pessoa que morreu muito provavelmente de fome. Quando me alertaram para a sua situação eu falei, mas já era tarde», lamentou.

Txt: Rita Cunha       Pic: Rita Cunha e Vasco Alves

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