Lembro-me bem. Logo no meu primeiro contacto com os Toastmasters, pediram-me que falasse sobre o que era, para mim, discutir. Infelizmente, não foi difícil falar sobre este tema. De imediato, recordei uma relação “amorosa” passada. Por que motivo os termos “amor” ou “amoroso” parecem estar completamente deturpados e misturados com lágrimas, ofensas, palavras frias, gritos, desespero e medo? Pergunto-vos: será que o amor pode incluir tudo isto? Será que, se incluir tudo isto, é amor?
Acho urgente darmos a volta à forma como educamos as nossas crianças, ao que elas ouvem e veem, à forma como fomos ensinados a pensar, àquilo que está tão enraizado no inconsciente que nem questionamos, à forma como vemos as relações e, em última instância, a nós próprios. Dei por mim a pensar onde ou quando assimilei que o amor poderia conter estes ingredientes desastrosos. Simples: nas novelas.
Foi nas novelas que vi que os casais discutiam, gritando um com o outro. Foi nas novelas que comecei a absorver que era normal acusar e injuriar o nosso parceiro. Foi nas novelas que banalizei um empurrão, um estalo ou um aperto no braço. Acho perigoso retratarem a vida e as relações deste modo. Assusta-me o impacto que possa causar nas crianças e adolescentes. Assusta-me o que irão repetir. Assusta-me o que irão permitir. Foram precisos alguns anos de distanciamento para concluir que discutir não são conversas redundantes e desgastantes, não é gritar, não é insultar, nem fazer uso da força física. Sejamos nós do sexo feminino ou masculino. Seja qual for o tipo de relação. Para mim, hoje, discutir é ponderar sobre o que vamos dizer, medir as palavras, manter o tom de voz, dar a opinião, tentar entender, ouvir, sugerir, pedir. Não é desrespeitar ou magoar a outra pessoa, não é fazer acusações, nem ameaçar. É também saber o momento de falar, de escutar e… de parar.
Não vamos aceitar que as discussões são como vos descrevi no início, só porque achamos que toda a gente discute assim, que é normal, que é a vida. Não! Se fosse para ser normal desta forma, andaríamos todos felizes. É o que lhe parece que acontece? Pense no trabalho e no trânsito. Dois bons barómetros (e reflexos) daquilo que se passa em casa das pessoas. Se fosse normal e benéfico discutir assim, julga que andaría-mos tão irritados e melindrados? Não banalizemos o que não é normal. Vamos pensar pela nossa cabeça (eu adoro dizer esta frase!). Vamos fazer diferente daquilo que vemos fazer. Por nós, e pelas gerações futuras. Uma dica que costuma resultar comigo em situações de maior nervosismo: ajuda olhar nos olhos da pessoa que está à nossa frente e lembrarmo-nos do quanto gostamos dela, APESAR daquele momento desagradável.
Rute Silva,
Estudante e membro do Braga Toastmasters